EQUIPA DA ADF
Enquanto a mais contagiosa, mas menos mortal variante Ómicron da COVID-19 começa a retroceder em todo o mundo, os cientistas e os profissionais de saúde continuam a descobrir novas facetas da doença. Os investigadores agora estão a indicar que a COVID-19 pode realizar mutações no corpo de pacientes com sistemas imunológicos enfraquecido, como pessoas com HIV não tratado.
Em Janeiro, surgiram relatos da imprensa sobre uma mulher de 36 anos de idade, de Durban, África do Sul, que estava a ter dificuldades de manter o seu tratamento médico para o HIV. Com o seu sistema imunológico comprometido, ela contraiu a COVID-19 e viveu com a doença durante sete meses. Durante esse tempo, afirmam os investigadores, o vírus passou por 32 mutações no seu corpo.
Cientistas da Universidade de Stellenbosch e da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, comunicaram que uma mulher de 22 anos de idade que sofria de HIV tratado de forma inadequada ficou com a COVID-19 durante nove meses e desenvolveu 21 mutações no seu corpo.
Apesar dos avanços no tratamento de HIV e SIDA, o qual permite que os pacientes vivam vidas relativamente normais, muitos pacientes de HIV na África do Sul e em outras partes do mundo continuam sem tratamento. Este tem sido o caso particularmente dos últimos dois anos, uma vez que o tratamento e a prevenção da COVID-19 ofuscaram o tratamento de outras doenças, como HIV, tuberculose e malária. A pandemia impediu a prestação de serviços de saúde e retardou anos de progresso feitos na luta contra outras doenças.
“A pandemia da COVID-19 trouxe efeitos em cadeia escondidos e perigosos para a saúde de África,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África, disse durante uma conferência de imprensa, em Novembro de 2020. “Com os recursos da saúde fortemente centrados para a COVID-19, assim como o receio e as restrições no dia-a-dia das pessoas, as populações vulneráveis enfrentam o risco crescente de caírem no esquecimento.”
Mais de um ano depois do alerta de Moeti, os investigadores estão a descobrir que os testes e a prevenção da COVID-19 continuam a retirar recursos das outras doenças em todo o mundo. Um relatório de Janeiro de 2022, feito pelo jornal BMC Women’s Health, alertou sobre os “danos colaterais a médio e longo prazo” em outras partes do sector da saúde como resultado da pandemia.
“A situação é especialmente delicada em países de baixa e média renda onde os sistemas de saúde pública e de assistência social subdesenvolvidos estão a ser colocados sob mais pressão ainda,” lê-se no relatório.
Na África do Sul, estima-se que 8 milhões de pessoas — 13% da população — agora vivem com o HIV. O melhor tratamento para a doença, os medicamentos anti-retrovirais, é altamente eficaz e permite que os sistemas imunológicos dos pacientes funcionem normalmente. Mas os anti-retrovirais não são uma cura e devem ser tomados de forma consistente. Os investigadores afirmam que 3,6 milhões de sul-africanos ou tem a doença sem saber ou não estão num plano de tratamento consistente.
Em Janeiro de 2022, os investigadores da Universidade Johns Hopkins indicaram que pessoas com HIV têm um maior risco de contrair a COVID-19 do que aquelas que não têm HIV.
Os investigadores da Espanha concluíram que as pessoas com HIV são mais propensas a experimentar uma COVID-19 grave do que os pacientes que não tenham HIV. Mas os investigadores afirmam que uma conclusão mais firme ainda não é possível por causa da forma como o estudo foi concebido e das dificuldades de encontrar grupos adequados para efeitos de comparação.
Mesmo assim, os cientistas continuam preocupados com o facto de que as novas variantes da COVID-19 possam evoluir e serem transmitidas por pacientes com sistemas imunológicos comprometidos causados por HIV não diagnosticado ou sem tratamento adequado.
“Isso significa uma maior reorganização dos serviços de saúde, porque é difícil encontrar essas pessoas,” disse o Dr. Fareed Abdullah, do Conselho Sul-africano de Pesquisas Médicas, conforme reportado pelo Sky News. “Como é possível fazer o diagnóstico em pessoas como essas? Mas é para lá onde a medicina moderna nos deve levar, e rapidamente.”