EQUIPA DA ADF
À medida que a altamente contagiosa variante Delta conduz à terceira vaga de infecções pela COVID-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou um grupo de medicamentos anti-inflamatórios para tratar os pacientes que sofrem os sintomas mais graves da doença.
A aprovação dos medicamentos, conhecidos como bloqueadores do receptor de Interleucina-6, chega numa altura em que as hospitalizações aumentaram em 40% em toda a África e a taxa global de vacinação se mantém em pouco mais de 1%.
Para algumas pessoas com casos graves da COVID-19, o vírus pode desencadear uma “tempestade de citocina,” que causa uma recção descontrolada do sistema imunitário do corpo à infecção. As tempestades de citocina podem fazer com que o corpo danifique ou destrua os seus próprios órgãos. Um tipo de tempestade de citocina, a síndrome de insuficiência respiratória aguda (SIRA), que tem uma taxa de mortalidade de mais de 50%, é a principal causa de morte para os casos mais graves da COVID-19.
A interleucina-6 é um tipo de citocina. Os bloqueadores do receptor de interleucina-6 acalmam a tempestade de citocina, interrompendo parte da resposta imunológica que a causa. Os bloqueadores têm sido estudados como tratamento para a COVID-19 desde o início de 2020.
De acordo com um estudo da OMS, os bloqueadores — tocilizumab e sarilumab — reduziram o número de pacientes que morreram vítimas da COVID-19 enquanto recebiam oxigénio ou outra assistência respiratória. Também reduziram o número de pessoas que precisaram de ser colocadas num ventilador.
Um estudo separado, publicado no início deste ano no The New England Journal of Medicine, apresentou resultados semelhantes. Nesse estudo, os pacientes exibiram os melhores resultados se começassem o tratamento com bloqueadores de interleucina-6 no prazo de 24 horas após o início da assistência respiratória.
“Este medicamento [tocilizumab] pode ser fundamental para tratar pessoas com casos críticos e graves de COVID-19 e reduzir a necessidade de ventiladores e oxigénio médico, que são recursos escassos em muitos locais,” Julien Potet, conselheiro sénior de políticas relacionadas com doenças tropicais negligenciadas na Médicos Sem Fronteiras, disse num comunicado.
Os bloqueadores são administrados por via intravenosa durante uma hora. São mais eficazes quando associados com corticosteróides como a dexametasona, outro medicamento normalmente usado para tratar a inflamação. A OMS aprovou o uso de corticosteróides para casos graves de COVID-19, em Setembro de 2020.
Para alguns países, o desafio pode ser o acesso aos referidos medicamentos. A tocilizumab e a sarilumab são anticorpos monoclonais —{ proteínas sintéticas que actuam como anticorpos humanos no sistema imunitário. Podem custar centenas ou milhares de dólares por dose. Também estão protegidos por patentes, dificultando os países a desenvolverem as suas próprias versões.
A OMS e a Médicos Sem Fronteiras pediram aos fabricantes para reduzirem o preço dos medicamentos e partilharem a tecnologia ou renunciarem às protecções de patentes para permitir que os países desenvolvam as suas próprias versões.
“Os bloqueadores do receptor de IL-6 continuam inacessíveis e insustentáveis para a maioria do mundo,” disse o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Portanto, a maior necessidade desses medicamentos encontra-se nos países que actualmente têm menos acesso. Devemos mudar isto urgentemente.”