EQUIPA DA ADF
Uma zona costeira próxima da fronteira de Moçambique com a Tanzânia tornou-se no mais recente local de conflito, na contínua insurgência perpetrada por extremistas, em Moçambique.
Ataques contra aldeias próximas do Posto Administrativo de Quionga, nos últimos dois finais de semana de Fevereiro, obrigaram centenas de residentes a fugirem para as florestas para a sua segurança. Os agressores, armados com metralhadoras e catanas, seguem pelas cidades de Quirinde e Namoto, incendiando casas e saqueando bens.
Embora as forças de defesa tenham reestabelecido o controlo, a violência indica que os extremistas mais uma vez estão armados e prontos para lutar, depois de um início do ano relativamente calmo.
“Depois de tréguas de várias semanas, causadas pelas cheias e por algumas melhorias na capacidade de luta das forças de Moçambique, parece que os insurgentes estão mais uma vez a marchar,” escreveu Peter Fabricius, no Daily Maverick, da África do Sul. “Evidentemente, [eles foram] reabastecidos com pequenas armas trazidas por dhows, provenientes do Iémen e da Somália.”
Os terroristas lutam uma insurgência sangrenta para tomar a província moçambicana de Cabo Delgado, desde 2017. Com o andar do tempo, a violência cresceu em termos de sofisticação e alcance. O grupo de extremistas chama-se Ahlu Sunna wa-l-Jama’ah, mas os residentes locais chamam-no de al-Shabaab, embora este não faça parte do grupo de insurgentes baseado na Somália.
Teve origem nas décadas de discórdias políticas e religiosas, depois de o país ter alcançado a independência. O que começou como um conflito local, em Mocímboa da Praia, levou a uma corrente de ataques contra a polícia no distrito e, em última instância, expandiu-se para outros distritos, no norte e no centro de Cabo Delgado.
Os insurgentes intensificaram os ataques em 2019 e começaram a envolver forças militares. Em 2020, o grupo perpetrou mais de 20 ataques por mês e cercou Mocímboa da Praia três vezes, atacando por terra e ar, em paralelo.
“Os insurgentes agora possuem capacidades marítimas fortes, que estão a evoluir de forma rápida,” analista do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED), Jasmine Opperman, disse ao jornal The Sunday Times, em Setembro de 2020. “Eles estão a selar a região por terra e pelo mar e a exercerem o seu domínio.”
Os insurgentes dizimaram aldeias e decapitaram algumas das suas mais de 2.500 vítimas, desde 2017. A ONU estima que 670.000 pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas desde que eclodiu o conflito.
Os deslocamentos levaram ao surgimento de uma crise humanitária, visto que as pessoas eram obrigadas a caminhar nas florestas densas por uma semana ou mais para poderem alcançar a segurança relativa de uma cidade. Eles chegam malnutridos e, muitas vezes, traumatizados por aquilo que viram.
“Nas florestas, eles passam por pessoas mortas — familiares ou vizinhos das suas aldeias, que forma assassinadas, cujos corpos foram desmembrados e as suas cabeças cortadas.” Patricia Postigo, coordenadora de saúde da Médicos Sem Fronteiras, disse à ReliefWeb. “Também vêem pessoas que morreram de fome ou de sede. Contam que não conseguem tirar estas imagens das suas mentes.”
De acordo com um relatório de Outubro de 2020, do sítio da internet do Centro de Combate ao Terrorismo de West Point, a violência do grupo atingiu o pico em 2020, quando os membros ficaram mais corajosos e empregaram armamento e tácticas mais sofisticados.
Contudo, desde Janeiro, as forças de Moçambique entraram em ofensiva com a ajuda de recursos de combate ao terrorismo dos Estados Unidos, formação da União Europeia e de Portugal, tropas das Forças de Defesa do Malawi e coordenação da polícia da Tanzânia.
As operações militares causaram a morte de dezenas de terroristas, apreenderam armas e destruíram veículos e barcos utilizados nos ataques. Estatísticas recentes do ACLED demonstram os efeitos do aumento de ataques em terra e mar pelas forças do governo quando os insurgentes atacaram 10 vezes em Janeiro, baixando dos 30 perpetrados em Dezembro de 2020.
Procurando capitalizar estes ganhos em Fevereiro, o presidente Filipe Nyusi ofereceu publicamente amnistia para os insurgentes, afirmando que o país “fará tudo para vos receber de forma segura e irá garantir a vossa reintegração.”