EQUIPA DA ADF
A agência nacional de ciências da Austrália e a Microsoft uniram forças para combater a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN).
A Organização de Ciência e Pesquisa Industrial da Commonwealth (CSIRO, na sigla inglesa) e a empresa de tecnologia estão a combinar a inteligência artificial e a humana, utilizando câmaras robóticas subaquáticas e tecnologias de detecção de sons, conhecidas como hidrofones, para alertar as autoridades sobre actividades marítimas suspeitas na região da Indonésia e da Grande Barreira de Coral.
As câmaras de alta resolução são capazes de captar o tipo e as características da embarcação, por onde ela passou, a direcção em que se dirigia e a velocidade. Os hidrofones são capazes de registar sons do motor da embarcação, dos compressores de ar, dos guinchos e dos explosivos utilizados na pesca explosiva — utilizar dinamite ou outros explosivos para atordoar ou matar peixes — a dezenas de quilómetros de distância.
Um projecto complementar no Chile utiliza a informação recolhida dos locais oficiais de pesca, através de pesquisas detalhadas, para estimar o âmbito e as características da pesca INN.
“A pesca ilegal é o terceiro crime internacional mais lucrativo depois do tráfico de armas e contrabando de drogas,” Chris Wilcox, cientista investigador principal da CSIRO, disse na página da internet da agência. “Afecta cerca de um terço do peixe no mercado e os meios de subsistência de 120 milhões de pessoas no mundo inteiro. Portanto, é um problema de grandes dimensões.”
O uso da inteligência artificial (AI) para o combate à pesca INN é provavelmente a moda do futuro, Ian Ralby,especialista em segurança marítima que já escreveu muito sobre questões relacionadas com as pescas, disse à ADF.
“É uma das poucas formas de juntar e explorar muitas variedades de conjuntos de dados,” disse Ralby, PCA da I.R. Consilium. “É possível ver o que uma embarcação está a fazer e o seu histórico, não apenas o histórico dos seus movimentos, mas quem era o anterior proprietário, quem é o actual proprietário, onde [o] proprietário [está] localizado, quem é o beneficiário efectivo, quem são os operadores, quem eram os anteriores operadores, em que país [estava previamente] registado e qual era o seu anterior nome.”
Tal informação pode ser particularmente útil para os países africanos, que perdem aproximadamente 10 bilhões de dólares anualmente para a pesca INN, de acordo com a Ocean Science Foundation.
O problema é especialmente grave na África Ocidental, onde os países perderam cerca de 2,3 bilhões de dólares anualmente, de acordo com as Nações Unidas. As tácticas da pesca ilegal — tais como arrastar redes grandes pelo fundo do oceano, pescar em zonas proibidas e desligar os sistemas de identificação automática das embarcações para evitar serem detectados — permitiram que as frotas estrangeiras dizimassem as unidades populacionais de peixe da região, danificassem o meio ambiente e privassem os residentes locais de alimentos.
O uso de IA para combater a pesca ilegal ainda não é algo amplamente praticado em África.
Embora a CSIRO se gabe da sua inovação como sendo rentável, Ralby afirma que este não pode ser partilhado com as autoridades dos países desenvolvidos.
“Quando o seu director de pescas está a fazer 60 euros por mês e não existe dinheiro suficiente na agência para adquirir o combustível para chegar até onde existe um porto ou um local de desembarque, este é um nível diferente de rentabilidade,” disse Ralby.
Acrescentou que os países devem ter os mecanismos jurídicos adequados em funcionamento antes de poderem compreender por completo o potencial da IA para o combate à pesca ilegal.
“Muitos países do mundo — e não apenas africanos — não possuem leis probatórias em vigor para tirar vantagem do nível da tecnologia,” disse Ralby. “A velocidade das mudanças legislativas no mundo é muito mais lenta do que muitos desejariam.”