EQUIPA DA ADF
Para algumas pessoas que recuperam da COVID-19, a luta para voltar a ganhar a sua saúde é apenas o começo.
Meses depois de os seus corpos terem lutado contra o vírus, algumas pessoas continuam a ter uma variedade de sintomas, desde a fadiga e “nevoeiro cerebral” até aos problemas cardíacos, problemas de visão, dos rins e de outros órgãos internos. Algumas pessoas queixam-se de dificuldades em respirar, enquanto outros desenvolvem uma sensação de formigueiro ou ardor na pele. Os sintomas podem desaparecer num dia e reaparecerem no dia seguinte.
Eles juntaram-se a um grupo do mundo inteiro: são os doentes de COVID-19 de longa duração.
“Na realidade, não temos uma explicação científica e clara sobre por que isso acontece,” Dr. Mark Holiday, um médico de clínica geral que vive em Joanesburgo, relatou num vídeo publicado no portal nacional de informação sobre a COVID-19 da África do Sul. “Em termos gerais, existe uma tendência nos meus pacientes de melhorarem cada vez mais. Mas isso pode durar cinco ou seis meses.”
Um estudo das primeiras vítimas de COVID-19 em Wuhan, na China, concluiu que as pessoas se queixavam de uma variedade de sintomas, por vezes, debilitantes, muito depois de terem recebido a alta hospitalar. Três quartos dos 1.733 participantes do estudo tinham pelo menos um sintoma, mais de seis meses depois da recuperação.
De acordo com um estudo publicado no jornal britânico de medicina, The Lancet, a fraqueza dos músculos e a falta de sono foram os problemas mais comuns que os doentes de COVID-19 de longa duração tiveram, seguidos de ansiedade e depressão.
Médicos continuam a tentar compreender o fenómeno. Em termos gerais, eles consideram os doentes de COVID-19 de longa duração como pessoas que continuam a ter sintomas pelo menos quatro semanas depois de terem recuperado da infecção primária, de acordo com um estudo publicado no South African Medical Journal.
As pessoas desenvolvem os sintomas de longa duração independentemente de terem passado algum tempo no hospital ou tenham tido uma infecção ligeira. Jovens (com 18 a 34 anos de idade) podem tornar-se doentes de COVID-19 de longa duração, embora isso aconteça em cerca de metade da taxa de pessoas com 50 anos de idade ou mais. Mesmo um caso ligeiro de COVID-19 pode reduzir uma habilidade cognitiva da pessoa, de acordo com os autores do estudo.
Em África, onde a idade mediana é de apenas abaixo de 20 anos, aproximadamente 3 milhões de pessoas recuperaram da COVID-19, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
“Embora a COVID-19 de longa duração possa apresentar poucas evidências para uma gestão óptima, este problema clínico, que vem desenvolvendo rapidamente, merece uma consideração de saúde pública importante à medida que a pandemia continua a avançar,” concluíram os autores.
Eles acrescentaram que os sintomas de longo curso precisam de ser estudados ainda mais na África do Sul, porque muitas pessoas que contraem a COVID-19 possuem problemas preexistentes de saúde como o HIV, a tuberculose ou diabetes. Os doentes de COVID-19 de longa duração podem precisar de um maior tempo de reabilitação para poderem fazer a gestão dos seus sintomas ou para recuperarem por completo, dizem.
A África do Sul continua a ser o foco do maior número de infecções pela COVID-19 no continente, com 40% dos 3,5 milhões de casos registados desde o início de 2020. Uma variante mais contagiosa descoberta na África do Sul, no Outono passado, propagou-se de forma rápida por todo o país e pela região.
Falando ao Serviço Mundial da BBC, Catherine, da África do Sul, disse que ela originalmente tinha a sensação de ser a única pessoa que sofria dos seus sintomas de COVID-19 de longa duração. Eventualmente, ela descobriu outras pessoas que também estavam a ter a mesma experiência.
Fiquei tão feliz em saber que não estava a ficar maluca, porque muitas pessoas à minha volta, que já tiveram COVID, ficaram completamente recuperadas,” explicou. “O sentimento que eu tive é de que não sabia se alguma vez ainda seria capaz de voltar ao meu estado pré-COVID.”
Catherine acrescentou que sentiu o estigma associado a pessoas que ainda apresentam os sintomas depois da recuperação da COVID-19.
“Existe uma tensão mental e emocional,” afirmou.
O Dr. Holiday observou que os sintomas podem ser ignorados como uma simulação de doença pelos empregadores e outros que não compreendem a situação dos doentes de COVID-19 de longa duração.
“Estas pessoas realmente batalham contra os sintomas e é necessário algum tempo para que elas melhorem,” disse.