EQUIPA DA ADF
As mortes relacionadas com o terrorismo em África aumentaram em 2023, tendo a maior parte da violência ocorrido num pequeno número de países, enquanto no resto do continente as mortes relacionadas com o terrorismo diminuíram.
No total, as mortes relacionadas com o terrorismo em África aumentaram 20% num ano, passando de 19.412 em 2022 para 23.322 em 2023. A contagem mais recente é quase o dobro do número de mortos em 2021, de acordo com uma análise recente do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).
Ao mesmo tempo, o número de ataques terroristas diminuiu 5%, para pouco menos de 6.560, em comparação com 2022. Esta é a primeira vez que os ataques registam uma tendência decrescente desde 2016.
O Burquina Faso, o Mali, o Níger e a Somália foram os países que mais mortes causaram em África devido ao terrorismo em 2023. Os quatro países lutam contra insurgências conduzidas por afiliados da al-Qaeda ou do grupo do Estado Islâmico e representam actualmente 99% das mortes relacionadas com o terrorismo em África, de acordo com o relatório do ACSS.
Só o Burquina Faso foi responsável por dois terços das 11.643 mortes relacionadas com o terrorismo na região do Sahel, um total que, segundo os analistas do ACSS, é provavelmente subnotificado devido às restrições impostas aos meios de comunicação social regionais.
A região do Lago Chade registou um menor número de mortes relacionadas com o terrorismo, em grande parte devido ao Boko Haram. As mortes em torno do Lago Chade têm vindo a diminuir lentamente desde 2020.
Os militares derrubaram os governos civis no Burquina Faso, no Mali e no Níger. Nos três casos, a violência e as mortes aumentaram desde os golpes de Estado, representando cerca de metade de todas as mortes relacionadas com o terrorismo em 2023.
“As mortes no Sahel representam um aumento de quase três vezes em relação aos níveis registados em 2020, quando ocorreu o primeiro golpe militar na região — ostensivamente justificado com base na insegurança,” relataram os analistas do ACSS.
De acordo com o relatório do ACSS, a coligação Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin é responsável por 81% das mortes nos países do Sahel.
O Benin, a Costa do Marfim, o Gana e o Togo começaram a sentir a pressão da violência que atravessa as suas fronteiras setentrionais, à medida que o terrorismo cresce no Burquina Faso, no Mali e no Níger.
No Benin, por exemplo, os eventos violentos e as mortes duplicaram para 150 em 2023, em comparação com 2022. Em resposta, o Benin reforçou as suas forças de segurança nas províncias do norte e encerrou o Parque Nacional Pendjari, que faz fronteira com zonas extremistas no sudeste do Burquina Faso.
A intensificação da campanha militar na Somália contra o al-Shabaab, afiliado da al-Qaeda, provocou um aumento de 22% no número de vítimas mortais e 7.643 mortes, um recorde. Dois terços dos acontecimentos violentos e mais de três quartos das mortes estiveram relacionados com as batalhas das forças do governo federal da Somália contra o al-Shabaab, segundo o ACSS.
A actual campanha, lançada em Agosto de 2023, tinha como objectivo expulsar o al-Shabaab de redutos do centro da Somália, onde a repressão do grupo e a procura de apoio por parte da população local estão a virar o público contra ele, de acordo com uma análise recente do Centro de Acção Preventiva.
Noutras partes do continente, os extremistas de África do Norte e de Moçambique foram praticamente eliminados graças a esforços concentrados de luta contra o terrorismo. O terrorismo na África do Norte diminuiu 98% nos últimos anos e a actividade terrorista em Moçambique diminuiu 71%, segundo o ACSS. Os terroristas da província moçambicana de Cabo Delgado foram reduzidos a cerca de 200 pessoas escondidas na floresta de Catupa.
“Estes declínios ilustram o progresso que pode ser feito contra os grupos militantes islâmicos em África,” escreveram os analistas do ACSS.