EQUIPA DA ADF
O Sahel e a África Ocidental têm visto a sua quota-parte de multidões a agitar bandeiras russas, a entoar cânticos e a segurar cartazes com sentimentos pró-russos e antifranceses.
Quando algumas dezenas de jovens realizaram uma “manifestação pela liberdade” no parque da comunidade de Diabene, em Takoradi, no Gana, a 13 de Agosto, rapidamente ficou claro que a reunião tinha sido coordenada para aumentar a visibilidade do Grupo Wagner, um grupo mercenário russo.
As autoridades ganesas detiveram cinco pessoas e acusaram-nas de “planear o derrube do governo e desestabilizar a paz.”
Entre eles estava Michael Asiedu, um bloguista de 25 anos com 1.500 seguidores, o qual publica conteúdos pró-russos no Facebook. Falou sobre os planos para o comício em vários episódios de um podcast.
“Haverá muitos golpes de Estado,” disse Asiedu durante o podcast de 29 de Julho. “Estamos a planear. Espero que os líderes militares estejam a planear algo melhor.”
O jornalista ganês, Rabiu Alhassan, director do FactSpace West Africa, identificou o propagandista australiano pró-Rússia, Simeon Boikov, como o anfitrião do podcast e o administrador de alguns dos canais do Telegram que planearam e promoveram a manifestação de Takoradi.
“Ele foi a figura ouvida na organização e preparação dos ganeses que lideraram o protesto,” disse Alhassan à revista The Africa Report. “Os ganeses apareceram em programas de rádio online e em espaços do X para partilhar narrativas que [Boikov] queria que eles apresentassem durante o protesto.”
Boikov terá angariado dinheiro para pagar camisetas e bandeiras russas para o protesto.
A deputada Ramatu Ibrahim, que representa Diabene, ficou chocada com o incidente.
“A polícia disse que, após a detenção e o interrogatório, os rapazes disseram que estavam a fazer uma manifestação pela liberdade e que estavam a treinar como travar uma guerra contra o governo,” disse ao site ganês Citinewsroom.com. “Foi-lhes prometido algum dinheiro se a sua acção planeada fosse bem-sucedida.”
A embaixada russa emitiu um comunicado no dia 20 de Setembro, negando qualquer envolvimento.
Um estudo de 2022, realizado por uma organização chamada Russian Election Monitor, mostrou como o Kremlin fabrica um “pseudoapoio público artificial” para facilitar, apoiar e justificar os seus objectivos de política externa.
“Esta imitação de actividades públicas genuínas foi há muito designada por ‘AstroTurfing’, o que implica a natureza artificial desta substituição de verdadeiras iniciativas de base,” afirma o relatório.
Os objectivos bem documentados da Rússia em África são a desestabilização das democracias, o apoio a regimes autoritários, a venda de armas e a exploração de recursos naturais com fins lucrativos.
Foram utilizadas estratégias semelhantes na República Centro-Africana, na Líbia, no Mali e no Sudão, onde a história atroz de violações de direitos humanos do Grupo Wagner está bem documentada.
O comício no Gana expôs algumas das primeiras maquinações do plano da Rússia em África, que, em última análise, visa o destacamento de mercenários e a criação de empresas fantasmas.
“O que eles fizeram é um exemplo de uma campanha de propaganda deliberada,” Mutaru Mumuni Muqthar, do Centro de Combate ao Extremismo da África Ocidental, disse ao The Africa Report.
Ele disse que a Rússia e a China conduzem regularmente uma guerra de informação na África Ocidental, “particularmente os russos, cuja propaganda generalizada e notícias falsas são significativas no continente.”
“[Mas] é estranho que isto aconteça no Gana, um país conhecido pela estabilidade, pela democracia e que não tem qualquer semelhança com o que está a acontecer nos outros países da África Ocidental.”
Muqthar e Alhassan concordaram que este episódio reforça a necessidade de as agências de segurança do Gana dedicarem mais recursos ao combate à desinformação.
“Será um apelo às agências de segurança para que estejam bem equipadas para patrulhar o espaço online, incluindo a dark web, para cortar o mal pela raiz,” disse Alhassan.