EQUIPA DA ADF
A morte de nove cidadãos de nacionalidade chinesa, em Março, numa mina da República Centro-Africana, pode fazer com que a China aumente a segurança nos seus locais de trabalho em África. Caso isso aconteça, é provável que a China venha a recorrer a empresas de segurança privadas (ESP), que possuem uma conduta duvidosa no continente.
Os especialistas afirmam que os projectos da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) da China, que empregam dezenas de milhares de chineses e representam bilhões de dólares em infra-estruturas, podem ser alvos importantes de ataques dos grupos extremistas.
“Na década passada, a China reconheceu que a dependência única do desenvolvimento económico dos países africanos não é suficiente para proteger os seus trabalhadores e projectos,” Alessandro Arduino, investigador principal da Universidade de Singapura, escreveu recentemente no The Conversation.
Treze anos depois de as ESP terem sido destacadas contra piratas, a China acrescentou milhares de antigos soldados do Exército de Libertação Popular, antigos membros das Forças Especiais e outras antigas empresas militares em toda a África, essencialmente para protegerem projectos de infra-estruturas de grande valor como a Linha Férrea de Bitola Padrão do Quénia.
Diferentemente de outras empresas militares privadas em África, as ESP da China, na realidade, não são privadas — são empresas estatais que se subordinam ao governo de Pequim. O governo atribuiu licenças a 20 ESP, para operarem fora do país. Esta lista inclui a Huaxin Zhong An Security Group, a China Security Technology Group e a Beijing DeWe Security Service, com cerca de 2.000 homens a protegerem a linha férrea queniana avaliada em 4 bilhões de dólares.
Os ataques da mina de Chimbolo podem resultar que mais ESP chinesas entrem em África, de acordo com a consultora de segurança sul-africana, Jasmine Opperman.
“Tem a ver com a protecção e a expansão da influência chinesa, e por causa das situações de segurança voláteis, estamos agora a ver a segurança privada a registar um crescimento em número,” disse recentemente Opperman à Voz da América.
As ESP da China funcionam à margem da lei internacional. As Nações Unidas e a União Africana baniram o uso de mercenários sem especificamente banir as empresas privadas que oferecem serviços militares. O analista Sean McFate, do Conselho Atlântico, disse que a distinção é insignificante.
“‘Empresa militar privada é um termo de arte que funciona como código para ‘mercenário,’” McFate, autor de “O Mercenário Moderno,” disse à CNBC.
Actualmente, as ESP chinesas operam em 14 países africanos. Elas estão concentradas na África Oriental e Austral e outras na República Democrática do Congo, na Líbia e no Mali. Alguns países, como a África do Sul, possuem leis rigorosas que regulam o seu comportamento. Outros, como o Sudão e o Sudão do Sul, dão aos chineses mais liberdade na forma como estes operam nos seus países — liberdade essa que alguns especialistas afirmam que pode colocar os residentes em risco.
Nos termos da lei chinesa, os membros das ESP não estão autorizados a portar armas. Isso significa que eles habitualmente trabalham em cooperação com as empresas de segurança ou milícias locais quando precisam de resgatar cidadãos chineses que tenham sido raptados.
“Colaborando com as milícias locais, basicamente se está a tirar partidos,” disse Opperman à VOA.
Em alguns casos, as ESP chinesas criaram empresas de segurança em parceria com residentes dos seus países anfitriões. Depois os membros das ESP foram trabalhar para estas empresas para contornarem a lei chinesa de não uso de armas de fogo.
“As empresas privadas de segurança da China causaram a sua quantidade de problemas ao tentarem dar a volta às restrições de armas,” analista Paul Nantulya, do Centro de Estudos Estratégicos de África, escreveu nos seus próprios estudos das empresas de segurança chinesas.
Dada a instabilidade em alguns dos países onde existam investimentos da ICR, a China pode decidir alterar as leis que governam as suas ESP, permitindo que elas possam portar armas, de acordo com Cortney Weinbaum, do grupo de reflexão Rand Corp.
Escrevendo no RealClearDefense, Weinbaum citou um artigo em língua chinesa, no site Netease, que apoia a ideia de que a China pode expandir o seu uso de empresas militares em África.
Esta expansão pode fazer com que a China esteja numa situação em que pode enfrentar os mesmos problemas que o Grupo Wagner da Rússia e operadores semelhantes experimentaram em África, de acordo com Weinbaum. Contudo, por fim, a liderança da China pode achar que esta abordagem seja necessária.
“Como um dos maiores investidores internacionais em projectos de infra-estruturas, a China está à procura de formas para proteger os seus investimentos,” acrescentou.