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Ao longo das suas fronteiras do norte, os países do Golfo da Guiné experimentaram várias incursões dos extremistas que atravessam a partir de Burquina Faso, Mali e Níger. Diante da pressão crescente de extremistas do Sahel, os países do Golfo devem ser cuidadosos para evitar as mesmas armadilhas que assolaram os seus vizinhos no norte, afirmam os especialistas.
O Ministro da Segurança Nacional do Gana, Albert Kan-Dapaah, apelou para uma maior cooperação entre os países do Golfo da Guiné e seus vizinhos do norte, para combaterem as ameaças do extremismo, as quais ele descreveu como sendo “mais generalizadas do que se pensava.”
O Acordo de Acra de 2017, que incorpora os países do Golfo da Guiné, assim como Burquina Faso e Níger, tinha como objectivo ajudar os países-membros a trabalharem juntos para conter a violência extremista.
Um lugar onde a cooperação é um imperativo encontra-se entre o Complexo W-Arly-Pendjari dos parques da vida selvagem que engloba a fronteira do Benin, Burquina Faso e Níger, de acordo com o Grupo Internacional da Crise. Os extremistas utilizam a enorme reserva como uma base para lançar operações para os países do Golfo da Guiné. A sua presença complica a gestão dos parques e coloca os residentes das regiões circunvizinhas em risco de recrutamento e de ataques.
“Os três países deviam concordar em melhores protocolos para coordenar a acção militar e uma estratégia comum para proteger a população, o que deve incluir abertura para o diálogo com os militantes quando adequado,” escreveu o Grupo da Crise num recente relatório sobre o extremismo na região.
Os países do Golfo da Guiné possuem um menor número de população muçulmana em comparação com Burquina Faso ou Níger, fazendo com que seja menos uma base a partir da qual os extremistas podem procurar recrutar. Contudo, aquelas populações muçulmanas tendem a ser marginalizadas e a viver em áreas sem serviços governamentais — ambas condições que podem fazer com que sejam vulneráveis ao extremismo, de acordo com uma análise do Institut Montaigne.
“O maior risco é que uma abordagem militar seja priorizada em detrimento de um plano abrangente que se centra primariamente nas características diferentes que [os extremistas] podem explorar,” escreveu o analista Jonathan Guiffard, investigador principal do Institut Montaigne. “A prevenção e a resiliência exigem uma vontade política forte para incluir as populações marginalizadas, tanto no processo político quanto nos esforços de desenvolvimento.”
Isso não implica dizer que a acção militar não seja vital para prevenir mais propagação do extremismo e sua ideologia, afirmam os analistas. Mais formação e melhor equipamento podem reforçar a segurança das regiões, as quais se encontram longe das capitais nacionais e nos principais centros populacionais.
Entretanto, os governos precisam de evitar capacitar milícias com pouca formação, para suprirem as suas forças regulares — uma situação que pode levar a abusos e impulsionar a entrada das populações civis para os exércitos dos extremistas. No Mali e no Burquina Faso, a decisão de alistar milícias contra extremistas produziu exactamente esse resultado, de acordo com um relatório da fundação Konrad Adenauer Stiftung.
“Não é suficiente que as autoridades políticas e militares estejam cientes da ameaça,” escreveu Guiffard. “Elas devem agora acelerar a profissionalização das suas capacidades militares, sem caírem na armadilha das milícias.”
Os países do Golfo da Guiné respondem à ameaça extremista, enviando o pessoal de segurança para as regiões fronteiriças e expandido as redes de inteligência. Em alguns casos, eles também enviam mais recursos do governo, como assistência agrária, para as regiões do norte, num esforço para melhorar as condições económicas naquele ponto.
O Gana fez isso tudo para reforçar a população nos territórios a norte contra um potencial recrutamento por extremistas. Até agora, o Gana é o único país do Golfo da Guiné que não registou ataques transfronteiriços.
Embora os esforços militares e económicos possam ajudar a curto prazo, os analistas afirmam que os países do Golfo da Guiné devem fazer mais uma coisa para conter a ameaça do extremismo no futuro: Eles devem conversar com os residentes do norte.
O Benin assumiu esta abordagem com as comunidades próximas do Complexo W-Arly-Pendjari, envolvendo populações locais e a administração dos parques para denunciar actividades suspeitas à polícia.
“A prioridade é dada à luta contra o terrorismo, muitas vezes, em detrimento do diálogo com as comunidades e a busca por soluções locais,” escreveu o analista da fundação Konrad Adenauer Stiftung. “A experiência do Benin demonstra que podem ser produzidos resultados interessantes.”