EQUIPA DA ADF
Cânticos e danças alegres marcaram uma cerimónia realizada a 23 de Junho em Maputo para celebrar o fim de uma era negra na história de Moçambique. Os dançarinos trocaram simbolicamente os adereços de madeira, substituindo as espingardas de assalto por pás e enxadas.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, e Ossufo Momade, líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), irradiaram orgulho durante um encontro que reconheceu a transição do grupo rebelde para um partido político.
“Com este processo, o país ganhou credibilidade como um exemplo de como liderar processos de paz,” disse Nyusi.
Numa outra cerimónia, oito dias antes, os dois homens sorriram amplamente e abraçaram-se em Vanduzi, na última base da RENAMO, com as pitorescas montanhas da Gorongosa como pano de fundo.
Momade entregou a Nyusi uma AK-47 que ele disse ser a última arma da RENAMO. A cerimónia marcou o desmantelamento e o encerramento da última das 16 bases militares da RENAMO.
Também durante a cerimónia de 15 de Junho, 347 soldados da RENAMO juntaram-se a um processo de desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) que abrangeu um total de 5.221 antigos combatentes da RENAMO desde 2019.
Nyusi dirigiu-se directamente aos homens da RENAMO, manifestando a esperança de que o encerramento da base ponha termo à violência relacionada com divergências políticas e a um capítulo sangrento de ataques armados nas províncias do centro de Moçambique.
Na sequência da independência de Moçambique, a RENAMO surgiu, em 1977, como um grupo militante anticomunista que se opunha à Frente de Libertação de Moçambique, conhecida como FRELIMO, e às suas tentativas de estabelecer um Estado de partido único.
Os dois lados lutaram na Guerra Civil Moçambicana, de 1977 a 1992, quando um acordo de paz levou ao desarmamento da RENAMO e à integração de alguns dos seus combatentes no exército moçambicano.
Porém, as tensões reacenderam-se em 2013 com a campanha de guerrilha de um grupo dissidente da RENAMO. Segundo as Nações Unidas, cerca de 12.000 moçambicanos fugiram do país devido à insurgência nos primeiros três anos de luta.
No dia 1 de Agosto de 2019, Nyusi e Momade assinaram um acordo de paz que pôs fim a seis anos de combates.
Visto que o processo de desarmamento e desmobilização está concluído, Nyusi disse, a 23 de Junho, que o passo seguinte é a reintegração dos antigos rebeldes na sociedade moçambicana.
“Sabemos que ainda temos um longo caminho pela frente,” afirmou. “A reintegração e a reconciliação exigirão a contribuição de todos. Nós, moçambicanos, devemos trilhar este caminho. A paz não é um produto acabado; é um processo contínuo.”
O processo de paz bem-sucedido de Moçambique mereceu um coro internacional de aplausos.
“O mundo está em crise,” afirmou Cristina Duarte, conselheira especial para África, do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, durante a cerimónia de 23 de Junho. “Perante este cenário sombrio, o diálogo político para a paz em Moçambique tornou-se um raio de esperança.
“Moçambique demonstrou que os conflitos podem ser resolvidos pacificamente, através de um diálogo honesto, aberto e politicamente inclusivo.”
O Presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, emitiu um comunicado, dizendo que o encerramento final da base da RENAMO era uma “contribuição tremenda para silenciar as armas em África.”
Mirko Manzoni, enviado pessoal de Guterres a Moçambique, elogiou o processo de DDR de Moçambique pela sua “abordagem centrada no ser humano.”
“O mundo precisa que os líderes africanos demonstrem como a paz pode ser forjada e como pode ser promovida,” afirmou a 23 de Junho. “Moçambique demonstrou ser um líder, e estou confiante de que o país continuará a sê-lo, inspirando outros a fazer o mesmo.”