EQUIPA DA ADF
Thandi Modise reconheceu a ironia do rugido de um jacto Gripen quando discursou na abertura da Exposição Aeroespacial e de Defesa Africana, em Tshwane, África do Sul, em Setembro passado.
Mantido em terra durante um ano devido a restrições orçamentais, o Gripen simbolizava os desafios que afectam a indústria de defesa sul-africana e o firme optimismo de Modise de que as coisas estão a mudar.
“É uma das coisas que temos vindo a corrigir discretamente,” disse num improviso. “Para os cépticos que dizem que nada está a funcionar, muitas coisas estão a começar a funcionar na força de defesa. Não é apenas a Força Aérea que estamos a corrigir; também o estamos a fazer no Exército.”
Como Ministra da Defesa e dos Veteranos Militares da África do Sul, Modise está determinada a dar uma imagem positiva das forças armadas sul-africanas e da sua indústria de defesa.
Outrora um dos maiores e mais avançados complexos industriais militares do mundo, a África do Sul tem visto o seu precioso sector da defesa a desaparecer da cena internacional e continental.
É um espaço rodeado de cépticos e críticos armados com muitos anos de factos, números e exemplos de escândalos de corrupção, decisões míopes e impactos económicos negativos.
“Não há dúvida de que a nossa indústria de defesa foi efectivamente dizimada,” Jakkie Cilliers, fundador do Instituto de Estudos de Segurança, com sede em Pretória, disse à ADF.
“Há muitas razões para isso, incluindo a ganância, a incompetência e a má gestão. Mas há também razões estruturais relacionadas com o declínio do orçamento da defesa. Sem um mercado interno, é difícil manter uma indústria de defesa.”
Os severos cortes orçamentais efectuados às forças armadas nos últimos 10 anos tiveram efeitos de grande alcance na formação, prontidão, recrutamento, moral e manutenção do equipamento.
Com os seus muitos desafios económicos, a África do Sul pouco tem feito para resolver os problemas das forças armadas e o declínio da indústria de defesa, apesar dos apelos de especialistas e funcionários.
Eeben Barlow, PCA da Executive Outcomes, uma empresa militar privada fundada na África do Sul em 1989, afirmou que as capacidades de segurança “debilitadas” do país se traduziram numa perda de conhecimentos e competências tecnológicas, científicas, de produção e de formação.
“O desaparecimento da nossa indústria de defesa não só teve um impacto negativo na nossa economia, como também no mercado de trabalho em declínio,” escreveu num artigo de opinião publicado a 30 de Maio no jornal sul-africano The Citizen.
“O continente esperava ansiosamente que o ajudássemos a equipar as suas forças armadas, com soluções africanas para problemas africanos. Isso proporcionou à África do Sul uma enorme oportunidade de se tornar um fabricante e provedor de defesa de confiança para África — e poderia ter contribuído enormemente para a nossa economia nacional.”
Cilliers culpa a falta de visão e de clareza sobre “quem deve fazer o quê.”
A densa e opaca arquitectura de segurança da África do Sul continua a ser um problema subjacente, com uma delimitação pouco clara das responsabilidades e da supervisão entre os vários ministérios e departamentos e entre as empresas públicas e privadas.
Muitos críticos apelam a África do Sul a regressar ao seu estatuto de principal fabricante e promotor de defesa do continente.
“Talvez o impacto mais importante do declínio da indústria da defesa seja o facto de ter sido um dos poucos sectores que registou um verdadeiro investimento em pesquisa e desenvolvimento, com grandes repercussões na indústria transformadora,” afirmou Cilliers.
Modise concorda com esta afirmação.
“Os avanços tecnológicos que se tornaram parte integrante da nossa vida quotidiana — como os telemóveis e o descodificador de TV — tiveram todos a sua génese nas tecnologias de defesa,” afirmou.
Modise afirmou que a indústria da defesa é “um trunfo indispensável para a economia em geral” e referiu que as forças armadas criam 15.000 postos de trabalho directos em 120 empresas.
Mas Cilliers acredita que a África do Sul precisa de deixar de se concentrar na defesa convencional e passar a preparar e equipar as forças armadas para futuros desafios de paz e segurança — tudo isso sem qualquer aumento previsível do orçamento.
“Essas tarefas e desafios são o apoio à polícia para tarefas específicas, a segurança fronteiriça e rural, a participação em missões de paz a nível regional e a resposta e prevenção de emergências, como as inundações,” afirmou.
Modise mantém-se firme na sua perspectiva de esperança, apesar do contínuo aperto na carteira do governo.
“O panorama da defesa está num estado de mudança rápida e contínua,” afirmou. “Isso cria uma oportunidade para inovações que sustentem e assegurem o futuro da indústria. Acreditamos que a indústria tem capacidade de inovação que pode desbloquear o potencial económico do país e colocar a nossa economia numa trajectória ascendente sustentada.
“Sem vergonha, dizemos que em breve ninguém nos poderá tocar como África do Sul.”