EQUIPA DA ADF
A presença contínua de militantes estrangeiros na Líbia ameaça pôr em perigo o acordo de paz intermediado pelas Nações Unidas, em Outubro de 2020.
Mercenários russos que fazem parte do Grupo Wagner, que apoia o Exército Nacional da Líbia (LNA), do General Khalifa Haftar, ainda se encontram no terreno, assim como estão os soldados da Turquia que apoiam o internacionalmente reconhecido Governo do Acordo Nacional (GNA). Nos termos do Acordo de Paz de Juba, militantes estrangeiros deviam abandonar o país até finais de Janeiro.
Semanas depois de ter passado o prazo, as Nações Unidas emitiram um relatório referindo que os Emirados Árabes Unidos (EAU) também mantiveram contacto com as forças sudanesas que apoiam Haftar. Em 2020, os EAU aumentaram a entrega de armamento a Haftar, violando o embargo de armas das Nações Unidas, comunicou o The Wall Street Journal.
A Líbia é valorizada pelos seus recursos petrolíferos e pela sua localização estratégica no Mar Mediterrâneo. O Grupo Wagner também está activo no Ruanda, Madagáscar, Sudão, República Centro-Africana e em Moçambique.
“O Grupo Wagner foi destacado pela Rússia como uma extensão das suas ambições militares e estrangeiras, mas coincidentemente alguns regimes autoritários têm sido seus clientes,” Ahmed Hassan, PCA da Grey Dynamics, uma empresa de consultoria de inteligência, disse ao Business Insider. “Claro que esse tipo de regimes, muitas vezes, procura resolver a instabilidade civil através da força e o Wagner é a tal ferramenta.”
O grupo russo denunciou claramente as suas intenções de permanecer na Líbia por longo prazo com a construção de uma trincheira que se estende por cerca de 70 quilómetros a sul, a partir da costa de Sirte em direcção a uma base aérea controlada por Haftar, em al-Jufra, de acordo com a CNN. A trincheira é marcada por uma série de fortificações que parecem ter sido desenhadas para impedir ataques terrestres.
Imagens de satélite mostram mais de 30 posições defensivas cavadas ao longo da trincheira com posições-chave próximas da base aérea de al-Jufra e uma mais a sul, em Brak, onde foram instaladas defesas anti-radar.
“Não penso que qualquer pessoa que cava uma trincheira hoje e que esteja a fazer todos estes reforços tenha a intenção de sair em pouco tempo,” disse o Ministro da Defesa do GNA, Salaheddin Al-Namroush, à CNN.
Muhammad Ammari, um membro do Conselho Presidencial da Líbia, concordou.
“As forças Wagner não irão obedecer a qualquer acordo que os obrigue a sair da Líbia,” Ammari disse ao The Libya Observer. “O Grupo Wagner fornece ao governo russo o poder, os meios e influência política, militar e económica à Líbia.”
Durante os encontros secretos com as autoridades da Líbia, em Junho de 2020, os representantes do grupo Wagner exigiram que pelo menos 30% do rendimento de petróleo da Líbia fosse para Haftar e anunciou as suas intenções de criar uma base militar na região leste da Líbia, disse Ammari ao jornal.
O Grupo Wagner foi fundado por Yevgeny Prigozhin, um aliado muito próximo do Presidente Vladimir Putin, e possui um histórico de acções destrutivas na Líbia. Quando o Grupo se retirava dos arredores de Tripoli, no ano passado, deixou para trás minas terrestres para mutilar e matar os residentes que regressassem.
Mais de 2.000 pessoas morreram durante o conflito entre o GNA e o LNA, e ainda existem cerca de 20.000 tropas estrangeiras e mercenários a operarem na Líbia, noticiou o Al-Jazeera. A maior parte das forças está concentrada próximo de Sirte, a base aérea de al-Jufra e na base aérea de al-Watiya, na região oeste da Líbia.
A intenção do Kremlin de continuar a expandir a sua influência na Líbia ficou aparente pouco antes de os acordos de paz terem sido assinados, quando os aviões de caça do LNA foram secretamente renovados e beneficiaram de manutenção, com as peças enviadas da Rússia, em 2019 e 2020, violando o embargo de armas das Nações Unidas, de acordo com um relatório do MEED.com.
As tropas turcas irão permanecer na Líbia enquanto o acordo militar bilateral entre os países estiver activo e o governo da Líbia assim o desejar, Ibrahim Kalin, porta-voz presidencial da Turquia, disse à Reuters, em Fevereiro. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o seu país iria pensar na possibilidade de o seu país retirar as suas tropas apenas se os outros poderes estrangeiros assim o fizerem primeiro.
“É pouco provável que os mercenários abandonem a Líbia enquanto os países que os contactaram ainda não tiverem garantido os seus interesses na nova fase de transição,” Khaled al-Montasser, professor de relações internacionais, na Universidade de Tripoli, disse à France 24. “A sua presença mantém viva a ameaça de confrontos militares a qualquer altura, enquanto a continuação em vigor da actual tranquilidade parece ser incerta.”