EQUIPA DA ADF
Nas décadas que se seguiram às guerras do Congo da década de 1990, o conflito armado generalizado afectou a vida de quase todas as pessoas nas províncias orientais da República Democrática do Congo.
Relatos recentes revelaram o emaranhado de partes envolvidas nos campos de batalha das regiões do Kivu do Norte e do Kivu do Sul, onde a violência incessante continua a ameaçar o regresso de conflitos regionais mais alargados.
“Os países vizinhos estão envolvidos de várias formas,” o Professor Kristof Titeca, da Universidade de Antuérpia, escreveu num artigo de 20 de Agosto para a revista The Conversation Africa. “A compreensão ou a resolução do conflito tem de envolver estes países.”
A relação amarga entre o Ruanda e a RDC tornou-se o centro do conflito que se está a agravar.
Desde o recrudescimento dos combates em 2021, o grupo rebelde M23 apoderou-se de grandes extensões de território na província do Kivu do Norte. O Ruanda negou várias informações de que estaria a apoiar o M23.
Um relatório recente de um grupo de especialistas das Nações Unidas declarou que cerca de 4.000 soldados ruandeses combateram ao lado dos rebeldes do M23 no Kivu do Norte, “igualando, se não ultrapassando,” o número de combatentes do M23, estimado em 3.000.
Imagens de drones, gravações de vídeo, fotografias autenticadas, testemunhos e informações reforçaram a afirmação do relatório de incursões sistemáticas nas fronteiras por parte da Força de Defesa do Ruanda (RDF).
Vídeos e fotografias mostravam filas de homens armados e uniformizados a operar veículos blindados com radar e sistemas de mísseis antiaéreos, artilharia pesada e camiões para transporte de tropas.
Um relatório da ONU de 8 de Julho afirma que os oficiais do exército e dos serviços secretos do Uganda também estão a prestar “apoio activo” aos rebeldes do M23 e a permitir passivamente a presença das tropas do M23 e da RDF “no seu território ou a passagem através dele.”
O Uganda nega o envolvimento, com o porta-voz adjunto da defesa Deo Akiiki a considerar as alegações de “risíveis, sem fundamento e ilógicas.”
No entanto, Titeca, que estudou os conflitos e os movimentos rebeldes na RDC e no Uganda durante quase duas décadas, referiu os interesses económicos, políticos e de segurança do Uganda no leste da RDC.
“O Uganda tem uma multiplicidade de interesses relacionados com o leste da RDC,” escreveu. “Durante períodos de agitação, como a actual crise do M23, o Uganda tenta proteger estes interesses. Trata-se de um acto de equilíbrio difícil.
“A presença do M23 na região obriga Kampala a agir para proteger os seus interesses. Deixar o leste da RDC ou o M23 apenas sob a influência do Ruanda é visto como uma ameaça a estes interesses.”
Apesar do historial de intervenções sangrentas dos países vizinhos, alguns estão a fazer esforços para manter a paz. O Quénia foi o anfitrião das conversações. Antes do relatório dos especialistas da ONU, o Uganda tinha tentado mediar entre os representantes da RDC e do M23.
Houve uma onda de esperança quando Angola organizou conversações em Luanda e mediou um cessar-fogo entre o M23 e uma coligação de forças congolesas, milícias locais conhecidas como Wazalendo e tropas regionais da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral.
Não durou sequer um dia, pois o M23 capturou a cidade de Ishasha, na fronteira com o Uganda.
Henry Pacifique Mayala, que investiga e documenta os grupos armados no leste da RDC para o Barómetro de Segurança de Kivu, apelou a sanções contra aqueles que se recusam a aderir aos acordos de paz.
“Falámos sobre a recente violação das tréguas, mas nada foi feito,” disse ao serviço noticioso Deutsche Welle. “Sabemos que houve mortes num campo de deslocados em Bweremana [perto da fronteira com o Ruanda] e sabemos em que direcção as bombas caíram sobre a população. Por isso, vamos ter de agir, porque agimos demasiado com a cenoura, agora vamos ter de agir com a vara.”