EQUIPA DA ADF
O norte do Gana surgiu como uma base logística a partir da qual organizações extremistas violentas do Burquina Faso lançam ataques noutras áreas, à medida que tentam expandir-se para a África Ocidental. Os terroristas ligados à al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico (EI) também utilizam o norte do Gana como base médica, onde os seus combatentes feridos são tratados.
De acordo com uma nova reportagem da Reuters, as autoridades ganesas estão a “fechar os olhos” aos terroristas que atravessam o Burquina Faso para se abastecerem de alimentos, combustível e explosivos. Embora esta abordagem tenha poupado o Gana ao tipo de ataques terroristas mortais que têm assolado o Sahel, corre o risco de permitir que os militantes se estabeleçam no país e, possivelmente, recrutem novos combatentes das comunidades locais marginalizadas, dizem os observadores.
O Gana está a trabalhar com o Burquina Faso para forçar a saída dos terroristas, Boniface Gambila Adagbila, embaixador do Gana no Burquina Faso, disse à Reuters. Este acontecimento reforça os receios dos analistas de segurança que há anos alertam para a expansão de grupos terroristas ligados à al-Qaeda e ao EI para os países da África Ocidental.
“Os dois grandes grupos terroristas veteranos estão a ganhar terreno,” Seidik Abba, presidente do instituto de investigação CIRES de Paris, disse à Reuters. “A ameaça está a espalhar-se geograficamente.”
De acordo com um relatório de Julho, do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), o número anual de incidentes violentos ligados a grupos militantes do Sahel dentro e num raio de 50 quilómetros dos países costeiros da África Ocidental aumentou mais de 250% nos últimos dois anos, com mais de 450 incidentes.
A Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen (JNIM), afiliado à al-Qaeda, é um dos principais grupos terroristas da região. O Instituto de Relações Internacionais dos Países Baixos, Clingendael, afirmou num relatório que a JNIM não lança ataques no Gana porque não quer perturbar as linhas de abastecimento nem provocar o exército do Gana, que é considerado forte.
“No entanto, para evitar uma escalada, [o Gana] também parece ter aceitado uma não-agressão de facto com a JNIM,” afirma o relatório do Clingendael.
O Ministério da Segurança do Gana negou esta afirmação. Num comunicado de Outubro, afirmou que não existia qualquer “política de não agressão” ou acordos tácitos com grupos militantes. O ministério rejeita veementemente a imagem do Gana como uma “linha de abastecimento” para os militantes,” diz o comunicado. “Os esforços do Gana na luta contra o terrorismo são justamente elogiados pelos seus parceiros na incansável luta regional e mundial contra o terrorismo.”
Falando sob anonimato, um alto funcionário da segurança do Gana disse que os terroristas estão a ser monitorizados e são por vezes utilizados como informantes. “Já prendemos muitos terroristas no passado e entregámo-los ao Burquina,” o funcionário disse à Reuters.
O Benin tem sido a nação costeira africana mais afectada pela violência que se alastra. O número de vítimas mortais relacionadas com a violência islamista no país duplicou para 173 no ano passado, segundo o ACSS. A percentagem de aumento de vítimas mortais foi semelhante no Togo, que registou 69 mortes.
O Benin registou o seu primeiro incidente de violência extremista em 2019, e o número de ataques registados por organizações terroristas sahelianas em solo beninense tem aumentado todos os anos desde então. Em 2022, registaram-se 20 ataques — a maior parte dos quais perpetrados pela JNIM, mas também pelo EI — e 40 em 2023, segundo o The Defense Post.
No ano passado, o Exército do Benin afirmou que o país tinha registado o maior aumento de ataques de militantes extremistas em África, numa altura em que os grupos terroristas dos vizinhos Burquina Faso e Níger visavam cada vez mais o norte do Benin, sobretudo o complexo de parques W-Arly-Pendjari. Entre Julho de 2023 e Julho de 2024, o número de mortes no Benin devido à violência extremista duplicou para 173 em relação ao igual período do ano anterior, de acordo com o ACSS. Em resposta, o governo do Benin aumentou a sua presença militar nas bases fronteiriças.
Terroristas do Parque Nacional W do Benin mataram pelo menos sete elementos das forças de segurança beninenses e cinco guardas florestais que trabalhavam com uma organização sem fins lucrativos, em Julho.
No dia 20 de Julho, a JNIM atacou um quartel do exército no norte do Togo, perto da fronteira com o Burquina Faso, matando seis pessoas e apoderando-se de armas. Na altura, a JNIM também reivindicou a responsabilidade por ataques a oito operações militares no Burquina Faso, Mali e Níger, afirmando ter matado mais de 22 soldados em quatro dias.
Em Abril, o Presidente do Togo, Faure Gnassingbé, afirmou que os jihadistas tinham matado cerca de 140 pessoas, incluindo cerca de 100 civis, desde os seus primeiros ataques no Togo, no final de 2021.
Quatro pessoas que seguiam num triciclo na cidade de Bonzougou, no centro-norte do país, foram mortas em Junho depois de terem passado por cima de um engenho explosivo improvisado. Vários grupos terroristas operam na região de Savannahs, embora nenhum tenha reivindicado a autoria do ataque, informou o jornal L’Alternative, do Togo.
O ataque de Bonzougou situa-se mais a sul do território do Togo do que os anteriores.