EQUIPA DA ADF
As autoridades de saúde pública afirmam que a resposta do Ruanda ao recente surto do vírus de Marburgo demonstra as vantagens da preparação e da resposta rápida.
O surto do Ruanda, que começou em finais de Setembro, é o mais recente surto do vírus, depois de episódios ocorridos no ano passado na Guiné Equatorial e na Tanzânia, que mataram 17 pessoas.
A primeira epidemia do vírus de Marburgo no Ruanda deixou mais de 60 pessoas infectadas e 15 mortas em 30 distritos do país. No entanto, o Ruanda conta com um dos sistemas de saúde mais fortes de África e os funcionários da saúde pública têm vindo a planear um evento viral do tipo de Marburgo desde 2018. Ao mesmo tempo, o Ruanda está a beneficiar do desenvolvimento em curso de múltiplas vacinas com potencial para tratar as infecções de Marburgo.
“O Ruanda também possui um forte sistema de vigilância de doenças infecciosas e um historial de sucesso na contenção de surtos,” Jess Craig, especialista em saúde global, escreveu recentemente para a Vox. “Tal como no caso do Ébola, os investigadores podem tentar realizar um ensaio no meio de um surto. É exactamente isso que as autoridades de saúde pública e os fabricantes de vacinas estão a fazer neste momento, no contexto da situação de emergência no Ruanda.”
Nos últimos 20 anos, foram registados surtos de Marburgo em toda a África Subsariana, de Angola ao Uganda. No entanto, dois terços desses casos atingiram os países vizinhos do Ruanda, nomeadamente a República Democrática do Congo, a Tanzânia e o Uganda.
Tal como o vírus Ébola, o Marburgo é uma infecção zoonótica adquirida através do contacto com animais infectados, que depois se propaga entre as pessoas. O Marburgo é menos virulento do que o Ébola, mas ambos são infecções hemorrágicas que provocam vómitos e enfraquecem as paredes dos vasos sanguíneos da vítima, levando-a a sangrar fácil e excessivamente. Tal como o Ébola, o Marburgo propaga-se através do contacto com fluidos corporais infectados.
Historicamente, a taxa de mortalidade do Marburgo é de 50%, chegando a atingir 80% em alguns surtos. Os tratamentos médicos, incluindo a hidratação intravenosa e as transfusões de sangue, podem contrariar os efeitos do vírus durante o tempo suficiente para que alguns doentes sobrevivam.
Durante os surtos na Guiné Equatorial e na Tanzânia em 2023, 17 dos 24 doentes infectados morreram — uma taxa de 71%. Em comparação, a taxa de mortalidade por Marburgo no Ruanda é de cerca de 24%.
De acordo com as autoridades sanitárias ruandesas, a maioria dos casos está ligada a dois hospitais da capital, Kigali. Oitenta por cento das pessoas infectadas eram profissionais de saúde, o que cria o risco de a doença se propagar entre os doentes hospitalizados.
Cerca de 10 dias após o início do surto, em finais de Setembro, as autoridades sanitárias do Ruanda começaram a vacinar as pessoas que tinham estado em contacto com as vítimas, utilizando várias vacinas experimentais que tinham sido qualificadas para utilização pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O Director-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, elogiou a resposta rápida do Ruanda na contenção do surto. Numa recente conferência de imprensa com o Ministro de Saúde do Ruanda, Dr. Sabin Nsanzimana, Tedros informou que dois doentes cujo estado de saúde exigia que fossem colocados em suporte de vida tinham recuperado o suficiente para respirarem sozinhos — uma estreia em África, frisou.
“Estes doentes teriam morrido nos surtos anteriores,” acrescentou Tedros.
Nsanzimana disse ao jornal Le Monde que a pandemia da COVID-19 ajudou a reforçar as capacidades de rastreio de doenças do Ruanda. Jean-Claude Manuguerra, director do Laboratório de Resposta Urgente a Ameaças Biológicas do Instituto Pasteur, disse que a resposta do Ruanda ao Marburgo reflecte anos de preparação dos dirigentes locais.
“Quando estamos preparados, podemos reagir mais rapidamente e perder menos tempo a fazer o diagnóstico,” Manuguerra disse ao Le Monde.
Os investigadores do Ruanda descobriram que o surto de Marburgo se deveu a uma única pessoa que encontrou um morcego infectado. Todas as infecções subsequentes estavam intimamente relacionadas com essa infecção original. A estirpe de Marburgo de 2024 partilha um antepassado comum com um surto de Marburgo de 2014, apresentando uma quantidade limitada de mutações ao longo de uma década, segundo os investigadores.
No X, o Ministro de Estado, Yvan Butera, descreveu a ausência de mutação como um bom sinal.
“Embora tenhamos encontrado algumas mutações, nenhuma sugere que o vírus se esteja a propagar mais facilmente ou a tornar-se mais grave,” escreveu Butera.