EQUIPA DA ADF
As florestas cobrem apenas um décimo do Sudão e estão a diminuir cada vez mais, vítima de negligência governamental que permitiu que os grupos de milícias as explorassem com impunidade.
O desaparecimento de cobertura de florestas está a levar a um aumento da desertificação, destruição de terras de pastos e a prejudicar a produção nacional de goma-arábica, um estabilizador de alimentos, que é feito através do esvaziamento de acácias.
A destruição também prejudicou a porção do Sudão, do projecto Grande Muralha Verde, da União Africana — um plano para plantar milhares de árvores em todo o Sahel a fim de impedir o alastramento do deserto.
“Estamos a caminhar em direcção a um buraco na terra que pode muito bem ser um abismo,” o activista ambiental sudanês, Mahgoub Al Halimaby, disse ao The National.
Apesar do seu tamanho limitado, as florestas do Sudão desempenham um papel vital na economia nacional e nas vidas da sua população rural e nómada, noticiou a FNC.
As florestas estão concentradas nas regiões sul e leste do Sudão, com as maiores porções nas regiões de Darfur do Sul e do Nilo Azul. Ambas as regiões sofreram com violência e agitação social desde o golpe de Estado de Outubro de 2021.
Com a junta no poder, o Sudão perdeu bilhões de dólares em ajuda estrangeira que inclui dinheiro para a protecção das florestas.
O alastramento da violência na região de Tigré, da vizinha Etiópia, também está a obrigar as populações desesperadas a entrarem no país que vêem as florestas como uma fonte de obtenção de dinheiro rápido. As florestas do Sudão albergam o pau-preto africano, que é utilizado para fazer mobília.
“A faixa de goma-arábica está a movimentar-se em direcção ao sul. Em poucos anos, não teremos produção de goma-arábica no Sudão,” analista económico, Hafiz Ismail, disse à Radio Dabanga. “As pessoas na realidade não estão cientes dos perigos da desflorestação.”
De acordo com a ONG, Global Forest Watch, a região com mais florestas do Sudão, o Darfur do Sul, perdeu 48 hectares de cobertura florestal em 2021. Nos últimos 20 anos, a região registou uma perda de 10.500 hectares de cobertura.
Ismail disse que o Sudão sabe o que lhe espera se não acabar com a destruição da sua floresta remanescente. Ele já viu os resultados de tais acções.
“Isso causou um impacto em muitas áreas do Darfur do Norte e de Kordofan do Norte,” disse Ismail. “Estes lugares tornaram-se inabitáveis, e as pessoas perderam os seus meios de subsistência. Não há água e não existem terras para a pastagem de animais.”
As dunas de areia começaram a alastrar-se para as zonas verdes de Kordofan do Sul à medida que o Sahara segue os abatedores de árvores.
A exploração ilegal de madeira no Sudão acelerou depois da queda do antigo líder do Sudão, Omar Al Bashir. As milícias associadas ao exército vieram em massa para Cartum à procura de emprego e apoio dos seus patrões. Quando eles não encontraram, regressaram para o campo onde as florestas ofereciam uma fonte de renda.
“Eles não possuem seus próprios recursos, por isso, regressaram para as florestas para obterem um meio de subsistência, abatendo árvores para vendê-las como lenha ou queimando-as e vendendo-as como carvão,” Hanadi Awadallah, oficial sénior da Forests National Corporation, do Sudão, disse ao The National.
“Não se pode fazer muito para impedir alguém que porta uma AK-47,” acrescentou.