EQUIPA DA ADF
O líder da comunidade Tuaregue, Sheikh Mohamed, e a sua família estavam entre as centenas de residentes de Talataye que fugiram das suas casas após o ataque dos militantes afiliados ao grupo do Estado Islâmico, em Setembro de 2022.
Foi parte de um surto de violência muito familiar no Mali, onde vários grupos extremistas controlam grandes partes das regiões rurais do norte e do centro.
“As nossas casas foram queimadas e o gado morto pelo Daesh,” disse, utilizando o acrónimo árabe do Estado Islâmico. “Perdemos tudo.”
Mohamed e a sua família percorreram 145 quilómetros para o oeste, através do deserto, até Gao, a capital regional, onde se instalaram juntamente com milhares de outras pessoas em tendas improvisadas no campo de Sosso-Koira.
Aí conheceu Ulf Laessing, director do Programa Sahel, do grupo de reflexão Konrad Adenauer Stiftung, e partilhou a sua história para o artigo de Laessing de 3 de Maio na revista New Lines.
Como a maioria das pessoas deslocadas, Mohamed e a sua família dependem da ajuda humanitária estrangeira. Os seus filhos frequentam a escola numa tenda fornecida pelas Nações Unidas.
Embora o governo militar do Mali tenha entrado em conflito com a ONU e a tenha criticado, Mohamed conta-se entre os cidadãos locais que temem a possibilidade de uma retirada das forças de manutenção da paz da ONU.
A missão no Mali, denominada MINUSMA, tem-se debatido com os civis que está mandatada para proteger dos combatentes extremistas que têm travado uma insurgência desde 2012.
A MINUSMA tem também uma relação contenciosa com o governo de transição da junta militar, que restringiu os movimentos da missão no ar e no solo.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, considerou a MINUSMA “um dos ambientes operacionais mais difíceis para a manutenção da paz.”
Uma das maiores missões da ONU no mundo, a MINUSMA ajudou a estabilizar as principais cidades do norte e do centro do Mali, mas também se tornou a missão de manutenção da paz mais perigosa, com 281 soldados mortos desde a sua implantação em 2013.
Com desafios em todas as direcções e um orçamento líder das Nações Unidas de 1,26 bilhões de dólares por ano, o futuro da MINUSMA é incerto.
Os peritos da ONU e os líderes do Conselho de Segurança propuseram alterações significativas ao mandato da MINUSMA, que expira a 30 de Junho.
A missão de manutenção da paz, que conta com cerca de 14.000 efectivos, também espera enfrentar uma escassez crítica de pessoal com a retirada iminente de quase 3.000 soldados do Benim, Costa do Marfim, Alemanha e Inglaterra.
A insegurança agravou-se desde que a junta convidou os infames mercenários russos do Grupo Wagner a trabalhar com as suas forças armadas em operações antiterroristas, em Dezembro de 2021.
Os ataques a civis e às forças de manutenção da paz da ONU aumentaram no centro do Mali, onde os militares malianos e os mercenários concentraram os seus esforços.
Os comandantes da MINUSMA disseram a Laessing que “a criminalidade, a insegurança, a falta de lei e a má governação aumentaram nos últimos anos.”
“Grandes cidades como Gao e Tombuctu, onde as forças de manutenção da paz da ONU estão baseadas, mantiveram algum sentido de normalidade até agora,” escreveu. “A brutalidade relatada dos mercenários do Grupo Wagner levou mais aldeões para as mãos dos jihadistas, que afirmam oferecer protecção se as suas regras forem seguidas.”
Na ausência de serviços governamentais e de uma presença militar nas zonas rurais do Mali, os extremistas estão a conquistar mais território e parecem estar preparados para o manter e governar.
A deterioração da situação em termos de segurança, associada ao futuro incerto da MINUSMA, afectou tanto os habitantes locais como o pessoal estrangeiro.
“Se a MINUSMA sair, Gao e outras cidades deixarão de ser seguras,” disse o director de uma organização não-governamental local a Laessing. “Até há células adormecidas em Gao a vigiar a cidade, mas ainda não estão a fazer grande coisa. Mas isso pode mudar.”