Uma mulher que vive em Moura, uma cidade na região de Mopti, no centro do Mali, recordou os horrores que lhe foram infligidos quando soldados malianos e mercenários russos do Grupo Wagner lançaram um ataque de cinco dias em Março de 2022.
Depois de dias a massacrar homens, as tropas malianas e os combatentes do Grupo Wagner voltaram a sua atenção para as mulheres de Moura. A mulher disse que os soldados revistaram a sua casa à procura de homens, mas não encontraram nenhum.
Voltaram na noite seguinte e, segundo ela, um homem branco com tatuagens violou-a.
“Depois disso, fui ferida na minha zona genital. Quando tentei resistir, o outro soldado entrou com o meu filho e ameaçou fazer-lhe mal, até eu ceder. Nessa noite, por volta das 20 horas, quatro soldados levaram duas mulheres para a minha casa e violaram-nas,” disse a mulher num relatório da Federação Internacional dos Direitos Humanos.
No dia seguinte, disse ela, os soldados obrigaram as mulheres da cidade a juntarem-se numa margem do rio, onde quatro mulheres grávidas entraram em trabalho de parto.
“Apenas um bebé sobreviveu,” disse. “Disseram-me que 26 mulheres foram violadas” durante o massacre.
A sua recordação está de acordo com um novo relatório dos monitores das sanções das Nações Unidas, que descobriu que os soldados malianos e os combatentes do Grupo Wagner estão a violar sexualmente as mulheres malianas para espalhar terror. O relatório ao Conselho de Segurança da ONU advertiu que a violência sexual é “sistemática,” segundo a Reuters.
Os observadores das sanções incluem: um painel de especialistas da ONU, antigos rebeldes Tuaregues do norte do Mali, a organização internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch e o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
Em Novembro de 2022, os combatentes do Grupo Wagner invadiram a aldeia de Nia Oura, também na região de Mopti. Uma mulher de 23 anos contou ao The Daily Beast que foi deixada inconsciente por um combatente do Grupo Wagner que lhe bateu na cabeça com uma arma depois de ela se ter recusado a despir-se. Quando acordou, estava deitada nua no chão, ao lado de várias outras mulheres que também estavam despidas.
“Estávamos cercadas por soldados brancos,” disse a mulher. “Alguns deles tinham telemóveis na mão e tiravam fotografias de nós.”
Cerca de 12 mulheres e raparigas foram abusadas sexualmente nesse dia, de acordo com um homem que escapou ao massacre.
“As mulheres disseram que os soldados brancos as despiram, violaram e depois pegaram nos seus smartphones, que usaram para filmar os corpos nus das mulheres,” disse o homem ao The Daily Beast. “As mulheres disseram que foram tratadas como animais.”
A junta militar do Mali contratou o Grupo Wagner em 2021 para preencher um vazio de segurança que criou ao expulsar uma força multinacional liderada pela França que estava a combater os extremistas. Acredita-se que o Grupo Wagner tenha entre 1.000 e 1.645 combatentes no país.
O Grupo Wagner tem como alvo civis nas regiões de Mopti, Koulikoro, Segou e Tombuctu. Pelo menos 500 pessoas foram mortas no massacre de Moura. No total, 71% do envolvimento do Grupo Wagner na violência política no Mali assumiu a forma de ataques contra civis, segundo o ACLED.
O recurso à violência sexual por parte do Grupo Wagner não se limita ao Mali.
O grupo cometeu um massacre na cidade mineira de Bambari, na República Centro-Africana (RCA), em 2021. Um jovem chamado Usman viu o seu irmão ser morto a tiro. Ele, a sua mãe e as suas irmãs sobreviveram.
Uma irmã, Alzina, foi levada para uma base do Grupo Wagner, onde foi violada. Ser vítima de violação acarreta uma vergonha terrível na sua comunidade.
“Ela pediu-me perdão e disse que mais valia estar morta agora,” disse Usman à CBS News.
Uma outra irmã de Usman teve um destino semelhante.
“Violaram-na na nossa casa… que se tornou a casa do Grupo Wagner, onde bebiam e praticavam esses actos hediondos,” disse Usman.
O grupo também foi acusado de cometer violência sexual contra as forças aliadas.
Em Janeiro, dois soldados da RCA disseram ao The Daily Beast que os combatentes do Grupo Wagner com quem trabalhavam se voltaram contra eles e os acusaram de serem espiões. Os homens disseram que seis mercenários os espancaram e os amarraram a uma árvore.
Horas depois, disseram, os combatentes do Grupo Wagner regressaram e violaram-nos.
“Tentámos pedir misericórdia, mas taparam-nos a boca com fita adesiva para não podermos falar,” disse um dos homens. “Foi um acto doloroso que nunca tinha experimentado antes.”