EQUIPA DA ADF
Depois de quatro semanas de investigação do surto da COVID-19, os pesquisadores da Organização Mundial de Saúde (OMS) pretendem ver a possibilidade de que a primeira vítima do vírus tenha vindo de um mercado diferente de Wuhan, e não aquele que é mais geralmente associado à pandemia.
Quando a sua visita chegava ao fim, em Fevereiro, os pesquisadores conheceram um funcionário de escritório chamado Chen, que lhes disse que tinha ficado doente em inícios de Dezembro de 2019. Isso seria cerca de quatro dias antes dos primeiros casos no Mercado de Mariscos de Huanan e aproximadamente quatro semanas antes de a China ter oficialmente anunciado o vírus ao mundo.
O homem não tinha visitado o mercado de Huanan, que se tornou no ponto focal do surto da COVID-19, cerca de uma semana depois. Ele disse que os seus pais tinham visitado um mercado diferente antes de ele ter ficado doente, de acordo com o The Wall Street Journal.
Se as afirmações do homem forem correctas, ele pode ter sido o “paciente zero” da COVID-19, o primeiro caso confirmado da doença. Os investigadores disseram ao The Wall Street Journal que o homem revelou o seu estado quase no fim do encontro. Eles não puderam identificar o mercado ou obter mais pormenores.
Wuhan, com uma população de 11 milhões, possui cerca de 400 mercados, alguns dos quais, como o mercado de Huanan, vendem animais selvagens criados em cativeiro, assim como peixe e outros materiais. Os mercados podem comercializar itens entre si, criando assim o potencial para que o vírus circule pela cidade.
Com base na sua estrutura, os pesquisadores suspeitam que a COVID-19 tenha começado num morcego — possivelmente um que tenha sido capturado e manuseado para a venda no mercado de Wuhan — depois passou para os seres humanos através de um animal intermediário. O animal intermediário continua um mistério.
Os investigadores descobriram 10 bancas, em Huanan, que vendiam animais selvagens que podiam ter desempenhado esse papel, quer por estes serem susceptíveis ao vírus ou por terem vindo da parte sul da China, onde os morcegos transportam vírus semelhantes ao da COVID-19.
De acordo com a revista Nature, os pesquisadores chineses identificaram menos de 100 pessoas com sintomas de COVID-19 entre Outubro e Dezembro de 2019. Os pesquisadores testaram cerca de dois terços desses pacientes para anticorpos da COVID-19, mas não encontraram nenhum.
O investigador da OMS, Dominic Dwyer, um virologista australiano, sugeriu que a China testasse 200.000 amostras do Banco de Sangue de Wuhan para determinar se o vírus estava a circular entre a população em geral em 2019.
Apesar de os chineses afirmarem que o vírus tenha vindo a Wuhan em alimentos congelados, a velocidade com a qual este se propagou em Wuhan, em finais de 2019, sugere que ele tenha originado com o comércio de animais selvagens, de acordo com Daszak, zoologista e especialista em doenças que se transmitem de animais para seres humanos.
O investigador-chefe, Peter Bem Embarek, disse à Nature que é provável que o vírus tenha estado a circular em Wuhan antes de Chen ter adoecido, porque estava bem estabelecido até finais de Dezembro de 2019. O tempo exacto em que o vírus passou de animais para os seres humanos continua incerto.
“Precisamos de mais pesquisas relacionadas com os primeiros casos,” disse Embarek ao Journal.
A equipa de investigação tinha planificado divulgar um relatório preliminar da sua visita em finais de Fevereiro, mas a divulgação foi adiada.