EQUIPA DA ADF
O Tenente-General Dennis Gyllensporre, da Suécia, comandante da força da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA) assumiu o comando no dia 2 de Outubro de 2018. Gyllensporre falou recentemente à ADF a partir do Mali. Os seus comentários foram editados para se adequarem a este formato.
ADF: Qual era o estado da MINUSMA com relação à eficácia da missão e à segurança dos civis quando o senhor assumiu o papel de comandante das forças?
GYLLENSPORRE: Naquela altura, a missão tinha uma prioridade estratégica vinda do Conselho de Segurança. Tratava-se de apoiar a implementação do acordo de paz no norte. Em simultâneo, vimos uma deterioração da situação de segurança no centro. Por isso, as alterações na situação de segurança no centro constituíram um grave problema para a gestão. Para além disso, depois da revisão estratégica, em 2017, houve uma certa percepção de que nós fomos aquilo que é chamado de “acantonados” — que as forças das Nações Unidas estavam basicamente confinadas nas suas bases de acampamento. Se isso é verdade ou não, outros é que devem avaliar, mas essa era mais ou menos a percepção da força.
ADF: Tendo em conta esta situação, que novos procedimentos, estratégias ou tácticas o senhor instituiu, aquando da sua chegada, para melhorar a eficácia da missão?
GYLLENSPORRE: Aumentamos o tempo operacional e, no primeiro ano, duplicamos os resultados em termos de número de operações, a sua duração e escala.
Estabelecemos um novo sector no centro para assegurar o comando, o controlo e a capacidade de resposta quando se trata de planificar e executar operações na região. O mandato anual foi renovado em Junho de 2019, e, neste ponto de decisão muito importante, o Conselho de Segurança decidiu acrescentar uma outra estratégica prioritária, para apoiar uma solução dirigida pelo Mali para a zona centro, incluindo a protecção de civis.
Enquanto isto era feito, não houve recursos adicionais em termos de forças. Por isso, na essência, tínhamos de trabalhar mais com os mesmos recursos. Então, com as novas prioridades estratégicas, isso coloca um prémio sobre a flexibilidade para sermos capazes de controlar e concentrar forças no tempo e no espaço, quando e onde elas são necessárias e também realça a necessidade de mais inteligência. Na altura, tínhamos recursos limitados de inteligência, então, isso nos deu um bom argumento para conduzir uma adaptação da força; essa adaptação, que é fundamental para o nosso actual mandato, é de certificar que melhoramos a mobilidade e a capacidade de resposta da nossa força. Isso centra-se à volta de três linhas de esforço. A primeira linha de esforço é a protecção, o mandato dado à missão é centrado na população. Por isso, a parte da protecção é fundamental para nós. A protecção da força também continua a ser uma prioridade.
Acrescentamos uma linha de esforço que nós chamamos de “fazer parcerias,” para colocar mais ênfase no apoio às forças de segurança nacionais e às forças de segurança regionais para o fortalecimento de capacidades. Também permite que elas possam ser novamente destacadas e posicionadas para serem capazes de assumir mais responsabilidades para a segurança no terreno.
A terceira linha de esforço é a própria postura, e esta está muito relacionada com a flexibilidade, ser capaz de estar no local certo, no tempo certo, para fazer a diferença.
Dentro desta estrutura também adoptamos ou organizamos uma força-tarefa móvel. A manutenção da paz, na essência, centra-se à volta de ter batalhões de infantaria no seio das comunidades a patrulhar diariamente, melhorar a compreensão situacional e ser capaz de responder.
Estas forças móveis assemelham-se a unidades de brigada, com a mobilidade, a flexibilidade e a agilidade que vêm com a força militar que é concebida para avançar em direcção às ameaças e aos desafios. Então, isso foi criado agora, e estabelecemos uma força-tarefa móvel, com um posto de comando avançado que faz a supervisão destas operações. E ainda é com o mesmo número de tropas; então, fizemos algumas novas priorizações para permitir que isto acontecesse. Devido à COVID-19 e também à insegurança e à instabilidade políticas no país, temos estado a enfrentar alguns outros atrasos em termos de compromissos para as novas capacidades. Mas a trajectória está clara, estamos a avançar em direcção a uma implementação completa deste conceito.
ADF: A MINUSMA tem sido considerada como a missão mais perigosa da ONU e já houve 241 baixas desde que ela começou. O que é que faz com que esta missão seja tão perigosa?
GYLLENSPORRE: A missão opera em ambientes muito difíceis, com uma série de grupos armados ilegais, incluindo grupos terroristas e, mais importante do que isso, penso eu, a MINUSMA e outras forças de manutenção da paz são alvos — alvos directos — de alguns destes grupos.
Para além disso, gostaria de enfatizar os DEIs [Dispositivos Explosivos Improvisados] como um meio para causar baixas. Os DEIs são coisas com que alguns dos países que contribuem estão bem familiarizados a partir de outras operações. Outros países possuem menos experiência e, na verdade, vários países não têm as unidades de combate aos DEIs institucionalizadas nos seus exércitos. Por isso, como consequência, o seu equipamento e a sua formação não foram ajustados às realidades do terreno. Desde que a missão começou, houve alterações em todos os contingentes nacionais em termos de equipamento e formação. Vários países foram de grande importância para que isso acontecesse — os Estados Unidos é um deles — para apoiar a formação de destacamento antecipado, para apoiar no equipamento que levam para o campo quando são destacados para a MINUSMA. Então, isso também possibilitou que limitássemos e reduzíssemos o impacto dos DEIs. No estado em que estamos actualmente, somos capazes de detectar cerca de 50% de DEIs. A taxa de detecção é alta; obviamente que também queremos alcançar níveis mais altos, mas está claro que o que somos capazes de fazer agora salva vidas. Aqueles que não são detectados, com algumas excepções, têm um impacto limitado, na maioria dos casos, porque agora temos boas viaturas para proteger os soldados, por isso, estamos a fazer progressos em relação a este aspecto.
A protecção das forças é um ponto central do nosso trabalho, simplesmente por causa deste ambiente perigoso para os soldados de manutenção da paz. Os dois locais mais perigosos do Mali para os soldados de manutenção da paz são os acampamentos das bases ou as colunas de logística. Estes são os cenários onde há mais probabilidades de sermos atacados. Por isso, realizar operações de segurança não só é benéfico para o alcance dos objectivos do mandato, mas também é uma forma de continuarmos protegidos como uma força.
ADF: O que o senhor fez como comandante da força para tentar proteger os seus homens enquanto lhes oferece as habilidades para saírem das áreas protegidas a fim de fazerem o seu trabalho?
GYLLENSPORRE: Agora estamos a operar de forma proactiva fora dos acampamentos da base, e os ataques contra os acampamentos da base reduziram em escala e números. Então, embora tenhamos ataques ocasionais contra os acampamentos agora, a maior parte deles são tiros indirectos com um baixo nível de precisão.
Entretanto, existe uma excepção. Sofremos um grande ataque no norte, no início deste mês [Abril], com cerca de 100 terroristas a atacarem um pequeno acampamento e vimos também, neste caso, o impacto nas mudanças da postura, e a robustez com que esta força respondeu foi impressionante. Houve perdas significativas do lado dos terroristas. Também capturamos muito armamento pesado e viaturas. Infelizmente, perdemos quatro soldados da força de manutenção da paz. Mas penso que está claro que as forças de manutenção da paz responderam de uma forma que fez com que os terroristas pensem duas vezes sobre a inutilidade de atacar acampamentos da base.
Também tomamos medidas em relação aos radares, detectores e sensores, para certificar que tenhamos uma boa ideia ao sermos atacados. O outro ponto aqui tem a ver com as colunas militares, porque esta é uma outra situação de vulnerabilidade. Muitas vezes, elas incluem cerca de 50 camiões com fornecimento logístico para além da unidade da coluna que supostamente as deve proteger. Por isso, acrescentamos mais apoio para estas colunas militares e agora temos quatro companhias de colunas militares de combate. Mas também as temos apoiado com reconhecimento aéreo, para além das unidades de infantaria adicionais nas regiões com maiores desafios.
ADF: Quando a missão da MINUSMA começou, em 2013, um comandante de sector disse-nos que ele esperava que a logística fosse um pesadelo no Mali, por causa dos centros de comando do sector norte, que são remotos, e das infra-estruturas nacionais, que são pobres. Quando falamos com ele de novo, mais de dois anos depois, ele confirmou que os seus maiores receios se tinham tornado realidade. Tendo isto em mente, em 2021, como é que classifica a habilidade da MINUSMA para fazer o fornecimento eficaz dos postos avançados da missão espalhados pelo país?
GYLLENSPORRE: Apenas posso concordar com a avaliação de que esta é uma parte muito difícil da missão. Os meus predecessores também tinham isso em mente e certificaram-se de que fôssemos capazes de gerar companhias de colunas militares de combate, e eu penso que este é um ideal que é único para a MINUSMA.
Mas mesmo assim, ainda é um desafio, particularmente durante a época chuvosa, porque a rede de estradas é muito vulnerável, e temos a habilidade de trazer os meios logísticos por via aérea.
Uma das coisas que melhoramos são os armazéns regionais de logística para que possamos armazenar mais do que fazíamos antes. Todos os tipos de fornecimentos podem ser armazenados nestes armazéns, por isso, temos armazéns regionais agora que nos dão aquela vantagem que é necessária.
ADF: Como é que classifica a actual interacção da MINUSMA com a população local? Como é que as suas forças estão a trabalham com os civis para melhorar a segurança?
GYLLENSPORRE: O ponto principal que eu enfatizo aos novos contingentes que se juntam a nós e também nas suas ordens é o pensamento de estarmos centrados na população. Estamos aqui pela população e precisamos da sua confiança para fazermos o nosso trabalho. Por isso, investimos muito na interacção com a população. Obviamente que isso é um desafio durante a pandemia, mas agora continuamos com algumas ambições limitadas para interagir com as populações locais.
Uma das fontes de forças que nós temos é a contribuição dos países da região, com tropas. Temos unidades de infantaria dos países vizinhos e regionais, por exemplo, Senegal, Chade, Costa do Marfim, Guiné, Togo, Nigéria, Burkina Faso, e, claro, eles não só falam a língua oficial francesa melhor do que outros, mas também falam as línguas locais. Eles podem identificar-se com a cultura. Então, existe uma conexão ali com a população que temos a possibilidade de aceder que não seria possível se apenas tivéssemos forças provenientes de outras partes do mundo.
Fazemos trabalhos de intervenção comunitária de forma regular com os diferentes projectos e também envolvemos os nossos colegas civis que fazem parte da missão nos projectos comunitários para certificar de que somos vistos como pessoas que estão cientes dos desafios que a população local enfrenta.
Um outro ponto importante digno de mencionar aqui é a interacção com as mulheres. Temos equipas de integração compostas por mulheres, e nós fazemos esforços deliberados agora para capacitar as mulheres e para interagir com elas, mas também para compreender a sua situação e as suas necessidades em termos de melhorias de segurança.
ADF: Para além da missão da MINUSMA, o Mali também faz parte da Operação Barkhane, da França, e da Força Conjunta G5 do Sahel. De que formas e em que medida as suas forças da MINUSMA coordenam e cooperam com estes outros esforços de segurança regionais?
GYLLENSPORRE: O Conselho de Segurança das Nações Unidas deu-nos o mandato de conduzir a coordenação com os provedores de segurança, incluindo as forças malianas, e nós comunicamos regularmente o nosso progresso. Ao meu nível, temos o comandante da força que trabalha juntamente com o chefe da defesa, o chefe das forças Barkhane e também das forças do G5 do Sahel e das forças da União Europeia. Durante as nossas reuniões trimestrais, cobrimos as prioridades operacionais e garantimos que tenhamos um entendimento comum. Este é um formato muito importante. Também devo dizer que temos quase sempre uma coordenação contínua com os outros níveis, para certificar que não estejamos em conflito e também possamos evitar incidentes em que nos atacamos entre nós, mas também que encontramos sinergias apesar dos nossos mandatos serem diferentes. Estou muito feliz com a atmosfera muito criativa e boa que existe com as outras forças. É uma inspiração trabalhar neste ambiente com forças de segurança diferentes.
ADF: Qual é que continua a ser o maior desafio, em termos gerais, para o sucesso da missão no Mali?
GYLLENSPORRE: Depois do golpe de Estado, em Agosto do ano passado, existe um governo interino que está no poder até às eleições presidenciais; eles afirmaram que os desafios de segurança são de natureza existencial. E este é obviamente o meu foco. O que estamos a fazer agora é para que as forças de segurança do Mali possam melhorar as suas capacidades e voltarem a ser destacadas para o norte e para a parte central do país de modo a poderem enfrentar esses desafios de uma forma muito melhor do que antes.
Enquanto comandante da força da MINUSMA, a minha maior necessidade é de obter mais aviação militar — mais helicópteros de utilidade militar e mais helicópteros armados para permitir que esta mobilidade e esta flexibilidade possam operar em todas as partes do país de uma forma mais adequada. Isso também nos dará maior flexibilidade para proteger os civis, principalmente durante a época chuvosa.
ADF: Que objectivos gostaria de satisfazer nesta missão antes da sua saída rotativa do cargo de comandante da força, em Outubro de 2021?
GYLLENSPORRE: Uma meta importante para nós agora é fazer com que a força adaptada seja completamente operacional. A capacidade operacional inicial da força adaptada seria um bom alcance antes de sair. É necessário que algumas contribuições de tropas adicionais aconteçam, mas também certificar que sejamos mais flexíveis no nosso emprego destas forças. Espero que este primeiro passo seja alcançado em Agosto e Setembro. Espero que eu possa sair com este marco cumprido e possa transferi-lo para o meu sucessor.
ADF: Existe alguma outra coisa que gostaria de dizer sobre a missão que eu não tenha perguntado?
GYLLENSPORRE: O Conselho de Segurança deu-nos a tarefa de apoiar esta transição, culminando com as eleições no próximo ano. Isso será importante para todas as partes da missão, o lado civil e também o da polícia.
O outro ponto é de reconhecer o bom trabalho que tem sido feito. Para mim, como comandante da força, é impressionante ver 60 países a juntarem-se neste força com oficiais, soldados, oficiais subalternos, de todos os cantos do mundo, de todos os continentes. O compromisso, o profissionalismo e o esforço da equipa multinacional que vejo todos os dias quando as forças de manutenção da paz são destacadas em direcção ao perigo, se calhar, seja o meu principal ganho na altura em que eu sair.
Um Olhar Atento Sobre a MINUSMA
EQUIPA DA ADF
O Conselho de Segurança das Nações Unidas estabeleceu a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA), no dia 25 de Abril de 2013.
O seu mandato inclui apoiar o acordo de paz e reconciliação e ajudar o Mali a estabelecer uma estratégia para a protecção de civis, reduzir a violência intercomunitária e restabelecer a autoridade, a presença e os serviços sociais do governo na região centro do Mali.
No Mali, a instabilidade começou em Janeiro de 2012, quando os Tuaregues se rebelaram e a eles se juntaram os militantes de grupos armados e os desertores do exército maliano da parte norte do país. Homens bem armados, regressados da Líbia, ajudaram a intensificar a rebelião.
Até Março de 2012, os soldados derrotados pelos grupos armados destituíram o governo, e a junta militar assumiu o poder. O golpe de Estado permitiu que os grupos armados tomassem o controlo de Gao, Kidal e Tombuctu e proclamassem um Estado independente. Em pouco tempo, os grupos armados começaram a lutar uns contra os outros na região.
Em Janeiro de 2013, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental destacou a sua Missão Internacional Africana de Apoio ao Mali (AFISMA), sob a aprovação do Conselho de Segurança. As tropas da AFISMA foram oficialmente reequipadas pela MINUSMA, no dia 1 de Julho de 2013.
O actual mandato da MINUSMA vai até Junho de 2021.
PESSOAL DESTACADO ATÉ FEVEREIRO DE 2021
Total do pessoal — 18.349
Tropas — 12.499
Civis — 3.384
Especialistas em missões — 3
Polícias — 1.760
Oficiais do Estado-Maior — 515
Voluntários da ONU — 188
10 PRINCIPAIS PAÍSES QUE CONTRIBUEM COM TROPAS*
(Incluindo tropas, oficiais do Estado-Maior e especialistas em missões)
- Chade — 1.443
- Bangladesh — 1.319
- Burkina Faso — 1.091
- Egipto — 1.084
- Senegal — 1.007
- Togo — 931
- Níger — 875
- Costa do Marfim — 809
- Guiné — 665
- Alemanha — 430
(*Desde o dia 28 de Fevereiro de 2021)
10 PRINCIPAIS CONTRIBUINTES DAS FORÇAS POLICIAIS*
(Incluindo agentes da polícia individuais e unidades policiais formadas)
- Senegal — 336
- Togo — 305
- Bangladesh — 281
- Burkina Faso — 168
- Benin — 162
- Egipto — 162
- Nigéria — 146
- Níger — 47
- Costa do Marfim — 21
- França — 15
(*Desde o dia 28 de Fevereiro de 2021)
BAIXAS: 241*
(*Desde o dia 31 de Março de 2021)