EQUIPA DA ADF
A contínua guerra da Rússia com a Ucrânia fez com que os preços de cereais e fertilizantes disparassem em toda a África. Cerca de 40% do trigo consumido no continente provém dos países que se encontram em guerra, causando níveis sem precedentes de insegurança alimentar e aumentando o risco de fome.
O Presidente da União Africana (UA) e Presidente do Senegal, Macky Sall, confrontou Putin sobre a crise durante uma reunião presencial na Rússia, no dia 3 de Junho.
“Vim visitá-lo para pedir que esteja ciente de que os nossos países, mesmo distantes do teatro (de guerra), são as vítimas desta crise económica,” disse Sall a Putin, de acordo com uma reportagem da Reuters.
Sall disse que a falta de fertilizantes era o maior problema, uma vez que os agricultores precisam deles para produzir alimentos.
“A situação dos [fertilizantes] já era difícil e agora fica ainda mais difícil e isso tem consequências para a segurança alimentar em África,” disse Sall, de acordo com uma reportagem da página da internet, RepublicWorld. com.
Muitos dos portos da Ucrânia no Mar Negro foram bloqueados para exportações desde a invasão russa em Fevereiro. A marinha da Rússia controla o acesso aos portos ucranianos.Sall disse que Putin prometeu aliviar a situação da exportação de cereais e de fertilizantes, mas o líder russo não deu detalhes, de acordo com a Reuters.
Amin Awad, o coordenador das Nações Unidas para a crise da Ucrânia, disse que a organização está a trabalhar para garantir que a saída dos cereais bloqueados nos portos do Mar Negro daquele país seja autorizada.
“As negociações estão a decorrer,” disse Awad numa reportagem da ReliefWeb. “Existem muitos pormenores e deslocações entre Moscovo e outros países que têm preocupações e as negociações continuam. Mas não existe uma solução emergente explícita neste momento, porque é um quadro de quebra-cabeças que eles têm de movimentar juntos.”
Mais de 80 Milhões de Pessoas em Sofrimento
Mike Danford, director do Programa Mundial de Alimentação, disse à BBC que mais de 80 milhões de pessoas se encontravam em situação de insegurança alimentar aguda ou de fome aguda em África, tendo aumentado de cerca de 50 milhões de pessoas na mesma altura do ano passado.
O Chade foi particularmente atingido. O governo transicional daquele país cercado de terra declarou uma emergência alimentar e nutricional no início de Junho. Cerca de um terço da população precisa de ajuda alimentar, de acordo com a ONU, e o país pediu a ajuda da comunidade internacional.
Anne Non-Assoum, que vive com o seu marido em N’Djamena, a capital do Chade, estava insatisfeita com o aumento da conta de produtos alimentares da família.
“Olha para o que comprei: Aqui está a carne por 1.500 francos CFA (2,45 dólares), arroz por 1.000 e temperos por 600 — isso é mais do que 3.000 francos CFA (4,90 dólares) apenas para o almoço de quatro pessoas,” Non-Assoum disse à Deutsche Welle, acrescentando que a mesma aquisição normalmente custaria cerca de 2.000 francos CFA (3,27 dólares).
Antes da invasão da Rússia à Ucrânia, países como Angola, Camarões, Quénia e Nigéria já estavam a lutar contra o aumento dos preços dos produtos alimentares devido às condições extremas do clima e da temperatura e por causa da pandemia da COVID-19.
“A guerra na Ucrânia fez com que mais pessoas em toda a África passassem fome,” Lena Simet, investigadora sénior em matérias de pobreza e desigualdades na Human Rights Watch, disse na página da internet da organização. “Os governos deviam fazer tudo o que estiver ao seu alcance para mitigar o impacto do aumento dos preços dos produtos alimentares e evitar uma crise de fome. Expandir a produção social e assegurar o fornecimento de produtos alimentares acessíveis é de extrema importância para proteger o direito à comida para todos.”