EQUIPA DA ADF
Pressionados pelas campanhas antimilitantes na Nigéria, os combatentes do Boko Haram intensificaram os seus ataques na região do Extremo Norte dos Camarões, utilizando dispositivos explosivos improvisados (DEI). Os ataques visam veículos militares, mas também põem em risco os civis.
Desde o início do ano, os terroristas do Boko Haram lançaram ataques contra dezenas de comunidades no Extremo Norte, utilizando DEI e ataques directos. Os militantes queimaram aldeias e saquearam as casas dos residentes. Mais de 4.000 pessoas fugiram.
O Extremo Norte faz parte da região do Lago Chade, que registou um aumento da violência terrorista nos últimos meses. Grande parte dessa violência tem origem no Estado de Borno, no nordeste da Nigéria, que é o berço do Boko Haram.
À medida que as forças armadas nigerianas e a Força-Tarefa Conjunta Multinacional aumentam a pressão sobre o Boko Haram, através de missões de combate ao terrorismo bem-sucedidas, o Boko Haram desloca-se, através da fronteira porosa, para as regiões vizinhas dos Camarões.
As autoridades registaram ataques nas regiões de Mayo-Tsanag, Mayo-Sava e Logone-et-Chari, do Extremo Norte.
A mudança pôs fim a uma pausa de dois anos durante os quais o Extremo Norte não sofreu ataques de DEI. Até este ano, o último grande atentado bombista no Extremo Norte foi registado em Janeiro de 2021, em Mozogo.
Os especialistas acreditam que o Estado de Borno continua a ser a fonte das explosões de DEI nos Camarões. Alguns dos DEI detonados no Extremo Norte podem ter tido como objectivo perturbar as eleições na Nigéria, mas foram reutilizados graças ao reforço da segurança nigeriana.
O Batalhão de Intervenção Rápida (BIR) dos Camarões reagiu a novos ataques contra civis, apesar de os militantes terem encontrado formas de escapar ao BIR e atacar comunidades desprotegidas.
Em Março deste ano, um veículo do BIR accionou um DEI em Amchidé, matando um soldado e ferindo outros seis.
O BIR informou ter interrompido planos para plantar mais DEI nas comunidades. Também libertou quase duas dezenas de reféns das mãos do Boko Haram.
Os residentes da região de Logone-et-Chari, no norte dos Camarões, sofreram o peso dos recentes ataques com DEI depois de os líderes militares terem retirado duas unidades que estavam a proteger a região.
“Desde que estes postos foram retirados, os ataques multiplicaram-se na zona,” um residente, de nome Herale Assa, disse ao HumAngle. “Outras aldeias vizinhas deslocaram-se para a sede de Logone-et-Chari devido a estes ataques. Todos eles perderam os seus bens, pelo que são obrigados a mudar-se.”
Os líderes locais do Extremo Norte apelam os residentes e o pessoal de segurança a estarem em alerta para potenciais terroristas. No entanto, são necessárias acções mais concretas, segundo o analista Célestin Delanga.
Os Camarões têm pouca experiência com minas e desminagem, o que torna crucial que as autoridades trabalhem com os seus vizinhos da Nigéria para identificar e defender-se de potenciais DEI, escreveu Delanga recentemente para o Instituto de Estudos de Segurança.
“As operações de informação e de varrimento devem ser intensificadas e mantidas para dissuadir os bombistas e os seus cúmplices e para enfraquecer a cadeia de abastecimento das matérias-primas utilizadas no fabrico de bombas,” escreveu Delanga. “A luta contra os DEI deve ser uma parte essencial da estratégia mais vasta de prevenção e combate ao extremismo violento.”