EQUIPA DA ADF
Restauração da segurança foi a principal justificativa utilizada pelos líderes golpistas no Burquina Faso e no Mali quando assumiram o poder. Novos dados demonstram que eles não estão a cumprir tais promessas.
Na verdade, ambos países a meio do ano estão a caminho de experimentar o seu ano mais mortal desde que começou o conflito do Sahel há uma década, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
No Mali, a violência dos grupos extremistas está a caminho de registar um aumento em 70% em 2022 e as mortes de civis causadas por violência extrema no primeiro trimestre do ano foram superiores a quaisquer anos precedentes, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África.
O Burquina Faso também está a caminho de exceder a violência do ano passado. Desde Julho, a violência deixou cerca de 6.700 pessoas deslocadas na região de Boucle du Mouhoun daquele país, de acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras.
O Mali já registou três golpes militares desde 2012, incluindo dois desde 2020. A presença de mercenários do Grupo Wagner da Rússia está a levar a um aumento de instabilidade depois de aproximadamente 1.000 militantes do Grupo Wagner terem inundado o país no ano passado.
Enquanto a Rússia entra cada vez mais na luta, outras tropas estrangeiras estão a abandonar.
A última unidade do exército francês saiu do Mali no dia 15 de Agosto, depois de uma missão de 9 anos para combater o extremismo nas regiões norte e centro daquele país. Semanas antes, o exército alemão suspendeu as operações de reconhecimento e transporte no Mali, depois de a junta ter bloqueado a rotatividade das tropas alemãs que contribuíram para uma força de segurança multinacional.
“Deve-se temer o facto de que a situação naquele ponto irá intensificar-se mais nos próximos meses,” Ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, disse à imprensa no dia 25 de Agosto. “É por isso que é tão importante que trabalhemos contra a narrativa russa e façamos tudo juntos para minimizar os efeitos terríveis desta guerra quanto pudermos.”
“Clima Venenoso”
A detenção de aproximadamente 50 soldados da Costa do Marfim, no Mali, em Julho, destacou o isolamento da junta em relação aos países vizinhos. Os soldados costa-marfinenses foram considerados “mercenários” pelas autoridades malianas. A Costa do Marfim disse que eles fazem parte de uma equipa de apoio logístico.
Em meio a reacções, o Mali temporariamente suspendeu a rotatividade das tropas da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA). A missão da ONU no Mali inclui 12.000 tropas e 1.700 agentes da polícia que procuram ajudar a estabilizar aquele país desde 2013. A rotatividade simplificada das tropas da ONU, no Mali, continuou no dia 15 de Agosto.
Alioune Tine, um especialista independente da ONU em matérias de direitos humanos no Mali, observou um reaparecimento da violência extremista e o aumento de ataques nas regiões norte e centro daquele país e nos arredores da cidade capital, Bamako, depois de uma visita de 10 dias, em meados de Agosto.
“Existe um clima venenoso marcado por suspeita e falta de confiança, com uma diminuição continua do espaço cívico, endurecimento das autoridades transicionais malianas, e o mal-estar não poupa os parceiros internacionais,” disse Tine na página da internet da ONU.
‘Profundo Desrespeito’ pela Vida
Os grupos extremistas do Burquina Faso matam, executam, violam e pilham cada vez mais desde o golpe de Estado de Janeiro de 2022, comunicou a Human Rights Watch. Os grupos de militantes também aumentaram os ataques contra professores, alunos e escolas.
“Os grupos armados islamitas estão a demonstrar dia após dia o seu profundo desrespeito pelas vidas e pelos meios de subsistência dos civis no Burquina Faso,” Corrine Dufka, directora da Human Rights Watch no Sahel, disse na página da internet da organização. “As forças governamentais e as milícias associadas devem, de forma escrupulosa, observar as leis internacionais de direitos humanos e humanitárias e acabar com os assassinatos em nome da segurança.”
O grupo terrorista afiliado ao al-Qaeda, Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), levou a cabo mais de 400 ataques em 10 das 13 regiões do Burquina Faso, na primeira metade de 2022. O grupo esteve envolvido em cerca de 70% dos eventos de violência registados naquele país e levou a cabo 5 vezes mais ataques contra civis do que o Estado Islâmico no Grande Saara, de acordo com o ACLED.
No dia 27 de Agosto, centenas de civis foram para as ruas de Dori, para protestar contra a insegurança. Vários manifestantes empunhavam uma bandeira com as inscrições: “O Sahel foi abandonado. Encontra-se em agonia .”
“O Sahel está unido ao dizer ‘não’ à incompetência das autoridades. O povo quer dormir e acordar em paz ,” Yaya Dicko, um coordenador do protesto, disse à Rádio France Internacionale.