EQUIPA DA ADF
Primeiro veio a pandemia da COVID-19, depois as consequências económicas. Agora vários países da África Oriental estão a reavaliar as parcerias com a China, à medida que a dívida crescente e os deficits comerciais se uniram para se transformarem numa crise.
No início de Setembro, a China enviou um novo embaixador ao Quénia, para amenizar a tensão existente à volta da questão da dívida crescente e acordos de investimento obscuros.
“A sua entrada no país está a acontecer num momento em que os países africanos estão a questionar a estratégia por detrás do financiamento pesado de projectos de infra-estruturas e a levantar preocupações quanto ao seu efeito a longo prazo sobre a economia,” Dr. Kigen Morumbasi, professor de relações internacionais e segurança na Universidade de Strathmore, em Nairobi, disse ao The Nation.
Dias depois, a imprensa local atacou o assunto sobre a Linha Férrea de Bitola Padrão, construída por empresas chinesas de construção civil e com o apoio de empréstimos de bancos chineses. Os membros da Comissão Parlamentar de Transportes, no parlamento queniano, divulgaram um relatório que pede uma redução de aproximadamente 50% dos custos operacionais e uma renegociação dos 4,5 bilhões de dólares devidos à China.
“Existem algumas decisões de investimento que tomamos que não estão no melhor interesse do país, por isso, é altura de começarmos a reavaliá-las e renegociar com as pessoas que nos deram o dinheiro, para que sejamos capazes de sobreviver,” Kimani Ichung’wa, presidente da Comissão Parlamentar de Dotações e Verbas Orçamentais, disse ao The EastAfrican.
Com a sua vasta Iniciativa do Cinturão e Rota, a China tem há muito tempo sido acusada de usar uma “diplomacia de armadilha da dívida” em que os incumprimentos nos pagamentos de dívidas podem levar a concessões económicas ou políticas.
Mas com a dupla crise da COVID-19 e da economia global paralisada, a China enfrenta um novo nível de escrutínio.
O continente reagiu com indignação em Abril e Maio, quando emergiram histórias de ataques raciais e discriminação contra africanos, na China, durante os confinamentos obrigatórios da COVID-19.
Em Agosto, o Ministro de Saúde do Quénia questionou a qualidade dos itens do equipamento de protecção individual (EPI) chinês depois de reprovarem nos testes de qualidade. Numa repreensão rara, o Quénia de seguida baniu a importação de EPI chinês.
O deficit comercial também ameaça as relações da China com a Comunidade da África Oriental (CAO), a organização cooperativa dos países dos Grandes Lagos. Todos os Estados parceiros da CAO, excepto o Sudão do Sul, possuem disparidades comerciais com a China.
“Para a Tanzânia, para cada dólar de bens que exportamos para a China, geralmente importamos 10 dólares de bens da China,” Embaixador da Tanzânia na China, Mbelwa Kairuki, disse em entrevista à firma de consultoria sediada na China, Development Reimagined.
O Quénia possui um desequilíbrio comercial de 35-para-1 com a China — cerca de 358 milhões de dólares em importações, comparados com cerca de 10,1 milhões de dólares em exportações. O Quénia recentemente rejeitou a oferta de alívio da dívida de Pequim, temendo que a mesma iria impedir um futuro acesso ao mercado de capitais.
As relações da China com o Quénia durante a pandemia são um exemplo dos países da região da África Oriental como um todo. Elas estão claramente a diminuir.
“A China está no comando das operações,” Scott Morris, um parceiro sénior do grupo de reflexão do Centro de Desenvolvimento Global, disse à Reuters. “Mas isto precisará de um verdadeiro sacrifício por parte dos credores, e não tenho a certeza se eles estão confortáveis com esta ideia.”