EQUIPA DA ADF
O surto da COVID-19, na Zâmbia, no início deste ano, obrigou o encerramento de empresas e impôs quarentena para impedir a propagação desta doença respiratória.
Contudo, para um grupo de zambianos, a quarentena terminou em Outubro e só depois da intervenção do governo local.
Os mineiros da empresa CNMC Luanshya Copper Mines (Minas de Cobre de Luanshya), de propriedade chinesa, viram-se trancados numa parte da mina, durante cinco meses, para evitar espalhar o vírus aos seus empregadores chineses.
O confinamento de Luanshya tinha passado despercebido ao governo até que os familiares dos trabalhadores pediram que o governo agisse, porque o confinamento lhes estava a causar dificuldades económicas. Muitos dos mineiros também praticam a agricultura para complementar a sua renda, e o confinamento tinha tornado isso impossível.
De acordo com OpenZambia.com, a esposa de um dos mineiros disse que “muitos líderes têm mentido para nós, dizendo que irão certificar que os nossos maridos sejam autorizados a sair da quarentena, mas são só mentiras.”
O incidente de Luanshya é uma mistura de três factores que agora criam uma pressão sobre a economia e a política da Zâmbia: a queda na procura do cobre, as relações frágeis com o aliado de longa data, a China, e o impacto da COVID-19 sobre o sistema nacional de saúde.
Como o principal bem de exportação da Zâmbia, o cobre contribui com cerca de 70% do rendimento estrangeiro do país. A pandemia da COVID-19 reduziu a procura pelo cobre no mercado internacional. Ao mesmo tempo, a Zâmbia enfrenta a possibilidade de ter de reembolsar milhões em dívida externa, maior parte da qual detida por bancos chineses — uma dívida que o país tem estado a procurar alívio para poder ser capaz de lidar com a propagação do vírus.
A China é um parceiro de comércio com a Zâmbia desde que o país ganhou a independência, em 1960. Recentemente, cidadãos e empresas chineses aumentaram a sua presença na Zâmbia, em particular no sector mineiro. A CNMC adquiriu 80% das acções da Mina de Cobre de Luanshya, em 2009.
A CNMC e outras minas cujos proprietários são chineses têm um longo histórico de casos de abusos perpetrados contra os seus funcionários zambianos, de acordo com a Human Rights Watch, que reportou os problemas nas operações da CNMC.
O confinamento obrigatório da mina de Luanshya não foi o único confinamento de uma mina de propriedade chinesa na Zâmbia este ano.
Em Junho, a União de Mineiros da Zâmbia (MUZ) entrou em negociações para que mineiros das minas de Chambishi, da CNMC, fossem autorizados a sair. Os trabalhadores viviam em dormitórios e não tinham privacidade. Nos termos das condições do emprego, os trabalhadores que saíssem da mina durante o confinamento obrigatório perderiam os seus empregos, de acordo com funcionários da MUZ.
Os funcionários da união comunicaram que os proprietários da mina ajudavam os funcionários em produtos alimentares e financeiros enquanto continuassem a viver na mina.
Aumentando ainda mais as tensões: Em Setembro, a CNMC encerrou a mina de Baluba, em Luanshya, e obrigou mais de 1.600 trabalhadores a sair. A empresa disse que o encerramento foi devido a queda acentuada dos preços de cobre a nível mundial e falhas no fornecimento de corrente eléctrica.
Depois de várias semanas a pedir que a CNMC libertasse os seus trabalhadores das instalações de Luanshya, o parlamentar local, Joseph Chishala, liderou uma equipa do governo para realizar uma inspecção na mina, no início de Outubro. Os empregadores finalmente libertaram os trabalhadores.
“Não podemos ter uma situação onde os nossos próprios irmãos vivam como escravos no seu próprio país,” disse Chishala, durante uma conferência de imprensa na mina. “Isto é inaceitável e não deve ser tolerado.”