EQUIPA DA ADF
O Parque Nacional W é uma reserva natural de 8.000 quilómetros quadrados que atravessa as fronteiras do Benin, do Burquina Faso e do Níger. É o lar de uma abundância de vida selvagem, incluindo porco-formigueiro, babuíno, chita em perigo de extinção, elefante africano, hipopótamo, leopardo africano, leão da África Ocidental e javali.
No entanto, os seus habitantes mais perigosos são os extremistas violentos que estabeleceram bases no parque desde 2020, depois de o terem utilizado anteriormente para rotas de contrabando.
“O parque tornou-se uma espécie de quartel-general dos grupos jihadistas,” Ibrahim Yahaya Ibrahim, analista do Crisis Group, disse num vídeo de 17 de Abril.
“Podemos ver que o parque serve como um espaço a partir do qual organizam a sua expansão para outras áreas, em todas as direcções a norte, sul e oeste. Tornou-se também um local a partir do qual organizam ataques noutras áreas.”
O W e dois parques nacionais adjacentes, Pendjari e Arly, constituem a maior área selvagem protegida da África Ocidental, com um total de 1,7 milhões de hectares. As densas florestas da região, combinadas com as fronteiras porosas, facilitam o acesso dos militantes.
Os parques encontram-se encerrados desde 2019, quando terroristas raptaram dois turistas franceses em Pendjari e mataram o seu guia local.
Em 2023, o Exército do Benin afirmou que o país tinha registado o maior aumento de ataques de militantes extremistas em África. Em Dezembro, dois soldados em serviço de vigilância foram mortos por um engenho explosivo improvisado na cidade de Karimama, perto da fronteira com o Níger. As forças de segurança beninenses estão preocupadas sobretudo com a Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin, uma filial da al-Qaeda, e com o grupo Estado Islâmico-Sahel, ambos responsáveis pela morte de milhares de pessoas e pela expulsão de milhões de outras das suas residências.
Os extremistas violentos deslocaram mais de 2 milhões de pessoas só no Burquina Faso — cerca de 10% da população.
“As forças de segurança do Burquina Faso há muito que abandonaram a zona a norte da fronteira,” o Coronel Faizou Gomina, do Burquina Fazo, disse à revista New Lines. “Como resultado, os jihadistas e os grupos criminosos formaram grandes bases, que utilizam para organizar ataques no nosso território soberano.”
Ibrahim diz que os grupos extremistas capitalizam as queixas locais e a competição pelos recursos naturais, como a água e a terra, o que força mais agricultores e pastores a entrar no parque.
“Os jihadistas estão a tentar impor uma nova forma de governação, um código de conduta para homens e mulheres e códigos de vestuário para as mulheres,” afirmou. “Impedem as mulheres de ir ao mercado, recorrem à violência física para impor este código de conduta.”
Quando os militantes estabeleceram as suas bases, acolheram pastores para viverem dentro do parque.
“Isso facilitou a colaboração entre os grupos jihadistas e os pastores nómadas,” disse Ibrahim, acrescentando que os laços crescentes dos militantes com as comunidades locais minam os esforços dos militares beninenses, bem como dos guardas-florestais.
Os funcionários do W permitem que os habitantes locais pesquem no Rio Alibori, apascentem os seus animais em zonas tampão à volta do parque e colham plantas e mel da floresta. Por sua vez, os guardas-florestais incentivam os habitantes locais a transmitir informações úteis às forças de segurança.
A African Parks, uma organização não-governamental sediada na África do Sul, gere o Parque Nacional W desde 2020. O grupo relatou vários ataques em 2023 que resultaram na morte de um guarda-florestal, vários soldados beninenses e funcionários do governo. A violência crescente levou a Africa Parks a reavaliar todo o seu funcionamento.
“Retirar-se teria sido, em muitos aspectos, a opção mais fácil,” escreveu a organização numa publicação de blogue no dia 17 de Abril.
A African Parks retirou-se das áreas mais perigosas do W, transferiu todo o pessoal não essencial, reduziu a utilização das estradas e deu aos guardas-florestais formação adicional na identificação de DEI. O exército beninense enviou tropas ao longo das fronteiras com o Burquina Faso e o Níger para reduzir a infiltração de militantes.
“Para que estas soluções funcionem, é imperativo que mantenhamos uma boa coordenação e clareza quanto às funções e responsabilidades,” declarou a African Parks. “Mais importante ainda, foi dada prioridade e mantida uma colaboração estreita e positiva com as comunidades locais, que desempenham um papel vital no apoio à segurança nas suas regiões.”
Ibrahim disse que a segurança do parque não vai resolver todos os problemas que o rodeiam. Exortou o Benin, o Burquina Faso e o Níger a encetarem conversações com os grupos extremistas.
“Actualmente, nada é possível dentro do parque devido à ocupação dos grupos jihadistas,” afirmou. “Poderá ser necessária uma acção militar. A acção militar pode também ser acompanhada de diálogo.”