EQUIPA DA ADF
A intensificação dos tiroteios e das explosões levou Prudent Kahindo e os seus três filhos a abandonarem a sua casa em Fevereiro. Quando chegaram a um campo informal para pessoas deslocadas nos arredores da cidade de Goma, descobriram que as suas vidas não estavam menos ameaçadas.
“A vida aqui é extremamente complicada, não temos lonas nem comida,” disse à revista The New Humanitarian. “Pedimos ajuda porque as pessoas aqui correm o risco de morrer de fome.”
Durante anos, Goma, a maior cidade do leste da República Democrática do Congo (RDC), atraiu os deslocados em busca de segurança e de ajuda humanitária.
De acordo com as Nações Unidas, os campos de deslocados improvisados, já sobrecarregados com meio milhão de pessoas, receberam pelo menos mais 250.000 entre meados de Fevereiro e meados de Março.
Goma está cercada pelos rebeldes do M23, apoiados pelo Ruanda, cujos confrontos com as forças armadas congolesas provocaram a crise das deslocações, mas a maior ameaça de uma guerra regional generalizada paira sobre estas terras.
Jason Stearns, autor e fundador do Congo Research Group, acredita que esse conflito já começou.
“Cada vez mais, se trata de um conflito regional,” disse ao Serviço Público de Radiodifusão. “As tropas de intervenção da África do Sul, da Tanzânia e do Malawi lutam praticamente contra as tropas ruandesas no leste do Congo. Há burundeses a lutar contra as tropas do Ruanda no leste do Congo.
“Apesar de ninguém estar a falar em termos de uma guerra regional ou a dizer que se estão a matar uns aos outros no leste da RDC, é mais ou menos isso que começou a acontecer. Por isso, penso que os riscos são muito, muito grandes se a diplomacia e mentes mais frias não prevalecerem.”
O M23 passou à ofensiva desde o início do ano, tomando o controlo de uma quantidade “sem precedentes” de território, de acordo com as Nações Unidas.
A missão de manutenção da paz da ONU na RDC, que está a reduzir as suas forças, disse numa nota ao seu pessoal que “a actual situação de segurança está a tornar-se cada vez mais volátil, uma vez que o M23 chegou à periferia norte de Sake (a cerca de 25 quilómetros de Goma).”
“As recentes acções do M23 sugerem a sua intenção de assumir o controlo de Goma, marcando potencialmente a sua segunda ocupação da cidade após um breve período de controlo em 2012,” escreveu a ONU num relatório de 5 de Abril.
A ONU também manifestou a sua preocupação com o crescente grau de sofisticação militar no conflito, numa altura em que a missão de manutenção da paz regista ataques de drones armados às suas bases. O Ruanda foi acusado de ter instalado mísseis terra-ar.
Entretanto, o Conselho de Segurança da ONU pressionou o Ruanda a pôr termo ao seu apoio à milícia M23, liderada pela etnia Tutsi. Apesar das provas apresentadas por especialistas independentes da ONU que mostram que o M23 recebe apoio material e treino dos militares ruandeses, o Presidente Paul Kagame continua a negar qualquer envolvimento.
Com a sede do poder congolês em Kinshasa a cerca de 2.000 quilómetros de distância, especialistas como Stearns afirmam que a região oriental da RDC, cansada da guerra, tem sido um palco activo de envolvimentos regionais durante décadas.
“Na origem do conflito do M23 estão países como o Ruanda e o Uganda, empenhados em projectar poder e influência no leste da RDC, enquanto o governo congolês parece incapaz e, muitas vezes, não quer estabilizar o seu próprio território,” escreveu Stearns num artigo para o site de notícias The Conversation Africa, publicado a 29 de Fevereiro.
De acordo com Johan Brieussel, chefe da missão da agência de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras estacionada em Goma, a dimensão dos campos de deslocados que se estendem pelos arredores de Goma coloca muito mais pessoas em risco.
“A artilharia chegou agora às fronteiras e até ao interior do campo,” disse à Deutsche Welle TV. “O campo tornou-se uma zona fortemente militarizada. Isso causa muita preocupação à população e ameaça o acesso humanitário nas proximidades.”