EQUIPA DA ADF
Nove meses depois de um acordo de paz ter posto fim a um conflito de dois anos na Etiópia, na região de Tigré, um outro confronto violento está a intensificar-se na região de Amhara.
Os combates eclodiram no início de Agosto, entre a Força de Defesa Nacional da Etiópia (ENDF) e a Fano, uma milícia de etnia Amhara que se aliou à ENDF durante a guerra de Tigré.
Depois de os combatentes da Fano terem tomado algumas cidades e distritos, o governo federal declarou um estado de emergência de seis meses, no dia 4 de Agosto.
Temesgen Tiruneh, director-geral do serviço nacional de informações da Etiópia, foi nomeado para supervisionar a aplicação do estado de emergência.
“Esta força de assaltos está a operar com o objectivo e a intenção de derrubar o governo regional pela força e depois avançar para o sistema federal,” disse ele no dia 6 de Agosto na emissora estatal Fana Broadcasting.
O estado de emergência proibiu a realização de reuniões públicas e o porte de armas ou objectos cortantes. A lei conferiu às forças de segurança o poder de impor o recolher obrigatório, restringir a circulação, efectuar detenções e buscas sem mandado.
O governo também pode encerrar ou limitar os movimentos dos meios de comunicação social que considere estarem a funcionar de forma contrária às ordens de emergência.
As tensões aumentaram na sequência do acordo de paz da Etiópia com Tigré, que devolveu ao Tigré alguns territórios historicamente disputados, o que alguns Amharas denunciaram como uma traição.
Desde então, a Fano não escondeu o seu desejo de ver deposto o Primeiro-Ministro etíope, Abiy Ahmed.
Muitos milicianos da Fano acreditam que o governo quer tirar-lhes as armas e deixá-los vulneráveis a outros grupos armados, segundo Hassan Khannenje, director do Horn International Institute for Strategic Studies, um grupo de reflexão com sede no Quénia.
“A milícia Amhara lutou ao lado do governo contra a TPLF e conseguiu obter muitas terras e expandir o seu alcance para além das suas fronteiras tradicionais,” disse à Agência Anadolu.
“Portanto, eles temem que as relações actuais entre os [Tigrenhos] e o governo possam funcionar em desvantagem para eles, não apenas em termos de economia, mas também de segurança.”
De acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos, ocorreram cerca de 30 confrontos na primeira semana de Agosto em Amhara, a segunda região mais populosa do país.
“A insegurança persistente em Amhara representa uma ameaça significativa para o governo federal, a administração de Abiy e a estabilidade da Etiópia em geral,” escreveu o monitor de conflitos numa análise de 10 de Agosto.
Em Abril, ocorreram violentos protestos em Amhara, depois de Abiy ter decretado que as forças de segurança das 11 regiões da Etiópia seriam integradas no exército ou na polícia nacional.
Depois de ascender a primeiro-ministro em 2018, Abiy tem tentado centralizar o poder. Desde 1991, a Etiópia é formada por uma amálgama de Estados étnicos semiautónomos que estão frequentemente em conflito entre si.
Durante a guerra de Tigré, quando os combates se estenderam para Amhara, um relatório das Nações Unidas afirmou que “o discurso de ódio que ataca e desumaniza grupos étnicos, um indicador-chave de futuros crimes de atrocidade, não mostra sinais de diminuir.”
No dia 8 de Agosto, a ENDF, juntamente com a polícia de choque e milicianos pró-governamentais, recuperaram o controlo de Gondar, a segunda maior cidade de Amhara.
“Foi uma luta intensa,” disse um combatente da Fano à Reuters. “A ENDF estava a utilizar tanques. Os nossos combatentes estavam apenas a usar Kalashnikovs.”
No entanto, a ENDF sofreu uma rápida represália depois de um ataque aéreo a 13 de Agosto na cidade de Finote Selam ter matado pelo menos 26 pessoas.
No dia seguinte, a Comissão Etíope dos Direitos Humanos manifestou “grande preocupação” com os ferozes combates travados em Amhara este mês e condenou uma vaga de detenções de pessoas de etnia Amhara.
A organização independente afiliada ao Estado disse que o uso de artilharia pesada resultou “na morte e ferimento de civis” e que os combates “continuam noutras partes da região e continuam a ser uma grande preocupação até que seja encontrada uma solução sustentável.”
Khannenje afirmou que o governo pretende restaurar o controlo de toda a Etiópia. O objectivo de Abiy é formar um exército unido, se necessário pela força.
“Não se pode ter mini-exércitos dentro de um país,” afirmou. “Nunca funcionou historicamente.”