EQUIPA DA ADF
A guerra fria entre Argélia e Marrocos na região do Magrebe continua a criar novas camadas de gelo.
A última série de provocações começou no início de Março com a abertura de um escritório em Argel para a República Marroquina do Rif, uma organização separatista alegadamente financiada pela Argélia.
O jornalista argelino Nasser Jabi sugeriu que se tratava de uma resposta ao apoio declarado de Marrocos à independência do povo Kabyle na Argélia, que, por sua vez, era uma resposta ao facto de a Argélia acolher e financiar o povo separatista saharaui do Sahara Ocidental.
“Estamos perante um novo nível de escalada nas relações entre Argélia e Marrocos,” Jabi escreveu no jornal diário al-Quds al-Arabi, no dia 10 de Março.
As tensões entre os vizinhos norte-africanos têm vindo a acalmar-se desde há décadas, mas parecem ter explodido nos últimos anos. A Argélia cortou as relações diplomáticas com Marrocos em 2021, devido ao que o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros designou por uma série de “acções hostis.”
Em 2023, o Presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, declarou que a deterioração das relações entre os dois países tinha atingido “o ponto sem volta.”
A principal questão que opõe os dois países é o facto de terem posições muito opostas sobre o conflito do Sahara Ocidental. Marrocos reivindicou o território no âmbito de um acordo de 1975 com a Espanha, enquanto a Argélia apoiou o grupo rebelde saharaui, a Frente Polisário, na sua procura pela independência.
Enquanto a disputa do Sahara Ocidental tem sido um braço de ferro entre Argélia e Marrocos durante décadas, os mais recentes representantes são duas facções separatistas do grupo étnico Amazigh — os povos Kabyle e Rifian — que são indígenas do Norte de África.
Ferhat Mehenni, presidente do governo provisório da Cabília, afirmou que o apoio da Argélia ao povo saraui é hipócrita.
“A Argélia não acredita de modo algum no direito dos povos à autodeterminação,” declarou em Março à página da internet da Morocco World News. “Se fosse de outra forma, tê-lo-ia reconhecido primeiro para a Cabília e o povo cabila. Este princípio é utilizado pela Argélia para desestabilizar os países com os quais compete, nada mais, nada menos.”
Mohamed Larbi Zitout, antigo diplomata argelino, considera que o apoio da Argélia à criação do gabinete da República do Rif na sua capital é imprudente.
“A carta separatista é prejudicial para os dois países e é mais como uma bomba destrutiva,” disse à página da internet de notícias Arabi21.
Os especialistas consideram improvável a possibilidade de um conflito militar entre Marrocos e Argélia, mas os dois vizinhos dispõem de forças militares formidáveis. Em 2022, os dois países foram responsáveis por 74% de todas as despesas de defesa no Norte de África, de acordo com o Instituto Internacional de Investigação da Paz de Estocolmo. A Argélia gastou 9,1 bilhões de dólares, enquanto Marrocos gastou 5 bilhões de dólares.
Em 2024, Argélia e Marrocos têm as duas forças armadas mais bem financiadas do continente, com orçamentos de 21,6 bilhões de dólares e 12,1 bilhões de dólares, respectivamente, de acordo com a lista anual da Global Firepower.
Tal como muitos analistas da região, Jabi mostrou-se preocupado com o facto de o reforço militar poder desencadear um conflito maior.
“Numa altura em que há sinais muito negativos, como a minicorrida às armas entre os dois países, algumas forças dentro dos respectivos regimes poderiam pensar em usar a força militar, mesmo de forma limitada, para fazer avançar a questão,” escreveu.
Alberto Fernandez, vice-presidente da organização sem fins lucrativos de monitorização e análise Middle East Media Research Institute, considera que, embora as relações estejam geladas, as perspectivas de guerra permanecem frias.
“O resultado provável da corrida ao armamento e demonstrações de força de ambas as nações será uma tensão contínua sem explosão real, picos de retórica incendiária e simbolismo, mas uma guerra que se aproxima constantemente, mas que nunca chega de facto,” escreveu.