EQUIPA DA ADF
O facto de o Senegal nunca ter tido um golpe de Estado ou uma guerra civil é simultaneamente um motivo de grande orgulho para o seu povo e uma raridade em África.
O país costeiro da África Ocidental, rodeado por aquilo que recentemente passou a ser conhecido como um “cinturão de golpes” de países que se estende por todo o continente, deve grande parte da sua estabilidade ao seu exército.
Tendo trabalhado com oficiais superiores do exército, o activista senegalês, Alioune Tine, diz que as forças armadas do seu país têm uma forte reputação no continente e a nível internacional por serem bem treinadas, disciplinadas e com princípios.
“Há uma cultura democrática e há também um forte empenho em defender essa cultura democrática,” o fundador do grupo de reflexão Afrikajom Center, sediado em Dakar, disse ao site AfricaNews. “Ao mesmo tempo, temos um exército bem treinado. É um exército de intelectuais. É um exército que, na minha opinião, compreende os limites e está consciente disso.”
O Senegal esforça-se por reforçar e manter o profissionalismo militar. As formações anuais centram-se na luta contra o terrorismo, na luta contra o narcotráfico, na segurança marítima, na profissionalização militar e na manutenção da paz.
Sendo um dos maiores contribuintes per capita de tropas em África para missões das Nações Unidas, missões da União Africana e outras entidades de segurança regional, as forças armadas senegalesas provaram estar entre as forças armadas mais eficazes e fiáveis do continente.
O General Talla Niang, actualmente reformado, Vice-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Senegal de 2000 a 2003, afirmou que a clareza da missão e a natureza apolítica das forças armadas foram criadas por desígnio e reforçadas ao longo dos anos.
“A cultura de profissionalismo do exército senegalês vem das suas origens,” disse ao Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS). “Foi criada a partir de soldados que serviram anteriormente no exército francês. “Os primeiros líderes criaram um conceito extremamente importante, o da armée-nation. É um conceito que defende que o papel do exército é servir a nação, o seu desenvolvimento e a sua segurança.”
O General Birame Diop, conselheiro militar do Departamento de Operações de Paz das Nações Unidas e antigo Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas senegalesas, sublinhou a importância da supervisão civil, especialmente no contexto da erosão de tantas nações da África Ocidental.
Disse ao ACSS que é necessário “um bom mecanismo de controlo democrático das forças armadas por parte das autoridades democraticamente eleitas. Para que os soldados aceitem os dirigentes políticos, eles devem acreditar que os seus dirigentes foram eleitos de forma transparente e política.”
O efectivo militar senegalês é composto por cerca de 15.000 militares do Exército, 1.500 da Marinha, 1.500 da Força Aérea, 9.500 da polícia nacional e 11.000 da guarda civil, segundo o ACSS.
“O exército senegalês beneficia da particularidade de as suas tropas reflectirem a composição étnica e regional do país,” disse Diop. “Existe uma chave ou um registo que mostra esta composição. Assim, se dissermos que este grupo étnico representa 2% da população, encontraremos esses 2% no exército. O exército senegalês é, portanto, como um microcosmo do próprio Senegal.”
O actual Chefe do Estado-Maior General do Senegal, General Mbaye Cissé, sublinhou a importância do ensino militar profissional (EMP) para o ensino do profissionalismo.
“Sem o EMP, não haverá estabilidade,” disse durante um diálogo do ACSS em 2022 sobre profissionalismo militar e academias do EMP. “Um exército que não investe na educação e na ética em relação à população paga um preço em termos de segurança.”
Cissé acredita que outras forças armadas do continente fariam bem em seguir o exemplo do Senegal.
“Temos muitas academias do EMP em África, mas temos de repensar o conteúdo que estão a ensinar,” afirmou. “Neste sentido, os institutos do EMP não são suficientes.
“Precisamos de forças armadas africanas para servir o público. Queremos que as forças armadas africanas sejam autónomas, responsáveis e respeitadoras dos valores democráticos. Se não o forem, estaremos sempre a começar de novo e não teremos estabilidade.”