EQUIPA DA ADF
José Dos Santos estava desesperado a precisar de oxigénio depois de lutar com a COVID-19 por três dias. A sua esposa, Dominique, levou-o de carro para a Midstream Mediclinic, no sul de Pretória, na África do Sul, onde ficou a saber que José tinha 5% de probabilidade de viver.
Depois de José ter perdido a consciência, ele foi transferido para a unidade de cuidados intensivos. Foi lá onde Dominique conheceu o Dr. Emmanuel Taban, que já foi um homem sem-abrigo e refugiado da guerra civil do Sudão, agora um dos poucos pulmonologistas da África do Sul, um especialista em doenças respiratórias.
Taban disse a Dominique que ia realizar um procedimento conhecido como broncoscopia de fibra óptica flexível, uma técnica que remove muco das vias respiratórias dos pacientes para ajudá-los a respirar. Aquele tratamento revolucionário da COVID-19 funcionou.
“Nesse dia, eu soube que o que o Dr. Taban tinha feito tinha trazido [José] de volta para nós,” disse Dominique à Carte Blanche, um programa de notícias sul-africano. “Em menos de cinco dias, ele estava fora do ventilador e era capaz de respirar sozinho.”
“A nova intervenção e o novo procedimento salvaram a minha vida,” disse José.
O trabalho de Taban em pacientes da COVID-19 em estado crítico — e a sua recuperação inspiradora de um passado marcado por ser alguém sem abrigo, pelo desespero e pela perseguição — ganhou notoriedade em toda a África e em outros lugares. A revista New African recentemente nomeou-o como uma das 100 pessoas mais influentes do continente, ao lado de figuras como o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa; Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde; e a estrela da música nigeriana Bruna Boy.
Nascido numa pequena aldeia do Sudão do Sul, Taban disse à Carte Blanche que a sua infância era feliz até que a violência desalojou a sua família. O exército do Sudão do Sul prendeu-o quando tinha 14 anos de idade e acusou-o de ser um espião rebelde. Foi posto na prisão dos Serviços Nacionais de Segurança, em Juba. As instalações, também conhecidas como “Casa Branca,” destacam-se por apresentarem condições desumanas.
“Passei cerca de seis semanas na ‘Casa Branca.’ Foi lá onde fui torturado. Foi uma experiência horrível,” Taban, um homem de fala mansa, disse à Carte Blanche.
Ele fugiu para a Eritreia depois que saiu da prisão. Foi detido por pouco tempo por ter entrado no país de forma ilegal e viveu nas ruas durante dois anos. Eventualmente, acabou por atravessar para a Etiópia antes de viajar 2.800 quilómetros de machimbombo e a pé, para a casa de um tio, no Quénia. Taban ficou devastado quando o seu tio mandou-o embora e disse-lhe para ir para o acampamento de refugiados das Nações Unidas.
“Eu estava a chorar, estava chateado,” disse ele à Carte Blanche. “Foi nessa altura que decidi que precisava de encontrar a minha própria identidade. Eu sabia que estava sozinho no mundo e tinha de enfrentar a realidade sozinho.”
Teve a inspiração para viajar mais para o sul depois de ler “Fabricado na África do Sul” numa lata de coca-cola. Ao longo desta jornada, ele foi impulsionado pela ambição de seguir a medicina depois de um enfermeiro ter-lhe dito que um dia ele seria um médico.
“A possibilidade de ser capaz de sobreviver para além da infância foi difícil de imaginar — sem falar de ser capaz de estudar,” disse Taban numa reportagem da goodthingsguy.com.
Na África do Sul, criou amizade com dois missionários do Sudão do Sul que o ajudaram a pagar pelos seus estudos na Universidade Médica da África Austral, na Universidade de Pretória e na Universidade de Witwatersrand. Ele estudou pulmonologia no sistema universitário Hermes, na Europa, e ganhou um diploma em ultra-sonografia endobrônquica e cancro do pulmão, tendo estagiado na Universidade de Amsterdão, de acordo com a Voz da América (VOA).
Não estando mais sozinho no mundo, Taban e sua esposa, Motheo Phalatse Taban, uma fisioterapeuta, têm três filhos.
Quando a Charte Blanche perguntou o que ela mais gostava no seu marido, Motheo respondeu: “Ele é tão motivado. A ambição, a paixão que ele tem pelo trabalho que faz e a compaixão com que trata dos pacientes.”
Essas características são equiparadas ao amor e a preocupação que ele tem pelo Sudão do Sul, onde espera um dia poder ajudar a construir mais escolas.
“Precisamos de certificar que as crianças do Sudão do Sul ouçam a [minha] história de que existe uma criança que antes era sem-abrigo, que chegou a pedir comida nas ruas, [mas] fez algo grande no mundo,” disse Taban à VOA.