EQUIPA DA ADF
Em Março, combatentes do Boko Haram sitiados e seus familiares renderam-se, num fluxo constante, às tropas da Força-Tarefa Conjunta Multinacional (MNJTF, na sigla inglesa) no Níger e às tropas do Exército da Nigéria que serviam na Operação Hadin Kai, no norte da Nigéria.
Na totalidade, 443 membros do Boko Haram e pessoas afiliadas renderam-se durante um período de quatro dias. Muitos disseram estar a fugir dos ataques implacáveis do grupo extremista rival Província do Estado Islâmico da África Ocidental.
Os ex-combatentes exortaram outros a seguir o seu exemplo e a depor armas.
“Já não saem para lutar noutros lugares, estão agora a lutar contra vós próprios,” disse o ex-combatente do Boko Haram, Adamu Rugurugu, numa declaração em vídeo publicada pelo analista de segurança baseado em Borno, Zagazola Makama. “Se o que estão a fazer é verdadeiro, então por que estão agora a matar aquelas pessoas que afirmaram ser parte de vocês? Isto não é pura hipocrisia?”
Rugurugu continuou dizendo aos seus antigos camaradas para “voltarem e em conjunto viverem em paz sob o mesmo tecto.”
Enquanto as lutas internas continuam entre grupos extremistas na Bacia do Lago Chade (BLC), as forças de segurança dizem que é tempo de tirar vantagens dessa discórdia.
“Acreditamos que as rendições têm potencial para serem uma estratégia para pôr fim ao conflito. Porque isto reduz a população na qual podem encontrar combatentes,” disse o Major-General Abdul Khalifa Ibrahim, comandante da MNJTF, à ADF.
Ibrahim disse que mais de 110.000 combatentes, familiares e colaboradores se renderam desde o início do conflito. Isso inclui pessoas que se renderam à MNJTF e às forças armadas nacionais dos quatro países da BLC.
“O que fazemos para os encorajar a sair é tratá-los bem. Não pensamos que, por eles estarem a sair, são inimigos e disparamos contra eles,” disse Ibrahim. “Respeitamos as leis do conflito armado; falamos com eles e apelamos que falem com outras pessoas.”
Em 2016, a Nigéria criou um programa de reabilitação conhecido como Operação Corredor Seguro. O programa, inspirado num programa semelhante utilizado para militantes no Delta do Níger, destina-se a desradicalizar ex-combatentes e oferecer formação profissional e apoio psicológico. No entanto, a Operação Corredor Seguro tem sido alvo de acusações de maus tratos a desertores e de ausência de resultados.
Num discurso de 25 de Março, na Universidade de Edo, o General Lucky Irabor, Chefe do Estado-Maior da Defesa da Nigéria, disse que a Operação Corredor Seguro tinha formado cerca de 2.000 pessoas. Contudo, reconheceu problemas como falta de formação especializada para instrutores, instalações inadequadas bem como colaboração e coordenação inadequadas. A nível nacional, ele exprimiu preocupação pela falta de leis sobre reintegração e de um sistema de monitorização ineficaz para aqueles que abandonam o programa.
“Apesar dos modestos sucessos registados pela Operação Corredor Seguro na luta contra a criminalidade, o programa ainda enfrenta muitos desafios,” disse Irabor.
Irabor apelou à criação de um fundo especial para a desradicalização, reintegração e reorientação (DRR), bem como uma comissão nacional DRR, novas leis relacionadas com o processo e a adopção de uma abordagem de “toda a sociedade” no controlo dos ex-combatentes.
Ibrahim salientou que o aspecto militar cinético de uma operação de contra-insurgência é apenas uma fracção do que é necessário para esta ter êxito.
“Acreditamos basicamente que vencer uma operação de contra-insurgência não é apenas um assunto militar,” disse Ibrahim à ADF. “Todos os outros sectores da sociedade devem contribuir para que possamos ter uma sociedade melhor para o benefício de todos.”