EQUIPA DA ADF
Yevgeny Prigozhin construiu uma rede violenta e lucrativa de mercenários ao longo dos últimos cinco anos, na República Centro-Africana (RCA), na Líbia, no Mali e no Sudão. Os últimos dias antes da sua morte num acidente de aviação, a 23 de Agosto, foram passados em África a tentar expandir o seu alcance.
Agora, os líderes dos países onde as suas forças mercenárias operam perguntam-se sobre “o que se segue?”
O Dr. Edgar Githua, professor da Universidade de Strathmore, que estuda relações internacionais, paz e conflitos, disse que a morte de Prigozhin irá certamente afectar as finanças e a influência do grupo.
“Prigozhin era quem tinha os fluxos financeiros do Grupo Wagner,” disse Githua à Voz da América. “É ele que tem os contactos internacionais. Era ele que estava a conseguir todos os contratos internacionais.
“Era um espectáculo de um só homem. Prigozhin tinha muito poder e muita influência dentro desse grupo. Com a sua morte, o grupo vai ficar sem leme durante algum tempo.”
Os especialistas acreditam que o Kremlin irá provavelmente colocar os mercenários sob nova liderança para manter as relações militares, de segurança, mineiras e outras relações comerciais do Grupo Wagner em África.
Mas a morte de Prigozhin levanta questões sobre o futuro do seu exército privado.
Cameron Hudson, um investigador principal do Programa para África, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse que o Grupo Wagner deu a Moscovo uma máquina de influência barata com negação plausível.
“A ideia de uma entidade semelhante ao Grupo Wagner, ou seja, uma empresa militar privada que permitiu à Rússia ter resultados não oficiais, mas com grande impacto no continente, é demasiado valiosa para desaparecer,” disse à Bloomberg News.
Agora, a questão fundamental é saber se o exército russo vai assumir o controlo do Grupo Wagner.
“Isso significaria o fim do Grupo Wagner tal como o conhecemos,” Vitaly Shevchenko, editor da BBC Monitoring para a Rússia, disse no podcast Africa Today. “É essa a intenção do Kremlin. Penso que agora já se percebeu que, quando se alimenta este monstro brutal, ele pode ficar fora de controlo.
“E agora o Kremlin está a tentar voltar a pôr este génio na garrafa, por assim dizer, à custa do Grupo Wagner.”
Não só a presença da Rússia em África é desordenada, como a sua política externa se resume a apoiar ditadores e governantes militares, enquanto a sua invasão à Ucrânia desvia recursos e atenção significativos dos países africanos.
Joseph Siegle, director de investigação do Centro de Estudos Estratégicos de África, disse que a utilização de mercenários pela Rússia e a sua esperada aquisição do Grupo Wagner revelaram as suas intenções em África.
“O seu objectivo é garantir uma base de apoio no Norte de África e no Mar Vermelho, normalizar o autoritarismo e deslocar o sistema internacional baseado nas Nações Unidas,” escreveu para o site The Conversation Africa num artigo de 4 de Setembro.
“Nenhum destes objectivos visa tornar a África mais próspera ou estável. Pelo contrário, o continente é sobretudo um teatro para fazer avançar os interesses geoestratégicos da Rússia.”
Isso inclui o despojamento dos países de ouro, diamantes e outros recursos naturais.
Na RCA, o Grupo Wagner possui a maior mina de ouro do país, que pode produzir até 290 milhões de dólares de minério por ano. Este é apenas um dos muitos interesses comerciais que os mercenários de Prigozhin desenvolveram em detrimento dos cidadãos.
Os grupos de defesa de direitos humanos e a ONU têm relatado extensivamente as atrocidades cometidas pelo Grupo Wagner, tais como massacres, execuções sumárias, violações, torturas e pilhagens na RCA e no Mali — os dois países africanos com as maiores e mais formais parcerias com a Rússia.
“Há muito barulho à volta da morte de uma pessoa [Prigozhin],” disse o antigo primeiro-ministro da RCA, Martin Ziguele, à Bloomberg News. “Acho isso vulgar, comparado com o número de centro-africanos que perderam a vida em operações do Grupo Wagner no meu país, atrocidades que foram documentadas em numerosos relatórios.”
Para os líderes africanos que procuram apoio na Rússia e nos seus mercenários, a vida e a morte caóticas de Prigozhin podem ser um sinal de aviso.
“Putin fala frequentemente do seu desejo de criar uma nova ordem internacional,” escreveu Siegle. “A ilegalidade da Rússia, tanto a nível interno como externo, está a pôr em evidência como seria a sua ordem mundial. E essa não é uma visão que muitos líderes africanos partilham.”