EQUIPA DA ADF
Começou como uma pequena ideia entre dois médicos residentes nos Estados Unidos que queriam ajudar a sua terra natal, Sudão, com uma resposta à COVID-19 baseada na comunidade.
O Dr. Reem Ahmed, da Universidade de Emory, Geórgia, e o Dr. Nada Fadul, da Universidade de Nebraska, reuniram-se nos primeiros dias da pandemia enquanto trabalhavam para grupos de advocacia, como a Associação Médica Sudanesa-Americana e a Coligação de Organizações Sudanesas Contra a COVID-19.
Eles ajudaram a responder à primeira vaga, através da angariação de fundos e da coordenação do envio de equipamento de protecção individual, kits de testagem, instalação de sistemas de oxigénio, em três hospitais, e sistemas de descontaminação ultravioleta, em oito centros de isolamento. Eles organizaram uma formação com currículo virtual em três universidades sudanesas.
Apesar de estarem há mais de 11.000 quilómetros de distância, eles reconheceram o impacto que a sua experiência como médicos podia ter na sua terra natal.
“Começámos com um lançamento de ideias entre nós sobre como podíamos ajudar a gerir os casos ligeiros a graves,” disse Ahmed à ADF. “Pensamos em utilizar o recurso humano de todos os estudantes das escolas e universidades de medicina que tinham sido todas encerradas por causa da pandemia.”
O Ministério de Saúde do Uganda descreveu a situação como sendo dramática.
O país teve o registo de 36.347 casos confirmados de COVID-19 e 2.737 mortes até ao dia 20 de Junho, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, mas o Sudão realizou apenas 254.875 testes entre a sua população de 43 milhões de habitantes.
“Isso é apenas a ponta do iceberg em comparação com o que está a acontecer nas zonas rurais e remotas do país,” disse Fadul à ADF. “O país estava completamente desprevenido. O sistema de saúde foi destruído pela ditadura anterior.
“Começámos a ouvir histórias sobre pessoas que sabiam que tinham COVID, mas que se recusavam a fazer o teste, saindo mesmo assim, indo para funerais de pacientes com COVID. Quanto mais anúncios necrológicos eu via, mais compreendia que a segunda vaga estava a atingir-nos de forma muito forte. Foi absolutamente terrível.”
A criação de Ahmed e Fadul foi a Equipa de Resposta Médica Comunitária (CMRT, na sigla inglesa), uma iniciativa multifacetada que forma e envia estudantes sudaneses com antecedentes médicos pelo país, para tratar de pacientes da COVID-19 nas suas casas.
Ahmed, Fadul e outros especialistas do mundo inteiro realizam sessões de orientação e de formação virtuais com um grupo de 40 estudantes. Estes são pagos para trabalhar no Sudão como formadores de uma equipa maior de 150 voluntários que implementam o programa, bairro por bairro.
“No começo, entramos em contacto com estudantes de medicina e depois um estudante colocou-nos em contacto com uma rede de estudantes — de enfermagem, farmácia, estomatologia,” disse Fadul. “Foi óptimo, porque não são todos os bairros que têm estudantes de medicina. Talvez um possa ter um estudante de farmácia, um outro de enfermagem, e mais. Depois temos uma equipa.”
Os estudantes fizeram um panfleto e divulgaram a informação nas redes sociais. Fadul e Ahmed fizeram uma apresentação ao vivo para cerca de 200 estudantes que se inscreveram em massa.
“Precisávamos de formadores no terreno que conhecem o sistema de saúde e como as coisas funcionam,” disse Fadul. “No início, eram 10 indivíduos realmente altamente seleccionados, bons líderes. Começamos a formá-los. Demos-lhes o conhecimento médico, mas dissemos, ‘Queremos que nos digam como isto irá funcionar no terreno.’
“Ficou bem claro que precisávamos de aceitação por parte dos ministérios e precisávamos de aliados nas comunidades. Precisávamos de fazer parcerias com os líderes, como o imã da mesquita local, um médico local, o comité de resistência ou o comité de serviços comunitários do bairro.”
Os estudantes criaram outras redes e fortaleceram as colaborações já existentes. Depois recrutaram voluntários em 50 bairros para iniciar o programa.
Enquanto Ahmed e Fadul assistiam ao crescimento, a CMRT superou as suas maiores expectativas.
“Temos uma equipa maravilhosa,” disse Ahmed. “É como uma bola de neve que começou pequena, todos estes estudantes brilhantes de medicina a fazerem não apenas aquilo que lhes pedimos, mas agora a pensarem connosco como progredir mais, expandir, fazer outras promoções de saúde, ajudar com campanhas de vacinação.”
A CMRT começou em Maio e tem financiamento para continuar até Março de 2022, quando se prevê que faça uma transição no seu modelo para abordar os cuidados pré-natais, doenças cardiovasculares e outros tratamentos médicos.
“Não se trata apenas de COVID-19; este projecto é definitivamente mais do que isso,” disse Ahmed. “Está a ajudar toda uma geração a encontrar-se, a aprimorar-se como líderes e a ajudar as suas comunidades. Quando converso com eles, fico ciente de como posso preparar esta jovem geração para liderar no futuro.”