EQUIPA DA ADF
Numa série de desenhos animados de propaganda grosseiramente produzidos para circular na internet e nas redes sociais da África Ocidental, a França é retratada como uma ratazana gigante predadora, um monte de zombies e uma cobra gigantesca. Todas estas ameaças estão a atacar soldados africanos justos, com poderosos mercenários russos do Grupo Wagner a virem em socorro dos africanos.
No final de um desenho animado, uma personagem diz: “Ouvi dizer que a Costa do Marfim também precisa de ajuda.” Uma outra banda desenhada começa com um francês malvado a declarar: “A Costa do Marfim pertence à França!”
A Rússia não esconde o seu desejo de expandir a sua influência militar em novas partes de África, incluindo a Costa do Marfim. O Grupo Wagner substituiu a França como a principal força de segurança estrangeira nas antigas colónias francesas do Mali e da República Centro-Africana (RCA). O jornal The Globe and Mail, do Canadá, informa que a Rússia também está à procura de possíveis acordos para fazer o mesmo no Burquina Faso, no Chade e na Guiné.
A verdadeira recompensa da influência russa, porém, seria a Costa do Marfim, o centro económico e comercial em rápido crescimento que evoluiu para uma potência económica regional. As empresas estão a estabelecer ali as suas sedes empresariais, particularmente na capital económica oficial de Abidjan, uma importante cidade portuária na costa ocidental de África.
Embora não haja qualquer indicação de que a Costa do Marfim tenha qualquer interesse numa parceria com os mercenários da Rússia, uma fonte anónima do governo costa-marfinense disse ao jornal The Globe and Mail que o Grupo Wagner está a exercer pressões para ter acesso ao país.
Estão em curso operações de influência russa na Costa do Marfim, disse ao jornal. Ele citou o exemplo de um costa-marfinense que foi antigo prisioneiro na Rússia e que se voluntariou para se juntar a uma unidade do Grupo Wagner na Ucrânia. A sua história foi amplamente divulgada na Rússia. “O facto de o Grupo Wagner o ter apresentado como um troféu — isso mostra que a Costa do Marfim é um dos seus alvos,” disse o funcionário ao jornal.
O Grupo Wagner tem sido um factor importante na guerra da Rússia contra a Ucrânia. Recrutou milhares de novas tropas, permitindo que o grupo conquistasse vitórias militares na região de Donbas, incluindo a cidade de Soledar, informou o jornal Politico.
Em África, o Grupo Wagner está firmemente integrado na RCA, onde faz agora parte da equipa de segurança presidencial do país. O Grupo Wagner também apoiou golpes de Estado no Mali, no Burquina Faso e na Guiné. Em cada um dos casos, o Grupo Wagner tem explorado a influência da França no continente. E em cada país, o Grupo Wagner organizou-se para explorar os vastos recursos naturais como parte dos seus honorários.
“Cada vez mais, parece que o Grupo Wagner tem os seus olhos postos nos três outros países da África Ocidental: Libéria, Serra Leoa e Costa do Marfim,” escreveu o investigador Michael Rubin para o American Enterprise Institute, em Fevereiro. “Cada um deles sofreu focos de instabilidade no passado. Enquanto, muitas vezes, as missões de manutenção da paz das Nações Unidas custam bilhões de dólares, se prolongam durante décadas e alcançam apenas resultados marginais, a Libéria, a Serra Leoa e a Costa do Marfim são os três países que a ONU aponta como a excepção que prova a regra.”
As raízes dos problemas actuais na África Ocidental iniciaram com uma revolta de extremistas no Mali em 2012, que desde então se estendeu ao Burquina Faso e ao Níger. A ONU diz que os combates já fizeram 2,5 milhões de deslocados. O Mali tem sido a base para o envolvimento da Rússia com a África Ocidental, com cerca de 1.000 mercenários do Grupo Wagner a chegarem no início de 2022. Desde então, tem-se envolvido em combate com grupos de milícias islâmicas e foi acusado de massacrar centenas de pessoas, incluindo civis.
Toda a região, incluindo Benin, Costa do Marfim e Togo, teme agora uma crescente ameaça. Porém, os três países não ficaram de braços cruzados.
O exército da Costa do Marfim está bem posicionado para se tornar um actor importante na luta regional contra os rebeldes, disse um funcionário do Ministério da Defesa da França à Reuters. O funcionário também elogiou o “impressionante” investimento do Benin no reforço das suas forças armadas.
Outros observaram que a Costa do Marfim e o Níger precisam de afirmar-se como forças orientadoras na região.
“A Costa do Marfim e o Níger podem aproveitar a oportunidade para se posicionarem como alternativas para serem os novos países no coração da presença ocidental e francesa na luta contra o terrorismo,” disse à Reuters o historiador e analista de defesa costa-marfinense, Arthur Banga.