EQUIPA DA ADF
Um capitão de uma canoa de pesca senegalesa contraiu queimaduras graves, recentemente, depois de ter confrontado a tripulação de um arrastão chinês que navegava de forma agressiva no Golfo da Guiné.
Maguette Mbaye, de 36 anos de idade, disse às autoridades gambianas que estava no leme de um barco de 11 pessoas, ao largo da costa da Gâmbia, quando um enorme arrastão chinês tentou virar a sua embarcação, no dia 19 de Setembro. Mbaye disse que foi atacado quando entrou a bordo da embarcação chinesa “para perguntar-lhes sobre as manobras perigosas que faziam contra a minha canoa,” de acordo com o porta-voz do governo da Gâmbia, Ebrima G. Sankareh.
“Antes de eu terminar de falar, uma chuva de golpes caiu sobre mim,” disse Mbaye, um homem casado, pai de três filhos e residente de Mbour, uma cidade portuária no Sul do Senegal. “Depois aspergiram gasolina sobre mim e queimaram-me,” acrescentou, de acordo com um relatório da página seneweb.com. Fotografias de Mbaye mostram queimaduras graves em todo o seu braço direito.
Foi atacado nas águas ao largo de Mbour. Mbaye pediu que a sua tripulação o levasse para Gâmbia, para poder receber tratamento médico.
As autoridades gambianas disseram que a embarcação chinesa operava com uma licença de pesca senegalesa e que o incidente ocorreu nas águas senegalesas. Alioune Ndoye, Ministro das Pescas da Gâmbia, disse que estava em comunicação com as autoridades senegalesas antes de a tripulação regressar a casa.
Este tipo de actos agressivos perpetrados por arrastões chineses instigam o medo às comunidades da África Ocidental que sempre dependeram da pesca para alimentação e renda. As Nações Unidas estimam que 600.000 senegaleses dependem de empregos relacionados com a pesca.
Na Mauritânia, o vizinho da parte norte do Senegal, pescadores artesanais exigiram a retirada de arrastões chineses das suas águas, no início de Setembro, quando um enorme barco chinês foi acusado de atingir deliberadamente um barco de pesca local, matando três mauritanos. O arrastão chinês tinha desligado as luzes e o seu sistema de identificação automática, enquanto pescava numa zona reservada para pescadores artesanais, na escuridão da madrugada. Mais tarde, o capitão chinês foi preso.
Peter Hammarstedt, director de campanhas da Sea Shepherd, uma organização sem fins lucrativos, que trabalha para eliminar a pesca ilegal, contou, à ADF, que falou com pescadores artesanais na Libéria cujas pirogas e canoas foram atropeladas e, por vezes, afundadas por arrastões industriais estrangeiros.
“As pessoas afogam-se.” disse Hammarstedt.
Na África Ocidental e noutros lugares, os arrastões de pesca longínqua da China dizimam as populações nativas de peixe ao utilizarem redes enormes capazes de capturar toneladas de peixe por dia — muito acima da capacidade dos barcos de pesca locais — muitas vezes em locais proibidos, entre outras práticas ilegais.
O incidente que envolveu a canoa de Mbaye ocorreu quando os pescadores da indústria de pesca artesanal do Senegal protestavam contra o licenciamento de três embarcações chinesas em meio a medida de confinamento obrigatório para conter a propagação da COVID-19. Os arrastões chineses foram encontrados a pescar de forma ilegal em Djibouti, em 2017.
O esgotamento das populações de peixe aumenta a ansiedade dos pescadores locais. Até 90% dos locais de pesca do Senegal estão totalmente explorados ou próximos de um colapso, de acordo com as Nações Unidas. O peixe é, na sua maioria, exportado para a Ásia e Europa, quase sempre, em forma de farinha de peixe ou óleo de peixe, produzido em fábricas que destroem os ecossistemas locais.
A indústria de pesca do Senegal estava debilitada pela COVID-19 muito antes de Mbaye ter sido queimado no mar.
Galay Sarr, um pescador senegalês, disse à Deutsche-Welle, que conseguia ter uma vida decente como exportador de peixe, antes das medidas de confinamento obrigatório do vírus paralisarem os mercados europeus.
“Nós geralmente exportávamos o nosso peixe para Itália, mas por causa do coronavírus todos os voos foram cancelados, por isso, não podemos enviar mais nada,” disse Sarr. “Em pouco meses, eu ganhava tanto que era capaz de poupar 150 euros. Actualmente, é difícil poupar 30 euros para sobreviver. Já não podemos nem sequer vender para as fábricas, e é assim que fazíamos o nosso lucro. Agora, compramos peixe dos pescadores e apenas temos de o armazenar.”