EQUIPA DA ADF
Wilson Lang’at é proprietário de um campo agrícola de 2,5 hectares na aldeia de Koiyet, que se localiza na região sul do verdejante Vale do Rift, do Quénia. Durante anos, a sua fonte primária de rendimento foi o comércio de gado bovino enquanto produzia milho como uma menor parte do negócio.
Actualmente, graças a um aplicativo móvel, ele é capaz de diversificar as suas culturas e melhorar a sua produção, o que permitiu que a sua propriedade agrícola prosperasse apesar das dificuldades económicas causadas pela pandemia.
“Desde o começo da pandemia da COVID-19, nunca parei de trabalhar na agricultura,” o cidadão de 46 anos de idade e pai de seis filhos disse à Reuters. “A agricultura tornou-se mais rentável e agora é o meu trabalho a tempo integral.”
Nos passados dois anos, ele foi capaz de aumentar a produção de milho de 36 sacos de 90 quilogramas para 120 sacos assim como produzir feijão, batata e tomate.
A pandemia obrigou Lang’at a inovar. Ele atribui o crédito a um aplicativo para telemóveis queniano chamado DigiFarm, que o permite adquirir sementes e fertilizantes, fazer empréstimos de dinheiro para diversificar as suas culturas bem como planificar para condições meteorológicas extremas como secas e inundações.
O DigiFarm, que recentemente expandiu para Nigéria e Tanzânia, oferece acesso de paragem única a insumos agrícolas a preços baixos, empréstimos, seguros, conteúdo para aprendizagem e acesso aos mercados.
É uma das muitas inovações que está a dominar o sector de agronegócios em África e a ajudar a conter os efeitos da pandemia sobre a segurança alimentar e a pobreza.
Num documento de Setembro de 2021 publicado numa série de livros intitulada Advances in Food Security and Sustainability (Avanços na Segurança Alimentar e na Sustentabilidade), dois pesquisadores estudaram como os agricultores da África Oriental foram capazes de adaptar-se à COVID-19.
A co-autora do livro, Eileen Bogweh Nchanji, ficou surpresa com a rapidez com que os agricultores e compradores acorreram aos aplicativos para telemóveis como uma forma de vencer as barreiras das interrupções da cadeia de fornecimento, restrições das fronteiras e dos confinamentos obrigatórios.
“Eles não podiam fazer nada naquela época, mas depois compreenderam que tinham mais tempo nos seus campos, por isso, começarem a pensar sobre o que mais podem produzir e como vender de forma mais eficaz,” disse ela num comunicado de imprensa. “No Quénia, por exemplo, agora alguém entra num grupo de WhatsApp e diz, ‘Tenho uma quantidade de feijão para vender neste distrito,’ e depois um agregador ou um comprador a grosso poderá entrar em contacto directo com a pessoa em vez de ter de fazer paragem em vários campos agrícolas.”
Apesar da COVID-19, a produção de produtos alimentares na África Subsaariana não entrou em colapso como se temia. Nalguns lugares, a produção aumentou.
A indústria de produtos essenciais da África do Sul experimentou uma época que criou novos recordes em 2020, com exportações de 146 milhões de caixas de frutas para o mundo inteiro.
Mas o agronegócio em África ainda é dominado pela exportação de produtos não processados e importação de alimentos processados.
A população jovem e centrada na tecnologia, do continente, contudo, está a abraçar as tecnologias agrárias, utilizando aplicativos móveis, inteligência artificial e drones para ajudar a construir uma indústria agrícola mais diversificada e mais resiliente.
O número de empresas em fase inicial do ramo da tecnologia agrária e a quantidade de financiamentos continuam a registar um aumento constante apesar da pandemia. Quando se trata da quantidade de capital angariado pelas empresas em fase inicial em África, nos passados cinco anos, o sector de tecnologia agrária está em quinto, de acordo com dados da página da internet de notícias sobre novas tecnologias, Disrupt Africa.
Histórias de sucesso semelhantes à do DigiFarm incluem:
- HelloTractor, uma empresa nigeriana que utiliza um aplicativo para telemóveis para facilitar a partilha de equipamento agrícola.
- Twiga em Quénia, uma plataforma móvel de comércio electrónico que faz a colheita, adquire, empacota e entrega produtos das propriedades agrícolas membros directamente aos vendedores, digitalizando a cadeia de fornecimento. A plataforma afirma que retira o intermediário, elimina a perda de alimentos e reduz os preços dos produtos alimentares. A Twiga Foods expandiu de Nairobi para cinco outras grandes cidades durante a pandemia e recentemente anunciou uma expansão para Uganda.
- Maano, na Zâmbia, que é um mercado de produtores virtuais que liga agricultores de pequena escala com compradores que oferecem preços competitivos pelos seus produtos enquanto aumentam as oportunidades de rendimento para os agricultores.
A mudança em direcção à tecnologia e ao comércio electrónico durante a pandemia tem o potencial de transformar o sector agrícola de África numa potência agrícola que é muito mais resiliente em face a futuras crises.
O investidor congolês, Kalaa Mpinga, sente-se optimista quanto ao futuro agrícola do seu país — o suficiente para criar interesse em fábricas de produção de óleo de palma que beneficiam directamente a população de Kinshasa.
“Acredito no Congo. Acredito no seu potencial,” disse à rede de televisão, Euronews. “Os 20 milhões de habitantes são basicamente alimentados com produtos agrícolas importados. Mas temos a terra, temos o clima e temos as pessoas.”