EQUIPA DA ADF
Quatro anos após o fim dos combates nos bairros do sul de Trípoli, as minas terrestres e os explosivos armadilhados continuam a mutilar e a matar civis.
Nos últimos cinco anos, mais de 400 pessoas foram mortas ou feridas por explosivos escondidos em toda a Líbia. Pelo menos 35 dessas explosões registaram-se em 2023. A maioria das vítimas eram crianças, como Mohamed Farhat, de 10 anos.
Mohamed e os seus amigos estavam a brincar num jardim perto da sua casa no sul de Trípoli quando apanharam um pedaço do que pensavam ser sucata.
A explosão levou três dos amigos ao hospital. Mohamed ficou gravemente ferido.
“Não sabíamos que era uma arma,” o amigo de Mohamed, Hamam Saqer, de 12 anos, contou à Agence France-Presse.
Enquanto os governos rivais da Líbia continuam a disputar o controlo do país, as minas terrestres e outros explosivos representam uma séria ameaça para a população. Muitos desses explosivos têm marcas russas — deixadas pelo antigo Grupo Wagner, a força mercenária russa que lutou ao lado do líder militar do leste, o Marechal Khalifa Haftar, durante a segunda guerra civil da Líbia.
As forças de Haftar e o Governo de Acordo Nacional, reconhecido internacionalmente, travaram uma batalha sangrenta pelo controlo de Trípoli entre Abril de 2019 e Junho de 2020, após a qual as forças de Haftar foram travadas na periferia sul da capital e obrigadas a recuar.
Na sua retirada, as tropas deixaram minas terrestres e bombas armadilhadas espalhadas pela paisagem, incluindo dentro de brinquedos e parques infantis. O alcance total das armadilhas continua desconhecido.
Actualmente, em cidades como Trípoli, Misrata e Sirte, as equipas de desminagem procuram nos escombros de bairros em ruínas por engenhos explosivos. Pouco mais de um terço das terras minadas foram limpas. De acordo com a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL), subsistem mais de 43.600 hectares de território contaminado.
“Estes números não só põem em evidência os graves desafios que enfrentamos, como também sublinham a importância vital das parcerias internacionais,” Fatma Zourrig, chefe da Secção de Acção contra as Minas da UNSMIL, disse no mês de Maio.
A UNSMIL está a trabalhar com o Centro de Acção contra as Minas da Líbia, a Free Fields Foundation, sediada em Trípoli, e a HALO Trust para educar os líbios sobre o risco das minas terrestres persistentes e para formar equipas locais de desminagem para as identificar e eliminar em segurança.
“Apesar dos esforços anteriores de várias organizações humanitárias de acção contra as minas para remover estes vestígios letais de guerra, não houve o conhecimento técnico necessário para tornar seguras as cidades dizimadas da Líbia,” a HALO Trust escreveu na sua página da internet. “Como resultado, as famílias desesperadas por reconstruir as suas vidas não puderam regressar às suas casas.”
A HALO Trust treinou duas equipas de desminagem em Sirte, a cidade da costa central que é ferozmente disputada por ambos os lados da guerra civil. Os combates deslocaram mais de 200.000 habitantes.
“Uma pilha de escombros de cada vez, eles (as equipas de desminagem) estão agora a limpar a sua própria cidade de detritos explosivos — tornando-a segura para as pessoas regressarem a casa e reconstruírem as suas vidas,” escreveu a HALO Trust.
Em Maio, o Centro de Acção contra as Minas da Líbia anunciou planos para desenvolver um plano de desminagem a nível nacional. No entanto, mesmo que os líderes líbios devolvam a estabilidade ao país, os oficiais da defesa disseram à AFP que a remoção de todas as minas pode levar até uma década.