ADF STAFF
A violência no leste da República Democrática do Congo (RDC) continua a aumentar, numa altura em que os rebeldes procuram explorar as divisões técnicas.
Um novo relatório da organização de advocacia internacional, Human Rights Watch (HRW), revelou que os ataques perpetrados pelo grupo conhecido como Movimento M23 tem em vista exacerbar as tensões étnicas entre os Hutus e Tutsis.
O investigador sénior da HRW, Thomas Fessy, que escreveu o relatório do dia 6 de Fevereiro, disse que se trata de uma acção calculada por parte do M23.
“O M23 é essencialmente dirigido por Tutsis e eles tem estado cada vez mais a ostentar o seu ‘bilhete de identidade,’ afirmando basicamente que ‘Estamos aqui para proteger a comunidade Tutsi, que têm sido alvo,’” disse numa entrevista com a televisão France 24.
“Embora tenha havido discriminação subjacente ao longo dos anos e exista um histórico de discriminação e perguntas sobre a identidade na região, isso não justifica, de nenhuma forma, os crimes de guerra que o grupo rebelde está a cometer no Kivu do Norte.”
Centenas de milhares de pessoas fugiram das suas residências, incluindo dezenas de milhares que procuram relativa segurança em acampamentos de refugiados informais nas regiões montanhosas de Kanyaruchinya, que dá acesso à capital do Kivu do Norte, Goma, na região sul.
Em finais de 2022, as Nações Unidas e vários grupos de defesa de direitos humanos investigaram os massacres nas aldeias de Kishishe e Bambo, que se encontram na área predominantemente Hutu da chefatura de Bwito, perto da fronteira da RDC com o Ruanda.
Os rebeldes do M23 realizaram execuções sumárias de pelo menos 171 civis, de acordo com a ONU. No seu relatório, a HRW disse que os combatentes do M23 mataram mais 10 civis, quando procuravam por membros da milícia de autodefesa daquela região.
Um outro grupo de defesa de direitos humanos, a Amnistia Internacional comunicou, no dia 17 de Fevereiro, que os rebeldes do M23, violaram sexualmente pelo menos 66 mulheres e raparigas, principalmente em Kishishe, por volta da altura dos massacres.
O relatório da HRW também documentou várias situações de recrutamentos forçados de civis, para engrossar as fileiras do M23, como combatentes da linha da frente, carregadores e trabalhadores do acampamento.
“Em várias partes do território do Kivu do Norte, eles estão basicamente a deixar para trás um rasto crescente de crimes de guerra,” disse Fessy.
O M23, um grupo rebelde dirigido por Tutsis e que esteve inactivo por 10 anos, ressurgiu em Novembro de 2021, com alegações de que a RDC tinha ignorado uma promessa de integrar os seus combatentes no exército.
Uma ofensiva rebelde, levada a cabo em 2022, incluiu uma série de ataques contra as forças congolesas, quando o M23 assumiu o controlo de faixas de terra do Kivu do Norte, movimentando-se em direcção a Goma.
A RDC acusou o seu vizinho Ruanda de fornecer armamento e suprimentos ao M23, uma acusação apoiada por especialistas independentes da ONU, mas refutada pelo Ruanda.
Em finais de 2022, a Comunidade da África Oriental (CAO) criou uma força regional destinada a estabilizar o leste da RDC. A maior parte da força já trabalhou em operações de manutenção da paz, mas ainda não recebeu autorização para atacar o M23.
Durante uma cimeira, que teve lugar no dia 17 de Fevereiro, em Adis Abeba, os líderes da CAO apelaram para um cessar-fogo e exigiram que todos os grupos armados se retirassem da região leste da RDC até ao fim de Março.
Dias depois, contudo, os conflitos reiniciaram perto de Kitshanga, a cerca de 100 quilómetros do noroeste da capital Goma, no Kivu do Norte.
“Eles são rebeldes, eles não se importam com cimeiras,” o líder da sociedade civil local, Toby Kahangu, disse à Agence France-Presse.
Os especialistas estão a alertar que fomentar tensões étnicas no leste da RDC apenas irá intensificar a violência e a brutalidade.
Como resultado dos recentes confrontos, centenas de civis de origem Tutsi, ao redor de Kitshanga, fugiram por medo de represálias. Eles disseram à HRW que as milícias locais utilizam cada vez mais uma retórica hostil contra eles.
“Quanto mais os rebeldes do M23 atacam e quanto mais avançam, mais somos perseguidos por outras comunidades que nos ligam a eles,” um líder comunitário Tutsi disse à HRW.
Patrick Muyaya, porta-voz do governo da RDC, recusou qualquer colaboração entre o exército congolês e as milícias da autodefesa.
“[A situação] está a assumir uma dimensão étnica em Bwito e Masisi,” um oficial do exército, de alta patente, disse à HRW. “Está a piorar.”