EQUIPA DA ADF
Enquanto a capital do Sudão continua a ser abalada por explosões e tiroteios, os seus habitantes estão a ser vítimas de um outro ataque: campanhas implacáveis de desinformação e propaganda.
Os dois generais em guerra no Sudão, o General Abdel Fattah al-Burhan e o General Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, têm mais de 2,3 milhões de seguidores no Twitter, correspondendo a 1,4 milhões para al-Burhan e as Forças Armadas do Sudão (SAF) e 900.000 para Hemedti e a sua milícia das Forças de Apoio Rápido (RSF). Segundo os analistas, as RSF também sequestraram 900 contas inactivas do Twitter para difundir mensagens que as apresentavam de forma positiva.
“Ambas as partes beligerantes aumentaram o volume de fotografias, vídeos, entrevistas e declarações que estão a circular pelos seus porta-vozes e contas nas redes sociais, no que é obviamente uma tentativa de branquear o seu papel no descarrilamento da transição do Sudão para a democracia,” escreveu recentemente o investigador Maram Mahdi, do Instituto de Estudos de Segurança, sediado na Etiópia.
Como chefe do governo sudanês, al-Burhan tem influência sobre a National Broadcasting Corp, o canal de informação do governo, que se aliou às SAF. Aquela estação de rádio não dá informações sobre os combates. O que é noticiado é favorável às SAF.
As RSF têm usado o seu Twitter e contas sequestradas para transmitir diariamente declarações e imagens de Hemedti e das RSF. Grande parte desse material está em Inglês, em vez do habitual conteúdo Árabe do grupo, o que indica que as RSF estão a tentar apelar a apoiantes internacionais.
A campanha de propaganda das RSF sofreu um golpe pouco antes do golpe de 2021, quando o Facebook removeu 116 páginas, 666 contas de utilizadores, 69 grupos e 92 contas falsas do Instagram que amplificavam as declarações das RSF, fingindo ser agências noticiosas sudanesas.
Segundo Mahdi, as RSF estão a usar a sua propaganda para se apresentar como pró-democracia e comprometidas com a liberdade, a justiça e a paz no Sudão. Uma publicação recente anunciou a criação de uma linha directa “para receber queixas e pedidos de socorro de cidadãos e residentes de diferentes nacionalidades em áreas controladas pelas RSF.”
Para além das contas do Twitter sequestradas pelas RSF, a campanha de propaganda subjacente ao conflito inclui a utilização de bots e trolls pelas SAF para impulsionar a sua própria desinformação.
Uma análise da Valent Projects revelou que os 5% das contas do Twitter pró-SAF têm indicadores clássicos de actividade de bot/troll. Essas 113 contas apresentavam indicadores como nomes genéricos, publicações em massa e criação de contas na altura da revolta de 2019 contra o regime militar. Usam slogans como “apoiem o exército sudanês,” “a neutralidade é traição” e “todos pertencemos ao exército,” refere Valent.
A Valent examinou mais de 12.500 publicações no Twitter que usavam uma hashtag pró-SAF. Os publicadores mais activos são contas concebidas para se assemelharem a cidadãos comuns que apoiam o exército.
“Encontrámos uma manipulação em grande escala que promoveu a escalada da violência, enquanto vozes sudanesas autênticas apelavam ao fim da violência,” afirmou a Valent Projects no seu próprio Twitter. “A intenção geral é levar os sudaneses e os observadores a pensarem que há uma onda de apoio à escalada militar.”