EQUIPA DA ADF
Com a transferência do comando da Força-Tarefa Conjunta Multinacional (MNJTF), os líderes esperam manter a dinâmica contra o grupo extremista Boko Haram. Mas os observadores alertam para o facto de outros grupos da região poderem ser mais difíceis de derrotar.
O comandante cessante, o Major-General Abdul Khalifah Ibrahim, da Nigéria, entregou a bandeira da MNJTF ao seu sucessor, o Major-General Gold Chibuisi, da Nigéria, durante uma breve cerimónia a 19 de Abril no quartel-general da MNJTF em N’Djamena, Chade.
Ibrahim declarou que a Bacia do Lago Chade está em melhor estado do que quando assumiu o comando, em Agosto de 2021.
“Os ataques diminuíram em 60% ou mais na região da Bacia do Lago Chade,” afirmou. “Em locais como Barova e Diffa, no Níger, as pessoas deslocadas internamente e os refugiados estão a regressar.”
Chibuisi comprometeu-se a aproveitar a dinâmica da força na luta da região contra o Boko Haram e a Província do Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP), o seu grupo dissidente rival mais forte.
Os dois grupos extremistas têm-se confrontado desde que as disputas no seio do Boko Haram levaram centenas de combatentes a separarem-se e a formarem o ISWAP, em 2015.
As perdas no campo de batalha, as deserções para o ISWAP e as rendições em massa enfraqueceram o Boko Haram e reduziram o seu território.
“A força do Boko Haram foi comprometida, talvez fatalmente, pelo ISWAP, que detém maiores recursos económicos e humanos para a sua causa,” escreveu Ana Aguilera, investigadora do Observatório Internacional de Estudos sobre Terrorismo, num artigo de 2 de Maio.
As operações da MNJTF também estão a pressionar os remanescentes do Boko Haram, que em 2009 lançou uma insurreição que causou a morte de dezenas de milhares de pessoas no nordeste da Nigéria e a deslocação de milhões de pessoas na região do Lago Chade.
Os combates entre o Boko Haram e o ISWAP intensificaram-se em Fevereiro e Março em aldeias situadas nas margens do Lago Chade, no distrito nigeriano de Abadam, perto da fronteira com o Níger.
“Estamos cientes dos combates entre os terroristas, o que é bom para nós, por isso estamos apenas a observar e a manter-nos atentos ao desenrolar da situação,” disse uma fonte dos serviços secretos nigerianos à Agence France-Presse. “É difícil fazer um balanço de ambos os lados, mas os números são de facto enormes. Estamos a falar de mais de 200 mortos só numa [aldeia].”
A ascensão do ISWAP poderá anunciar a queda do Boko Haram.
Os funcionários nigerianos e os analistas regionais registaram os esforços do ISWAP para governar o território capturado. A organização angaria fundos através de ataques, raptos para pedido de resgate e cobrança de impostos aos habitantes e comerciantes locais.
Os analistas das Nações Unidas estimaram a força do ISWAP entre 4.000 e 5.000 combatentes em 2022. O grupo, com bons contactos e recursos, continua a atacar instalações militares, a matar soldados e a apoderar-se de armas e outros materiais.
Os peritos alertam para o facto de o ISWAP poder vir a revelar-se uma ameaça mais duradoura.
De acordo com o relatório do Índice Global de Terrorismo de 2023, publicado a 14 de Março, os ataques do Boko Haram caíram para o nível mais baixo em mais de uma década, o que resultou numa “melhoria substancial” no Estado de Borno, um dos bastiões do grupo.
O relatório acrescenta que a taxa de letalidade do ISWAP aumentou no Estado, com 40 incidentes que resultaram em 168 mortes em 2022, em comparação com os seis incidentes e 63 mortes do Boko Haram.
“O ISWAP tornou-se significativamente mais forte e continua a expandir a sua área de actividade no nordeste da Nigéria e na região do Lago Chade,” afirma o relatório.
Com o objectivo de capitalizar as lutas internas, a MNJTF lançou, em finais de Abril, a Operação Harbin Kunama na região do Lago Chade. O nome da operação significa “matar um escorpião” na língua Hausa.
A eficácia e o nível de coordenação da MNTJF melhoraram significativamente desde que reorganizou e transferiu a sua sede para N’Djamena em 2015.
Composta por tropas do Benim, dos Camarões, do Chade, do Níger e da Nigéria, a força está dividida em Sector 1, baseado em Mora, nos Camarões; Sector 2, baseado em Baga-Sola, no Chade; Sector 3, baseado em Monguno, na Nigéria; e Sector 4, baseado em Diffa, no Níger.
Pouco depois de assumir o comando, Chibuisi visitou os quartéis-generais dos quatro sectores e instou as suas tropas a pôr fim ao Boko Haram e à ISWAP.
“A tarefa que temos pela frente é muito séria,” afirmou a 19 de Abril. “Considero um privilégio ser nomeado para este alto cargo e é também claro que temos de trabalhar em conjunto para cumprir este mandato.
“Encorajo toda a gente a pôr as mãos na sela.”