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Os grupos rebeldes da República Centro-Africana (RCA) estão a entrar em confrontos com os mercenários do Grupo Wagner da Rússia, por causa do acesso às minas ricas daquele país.
Vários relatórios indicam um recente aumento nos confrontos, incluindo uma emboscada em que sete mercenários do Grupo Wagner morreram.
Ahmadou Ali, um líder sénior da rebelde Coligação dos Patriotas pela Mudança (CPC), reivindicou o ataque de Janeiro, no nordeste da RCA, próximo da fronteira com o Sudão.
“Eles caíram na armadilha,” disse ao The Guardian. “Nós perdemos dois [mortos] e muitos ficaram feridos, mas os derrotamos e confiscamos muitos camiões militares.”
Diferentemente de muitas outras escaramuças à volta de minas de ouro e diamante no ano passado, as forças do governo da RCA não estavam envolvidas nos confrontos de Janeiro.
“Foi uma batalha entre nós e os russos,” disse Ali. “Eles apenas utilizam as tropas do governo para legitimar as coisas.”
O Grupo Wagner, uma empresa internacional de mercenários com apoio directo do Kremlin, muitas vezes, leva a cabo iniciativas da política estrangeira russa no continente. Enquanto os mercenários tipicamente apoiam governos frágeis, a sua parceria veio a um custo terrível para os civis.
As Nações Unidas e os grupos de defesa dos direitos humanos acusam os mercenários do Grupo Wagner de massacres, execuções sumárias, torturas e outras atrocidades.
Os operativos russos infiltraram-se no governo da RCA, desde 2017, quando o Grupo Wagner ajudou a impedir as tentativas dos rebeldes de deporem o Presidente Faustin-Archange Touadéra.
O Grupo Wagner possui uma força de aproximadamente 1.000 operativos na RCA. O seu foco tem sido o uso de concessões mineiras e operações de contrabando para ajudar a financiar a Rússia na sua guerra na Ucrânia, apesar das pesadas sanções internacionais.
Utilizando armamento pesado, drones e helicópteros, os combatentes do Grupo Wagner, várias vezes, entraram em confrontos com e mataram civis por causa dos recursos naturais da RCA, que fornecem meios de subsistência para muitos.
Catrina Doxsee, uma especialista em ameaças transnacionais, no grupo de reflexão do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse que os mercenários expandiram significativamente os seus esforços de mineração no ano passado.
“Estes novos desenvolvimentos que estão a seguir indicam planos a longo prazo para a mina,” disse ela ao Politico, que comunicou que os lucros da mineração do Grupo Wagner podem aproximar-se a 1 bilhão de dólares.
“O facto de que eles estejam a criar uma operação mineira em expansão, a criar estes planos a longo prazo, penso que realmente indica o quão integrados estão a tornar-se com o exército local e o nível de dependência que o governo da RCA tem deles.”
Enrica Picco, directora de projectos da África Central para o Grupo Internacional da Crise e antiga membro do painel de especialistas da ONU sobre a RCA, disse que a movimentação do Grupo Wagner para zonas ao redor das fronteiras com Camarões, Chade e Sudão uniu facções rebeldes.
“Isso realmente despertou tensões entre os grupos armados que procuravam proteger as suas últimas fontes de receitas no norte do país e as forças do governo e seus aliados russos,” disse Picco à Bloomberg.
O Grupo Wagner não controla por completo todos os locais de mineração, disse ela, e ainda existem lutas em vários deles.
Abdu Buda, porta-voz de um dos grupos rebeldes que compõe a CPC, disse que confrontos intensos ocorrem no nordeste da RCA.
“Existem muitos recursos nesta área,” disse à Bloomberg.
Acrescentou que as forças rebeldes conseguiram várias vitórias desde Novembro de 2022, matando mercenários do Grupo Wagner e assumindo territórios no leste, oeste e no sul da RCA.
Ele afirmou que os rebeldes se encontravam a 450 quilómetros da capital, Bangui, algo que o governo da RCA refutou.
Um estudo feito pelo Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos concluiu que os mercenários do Grupo Wagner tiveram como alvo civis, na RCA, em 52% dos casos de violência política naquele país.
A Human Rights Watch acusa o Grupo Wagner de perpetrar “execuções sumárias, torturas e agressão física contra civis, desde 2019.”
“Existem provas convincentes de que forças identificadas como sendo russas que apoiavam o governo da República Centro-Africana cometeram graves abusos contra civis, com completa impunidade,” a directora de crise e conflitos daquela organização, Ida Sawyer, disse num comunicado, em 2022.
“A falha do governo da República Centro-Africana e dos seus parceiros de não denunciarem de forma decisiva estes abusos e de não identificar e processar aqueles que foram responsáveis irá mais provavelmente alimentar mais crimes em África e em outros lugares.”
A coligação de rebeldes da CPC comprometeu-se em continuar a lutar.
“Os russos assumiram o controlo do país,” disse Ali. “Eles estão em todos os lugares. Guardam as fronteiras e estão em todos os lugares onde haja recursos [valiosos].
“Eles roubam todos os nossos recursos.”