EQUIPA DA ADF
Os cientistas catalogaram mais de 200 sintomas diferentes a longo prazo associados com a COVID-19, desde a fadiga aos problemas cardíacos. Alguns assemelham-se a perturbações auto-imunes, enquanto outros parecem resultado de enxames de coágulos de sangue microscópicos que circulam no organismo, incluindo o cérebro.
A COVID longa pode desenvolver-se três a quatro semanas depois da infecção inicial e pode persistir por meses ou até anos depois que a pessoa recupera de um ataque da doença. Quanto mais grave é a infecção numa pessoa, maior é a probabilidade de desenvolver sintomas de COVID longa.
Um dos sintomas mais comuns da COVID longa é a deficiência mental, conhecida como nevoeiro cerebral.
As pessoas que sofrem de nevoeiro cerebral têm dificuldades de pensar e processar a informações. Uma nova pesquisa publicada em Julho, na revista Cell, encontrou muitas semelhanças entre a experiência de pacientes de nevoeiro cerebral da COVID longa e do cancro da “quimioterapia cerebral” que os pacientes sentem quando estão a fazer tratamentos de quimioterapia.
Em ambos os casos, o sistema imunológico do corpo activa químicos conhecidos por citocinas para proteger os sistemas do organismo. No início da pandemia da COVID-19, algumas pessoas morreram por causa de tempestades de citocinas, em que os seus sistemas imunológicos tiveram uma reacção excessiva e atacaram fatalmente os seus próprios organismos.
Com o nevoeiro cerebral, uma citocina, que é habitualmente activada por alergias, provoca uma reacção em cadeia no cérebro e no sistema nervoso central que enfraquece a capacidade das células nevrálgicas de criarem memórias e comunicarem umas com as outras. Os impactos foram visíveis dentro de uma semana de infecção, persistiram por cerca de sete semanas e apareceram em pessoas cuja infecção era tão ligeira que nem demonstravam sintomas de COVID-19.
“Dada a escala da infecção pelo SARS-CoV-2, este sindroma de deficiência cognitiva persistente representa uma grave crise de saúde pública,” escreveu a equipa de investigadores dirigida por Anthony Fernández-Castañeda, da Stanford University.
Os investigadores analisaram o cérebro de pacientes que morreram durante a primeira vaga de infecções pela COVID-19 e também estudaram o impacto das infecções em ratos de laboratório.
Eles concluíram que a COVID longa tem o seu maior impacto sobre a matéria branca subcortical, que compõe cerca da metade do volume do cérebro. A matéria branca age como um quadro de distribuição para as outras partes do cérebro que controlam as funções do corpo, como movimento e fala.
De acordo com os investigadores, a COVID longa solta um conjunto de células que interrompem a formação de novas células no hipocampo, a área do cérebro que é crucial para a memória. As mesmas células interrompem a criação de células cerebrais que criam mielina, o composto gorduroso que isola as células nervosas para que, assim como os cabos de telefone, os sinais viagem sem serem misturados.
Enquanto cerca de um quarto das pessoas que se recuperaram da COVID-19 desenvolvem a COVID longa, as descobertas feitas pela equipa de investigação de Castañeda sugerem que aproximadamente todos que contraem a COVID-19 podem estar em risco de deficiência cerebral por um tempo depois da sua infecção.
Os investigadores indicaram que outras infecções, como a gripe, podem provocar algumas das mesmas respostas no sistema nervoso. Contudo, apenas a COVID longa esteve associada à queda na produção de mielina — um resultado que pode ter efeitos graves no sistema nervoso de uma pessoa e nas capacidades mentais.
“Tomadas em conjunto, as conclusões apresentadas aqui ilustram que mesmo uma infecção respiratória ligeira com o SARS-CoV-2 pode resultar em mudanças neuro-inflamatórias persistentes e consequente desregulação de tipos de células neurais importantes para uma função cognitiva saudável,” escreveram os investigadores.