EQUIPA DA ADF
No dia de Natal de 2023, combatentes vulgarmente designados por “bandidos” mataram mais de 115 pessoas no norte da Nigéria. Os bandidos destruíram mais de 220 casas em cerca de 10 comunidades. Mataram mais de 400 pessoas no Estado de Plateau em ataques no último trimestre de 2023, informou a Fundação Jamestown.
Na última década, o noroeste da Nigéria tem-se tornado cada vez mais infestado de bandidos que actuam como grupos criminosos. O banditismo envolve crimes como o homicídio e o rapto, mas também inclui grupos armados não estatais, como as facções do Boko Haram, grupos separatistas e militantes. O Instituto Internacional da Paz observa que, embora algumas das actividades destes grupos sejam semelhantes, “cada um deles tem motivos, objectivos e métodos distintos e abrange um vasto leque de intervenientes.”
Só no noroeste do país, cerca de 30.000 bandidos estão distribuídos por numerosos grupos, cujo número varia entre 10 e mais de 1.000 combatentes. Mas é também um problema nacional. Outras partes da Nigéria têm criminosos semelhantes, incluindo militantes do Delta do Níger, no sul, e grupos separatistas no sudeste.
“O banditismo é um crime composto que inclui o rapto, o massacre, a violação, o roubo de gado e a posse ilegal de armas de fogo,” Oluwole Ojewale escreveu num relatório de Maio para o Observatório Global. Segundo os investigadores, os bandidos tinham deslocado 1,1 milhões de pessoas em aldeias rurais do noroeste até ao final de 2022. Estima-se que o banditismo tenha sido responsável por pelo menos 14.000 mortes na região.
Duas facções dissidentes do Boko Haram deslocaram-se para o noroeste da Nigéria, “onde exploram as queixas da comunidade e estabelecem alianças com milícias ligadas aos pastores e grupos criminosos,” informou o Instituto Clingendael em Junho.
No caso das rusgas no Estado de Plateau, não houve qualquer reivindicação de responsabilidade nem qualquer explicação dos motivos. “É comum, no entanto, que os grupos de bandidos não tenham uma motivação religiosa ou ideológica para os ataques,” observou a Fundação Jamestown. “Em vez disso, muitas vezes, matam como parte de operações de extorsão, para roubar gado ou para ‘punir’ as comunidades por não lhes concederem pastagens para o seu próprio gado ou outras concessões económicas.”
Os primeiros grupos de bandidos formaram-se no início da década de 2010, em grande medida, como parte dos conflitos em curso entre agricultores de etnia Hausa e pastores Fulani sobre a propriedade da terra e os direitos de pastagem, de acordo com uma reportagem de Junho da revista New Lines.
“Estes conflitos aumentaram em toda a África Subsariana, acelerados pelas alterações climáticas,” refere a revista. “As disputas, motivadas principalmente por factores ambientais, levaram a conflitos de pequena escala e a ataques esporádicos que resultaram em danos nas colheitas e no roubo de gado. Armas primitivas como paus, punhais e armas dinamarquesas fabricadas localmente eram frequentemente utilizadas nestas escaramuças.”
CAMPOS DE ARROZ EM RISCO
Em 2015, a Nigéria proibiu as importações de arroz para apoiar a produção nacional. A Associação de Produtores de Arroz da Nigéria refere que 12 milhões de nigerianos começaram a cultivar arroz nos anos que se seguiram à proibição. Com a Nigéria a consumir mais arroz do que qualquer outro país do continente, os produtores de arroz prosperaram. Com esta prosperidade, os agricultores tornaram-se um novo alvo para os bandidos.
A revista New Lines descreveu um assalto típico a uma exploração de arroz em Abril de 2021, quando os bandidos invadiram uma exploração agrícola no Estado de Sokoto e exigiram o que alegavam ser impostos que o produtor de arroz lhes devia em troca de protecção. Os pagamentos estavam atrasados, segundo eles, pelo que se apoderaram do dinheiro à força e raptaram agricultores da aldeia para obterem um resgate. Um vizinho contou à revista como os bandidos arrastaram o agricultor para o exterior e o obrigaram a deitar-se no chão, enquanto ele lhes pedia que não fizessem mal à sua mulher grávida. Mas depois de terem levado o que queriam, cortaram a garganta do agricultor.
“Quando acabaram com ele, os gritos da mulher encheram o ar enquanto ela corria para o seu lado,” disse o vizinho à revista. “Um deles virou-se para ela e esvaziou a arma no seu corpo.”
DETENDO OS BANDIDOS
Apesar da ameaça que os bandidos representam, a Nigéria tem tido algum sucesso na luta contra eles nos últimos anos. Em Maio, o Ministro da Defesa da Nigéria, Mohammed Badaru, afirmou que os militares tinham matado cerca de 9.300 bandidos e terroristas e detido mais 7.000, segundo o Premium Times da Nigéria. Os soldados também confiscaram cerca de 5.000 armas e quase 84.000 munições.
Há provas de que a segurança em toda a Nigéria está a melhorar, segundo David Roberts, um antigo diplomata britânico. Ele disse que a administração do Presidente Bola Ahmed Tinubu, que tomou posse em Agosto de 2023, introduziu algumas melhorias genuínas na segurança do país.
Roberts, que serviu na Nigéria como director do British Council, disse que as estatísticas mostram que os assassinatos de terroristas no país são agora sobretudo entre grupos terroristas rivais e bandidos, acrescentando que as lutas internas entre os actores não estatais significam que os militares nigerianos conseguiram infiltrar-se neles e virá-los uns contra os outros.
“A estrada que já foi a mais mortífera do mundo, a auto-estrada Abuja-Kaduna, deu uma volta de 180 graus,” afirmou, segundo o jornal The Nation. “Não houve um único incidente registado nessa estrada em 2024. As comunas jihadistas e os espaços de bandidos sem governo desapareceram e os quase senhores da guerra que os dirigiam foram neutralizados.”
Ainda assim, a ameaça dos bandidos é mortal. Em Abril, seis soldados nigerianos morreram e dois ficaram feridos numa emboscada durante uma patrulha no Estado do Níger, segundo o Africanews. Sabe-se que um líder de bandidos com ligações ao grupo extremista Estado Islâmico opera na zona.