Partes de África, onde a insegurança alimentar já estava exacerbada pela COVID-19 e secas severas, foram as mais atingidas.
Em resposta, o governo dos EUA comprometeu-se, em Maio, em fornecer um valor adicional de 215 milhões de dólares em ajuda para Argélia, Burkina Faso, Camarões, Quénia, Mauritânia, Nigéria, Ruanda, Tanzânia, Uganda e Zimbabwe.
Muitos países africanos dependem da Rússia e da Ucrânia para importação de trigo, fertilizantes e óleo vegetal, mas a guerra interrompeu o funcionamento dos mercados globais e das cadeias de fornecimento, fazendo com que os preços dos produtos alimentares subissem.
Na África Oriental, existe a probabilidade de que uma pessoa morra de fome a cada 48 segundos, comunicaram a Oxfam Foundation e a Save the Children em meados de Maio.
“Muitos países africanos já estavam numa crise alimentar,” Lena Simet, investigadora sénior sobre pobreza e desigualdades na Human Rights Watch,
. “O aumento dos preços está a agravar a situação de milhares de pessoas lançadas na pobreza pela pandemia da COVID-19, exigindo uma acção urgente dos governos e da comunidade internacional.”
A Nigéria é o quarto maior importador de trigo do mundo e recebe um quarto das suas importações da Rússia e da Ucrânia, enquanto Camarões, Sudão, Tanzânia e Uganda obtêm mais de 40% da sua importação dos países que se encontram em guerra, de acordo com a Human Rights Watch.
O Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas adquire metade do trigo que distribui a nível global da Ucrânia, mas a invasão russa prejudicou os fornecimentos, uma vez que os preços de muitos produtos aumentaram drasticamente, incluindo o preço do combustível utilizado para transportar os alimentos pelo mundo inteiro.
Cerca de 500.000 pessoas na Etiópia e na Somália estão a experimentar situações semelhantes à fome, enquanto 3,5 milhões de quenianos sofrem de fome extrema, comunicou a Oxfam, no dia 17 de Maio.
“A situação é devastadora,” Jane Meriwas, directora da Samburu Women Trust, do Quénia, disse numa reportagem da página da internet da Oxfam. “Os seres humanos assim como o gado encontram-se em risco de morrer; crianças, mulheres grávidas e idosos em algumas partes dos condados de Marsabit e Samburu, em Quénia, já foram alegadamente dados como mortos. Se não for providenciada uma intervenção agora, provavelmente venhamos a testemunhar ainda mais mortes.”
Durante um discurso na reunião do Conselho Executivo da UA, no dia 25 de Maio, Moussa Faki Mahamat, o presidente da Comissão da União Africana (UA), reconheceu que a invasão russa à Ucrânia aumentou drasticamente a crise da segurança alimentar no continente.
“África tornou-se uma vítima colateral de um conflito distante, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia,” disse Mahamat. “Causando distúrbios profundos ao frágil equilíbrio geopolítico e geostratégico global, isso também expôs de forma minuciosa a fragilidade estrutural das nossas economias. O sinal mais emblemático destas fragilidades é a crise alimentar seguida das desordens climáticas, a crise sanitária da COVID-19, amplificada hoje pelo conflito na Ucrânia.”
Para mitigar a crise alimentar, os governos africanos e as instituições internacionais apoiaram a facilidade de crédito para a produção de alimentos de 1,5 bilhões de dólares do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento, destinados a aumentar a produção de cereais essenciais.
Durante uma reunião virtual sobre a facilidade, o Ministro das Finanças do Gana, Ken Ofori-Atta, disse que o continente está a experimentar a sua pior inflação e crise alimentar das últimas duas décadas e apelou os seus colegas a adoptarem uma nova postura para abordar a questão.
“Devemos agir rapidamente para salvar o nosso povo desta fome e do aumento do custo de vida,” disse Ofori-Atta num artigo do veículo de comunicação online nigeriano, Business Post.