EQUIPA DA ADF
Alagie Sarr recorda-se quando os pescadores da cidade costeira gambiana de Gunjur podiam passar algumas horas nas águas e voltar com uma quantidade robusta de pescado.
Aqueles dias chegaram ao seu fim.
Devido à pesca excessiva praticada pelas embarcações industriais estrangeiras, a proliferação de fábricas de farinha de peixe e a notável falta de supervisão governamental, os pescadores gambianos afirmam que agora são obrigados a pescar muito mais longe da costa, um esforço que exige mais tempo e combustível e que, muitas vezes, resulta em quantidades cada vez mais reduzidas de pescado.
“Quando se quer alguma quantidade de pescado, é necessário navegar 50 a 100 quilómetros no mar,” disse Sarr ao jornal gambiano, Foryaa. “Se quiser uma boa quantidade de pescado, deve navegar para o alto mar. Antes do advento das fábricas e dos arrastões, navegava-se de manhã e até às 14 horas estava-se de volta com o pescado. Mas as situações mudam de forma que agora quando se sai, volta-se no final do dia ou no dia seguinte.”
Muitos pescadores da comunidade de pesca artesanal de 200.000 homens da Gâmbia proferiram as mesmas reclamações durante anos.
Abdourahman Ceesay, um vendedor de peixe de 28 anos de idade, disse à Agência Anadalou, em 2020, que a quantidade de peixe que antes vendia em dois dias agora leva mais de duas semanas. Visto que as unidades populacionais de peixe esgotaram, os preços subiram drasticamente.
“Um quilograma de Ubarana e Barracuda agora custa 5 dólares,” disse Ceesay à Agência Anadalou. “A maior parte das pessoas não tem capacidade de aquisição do mesmo. Algum deste peixe pesa cerca de cinco a seis quilogramas, o significa que um cliente tem de gastar 20 dólares, o que é insuportável para o bolso de um cidadão comum.”
O colega pescador Dembo Touray concordou.
“Não existe peixe nas águas,” Touray disse à Anadalou. “Antes pescávamos até 90 bandejas de sardinela por dia e agora quase que não conseguimos pescar cinco bandejas por dia.”
Touray acrescentou que os arrastões industriais estão “em todo o lugar.”
“Pode-se vê-los mesmo a menos de 150 metros da costa,” disse Touray. “Eles utilizam redes de tamanho inadequado e matam peixe de forma indiscriminada.”
O antigo presidente gambiano, Yahya Jammeh, proibiu a pesca industrial, em 2015, mas a administração do actual presidente, Adama Barrows, revogou a proibição, em 2017, quando emitiu 73 licenças. Mais licenças foram emitidas desde então, noticiou a Agência Anadolu.
A maior parte do peixe capturado nas águas gambianas agora é descarregada em três fábricas locais, de propriedade chinesa, que produzem farinha de peixe, que é feita secando e moendo o peixe ou desperdícios de peixe. A pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) ajuda a sustentar as fábricas de farinha de peixe.
Enquanto a Gâmbia faz parcerias com a Sea Shepherd Global, uma organização internacional sem fins lucrativos que visa erradicar a pesca INN, muitos pescadores locais dizem que o governo não faz o suficiente para proteger os seus recursos marinhos e entra em acordos prejudiciais com empresas chinesas de produção de farinha de peixe.
As três comunidades de pesca gambianas que têm fábricas de produção de farinha de peixe — Gunjur, Kartung e Sanyang — culpam as fábricas por matar o peixe através da bombagem de detritos tóxicos nas águas e causar a perda de rendimento do turismo devido ao péssimo odor produzido pelas fábricas.
Os pescadores gambianos também estão chateados com os acordos de pesca que o seu governo faz com os países vizinhos. Em 2018, a Gâmbia permitiu que embarcações de pesca senegaleses naveguem nas suas águas.
A Gâmbia também assinou um acordo de seis anos com a União Europeia, que permite que arrastões da União Europeia pesquem 3.300 toneladas de atum e 750 toneladas de hake anualmente, noticiou a Anadolu. A União Europeia concordou em pagar aproximadamente 685.000 dólares para melhorar as pescas do país.
A contribuição da União Europeia é relativamente pequena, uma vez que os países da África Ocidental perdem aproximadamente 2,3 bilhões de dólares por ano devido à pesca INN, de acordo com as Nações Unidas.