EQUIPA DA ADF
Décadas de tensões étnicas latentes na cidade de Bawku, no norte do Gana, transformaram-se recentemente em violência armada.
As forças de segurança foram destacadas, e o conflito captou a atenção do país, tendo suscitado receios de que grupos terroristas se expandissem para a região.
Especialistas dizem que o conflito em Bawku representa uma séria ameaça à segurança do Gana, uma vez que as organizações extremistas violentas exploram frequentemente a instabilidade local.
No dia 27 de Março, perguntou-se ao Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, se a al-Qaeda já se encontrava no Gana.
“Não sei. Oficialmente, não temos qualquer informação nesse sentido,” disse o presidente numa conferência de imprensa. “É bem possível que já existam células no país.”
Dois dias depois, um porta-voz do governo comprometeu-se a assegurar ao mundo sobre a estabilidade do Gana, clarificando a declaração do presidente.
“Não prendemos nenhum terrorista que pertença a nenhum dos grupos terroristas em ascensão na região da África Ocidental,” disse Palgrave Boakye-Danquah durante uma entrevista com a rádio Neat FM. “Os chefes de segurança estão a fazer tudo o que podem para assegurar [que] se terroristas estiverem presentes no país, serão detidos e devidamente processados.”
Especialistas e políticos ganeses estão a alertar que Bawku é um óbvio barril de pólvora que os extremistas militantes podem facilmente explorar.
A pouco mais de 5 quilómetros da fronteira porosa do Gana com o Burquina Faso, Bawku é um centro de comércio com os países sahelianos. A região é também conhecida por rotas de contrabando bem estabelecidas e pela extracção ilegal de ouro.
As duas juntas, resultam numa combinação tentadora para organizações terroristas.
Adib Saani, director-executivo do Jatikay Center for Peace Building, sediado em Accra, disse que Bawku é o “elo mais fraco” do Gana na sua luta para proteger o país da expansão terrorista.
“A possibilidade de elementos terroristas tirarem partido da situação em Bawku para se infiltrarem no país é muito elevada,” disse ao site de notícias do The Ghana Report. “Bawku tornou-se, como resultado, uma sociedade semi-ilegal. Os elementos criminosos irão prosperar, incluindo os envolvidos no tráfico de armas e de seres humanos.”
A centelha em Bawku foi uma disputa de chefia que remontava a 1983 e que recentemente reacendeu as tensões. Mais de 30 pessoas foram mortas em combates étnicos entre Dezembro e Abril, de acordo com a polícia.
A proliferação de armas automáticas levou ao aumento do número de mortes, bem como as suspeitas sobre as suas origens.
No dia 3 de Abril, próximo do departamento de polícia de Bawku, homens armados abriram fogo contra três agentes da migração fora de serviço no seu veículo, matando um deles.
O Gana respondeu destacando 1.000 membros das forças especiais para a área, a fim de proteger a fronteira com o Burquina Faso. As autoridades governamentais tinham anunciado anteriormente planos de enviar 5.000 agentes de segurança para Bawku para conter a violência.
O ministro regional do Alto Oriente, Stephen Yakubu, disse que o exército está a estabelecer pequenas bases avançadas ao longo da fronteira e que o serviço de migração também está a aumentar a sua presença nas fronteiras.
“É caso para dormir com um só olho fechado,” disse à revista The Africa Report. “Estamos cientes das possíveis ameaças que a situação no Burquina Faso nos coloca. “O nosso foco agora é como fazer com que as duas facções parem de lutar para que Bawku esteja em paz. Exortamo-los a cessar o fogo e a fumar o cachimbo da paz. Sabemos que estamos definitivamente a chegar ao fim disto.”
Durante vários anos, o Gana tem vindo a preparar-se para grupos terroristas que se expandem do Sahel em direcção ao sul. Grupos alinhados com a al-Qaeda e o grupo do Estado Islâmico intensificaram os ataques nas partes setentrionais dos Estados do Golfo da Guiné, incluindo Benin, Costa do Marfim e Togo.
Bawku também já viu mais de 4.000 refugiados do Burquina Faso estabelecerem-se em campos próximos após terem fugido da violência extremista através da fronteira.
O governo já reconheceu que os grupos terroristas que operam na África Ocidental estão a recrutar ganeses.
“O terrorismo e a pirataria são hoje algumas das nossas maiores ameaças à segurança em toda a África Ocidental,” disse o Ministro da Informação, Kojo Oppong-Nkrumah, em 2022, de acordo com o site de notícias Pulse Ghana. “Se olharmos para os números e para o quão perto se está de [chegar] a casa, e para o facto de agora termos razões para acreditar que alguns recrutamentos ocorreram aqui no Gana … há muito mais a fazer.”