EQUIPA DA ADF
Dez meses depois, novas pesquisas demonstram como a pandemia da COVID-19 está a propagar-se e como ela pode ser combatida.
Pesquisadores acreditam que uma das chaves para lutar contra a pandemia em África será limitar o movimento nas maiores cidades do continente.
Cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, publicaram “Aglomeração e a Formação da Epidemia da COVID-19”, no jornal Nature Medicine. Eles descobriram que, quanto mais as pessoas se locomoveram entre os diferentes bairros e se misturaram com várias outras, mais tempo isso levou para que o surto da COVID-19 atingisse o pico. Em regiões pouco habitadas ou bairros isolados, o surto atingiu rapidamente o pico e depois dissipou-se.
O estudo classificou as 310 maiores cidades do mundo, incluindo 61 em África. Com algumas excepções, a previsão para as maiores cidades de África foi para uma propagação por um longo período, principalmente quando os líderes relaxaram as medidas de confinamento obrigatório e permitiram que os residentes se misturassem nos bairros em vez de permanecerem em comunidades isoladas. Entre as que enfrentaram um longo curso está a cidade de Lagos, na Nigéria, onde o uso da máscara e o distanciamento social estão a diminuir enquanto a pandemia avança.
“As medidas de saúde pública, muitas vezes, estão focalizadas em ‘achatar a curva’, mas esta pesquisa mostra que a forma como a curva se apresenta será muito diferente de cidade para cidade, vila para vila ou mesmo de bairro para bairro,” disse Dr. Moritz Kraemer, Professor Associado do Programa de Genómica da Pandemia, na Escola Oxford Martin. “As medidas devem ser desenvolvidas com esta perspectiva em mente, por exemplo, a pensar como uma intervenção reduz o ciclo de contactos de uma pessoa comum em cada local.”
Propagação Sem Sintomas
Um outro estudo da Universidade de Oxford concluiu que até 40% das pessoas que desenvolvem a COVID-19 podem transmitir o vírus para outras pessoas antes de apresentarem sintomas.
O estudo, que espera a revisão de pares, demonstra a importância do distanciamento social, testagem massiva e rastreamento de contactos quando se trata de conter a propagação do vírus, disseram os autores. A sua pesquisa sugere que o rastreamento de contactos precisa de retroceder muito no tempo — até dois ou três dias antes de a pessoa ter desenvolvido os sintomas. A tecnologia pode ajudar, acreditam eles.
“O rastreamento de contactos via aplicativos para telemóveis, que faz com que o passo de notificação de exposição no rastreamento de contactos seja instantâneo, pode melhorar substancialmente a eficácia do rastreamento manual tradicional,” escreveram os autores do estudo.
Ainda não está claro, diz o estudo, até que ponto as pessoas assintomáticas podem transmitir o vírus. As pessoas assintomáticas estão expostas ao vírus, mas nunca desenvolvem sintomas. Estudos de Moçambique descobriram um número elevado de propagação de COVID-19 assintomática em certas comunidades.
O Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças fez o lançamento de um estudo, a nível continental, para avaliar quantas pessoas transportam anticorpos da COVID-19 sem desenvolverem sintomas e, por conseguinte, serem potenciais propagadoras.
Bochechar Para Tirar o Vírus
Está comprovado que o vírus se propaga através de gotículas libertadas no ar quando as pessoas falam, tossem ou espirram. Quanto maior for a exalação, maior é a potencial dose de vírus que alguém pode emitir.
As máscaras protegem as pessoas ao encaixar essas gotículas e as partículas do vírus que estiverem a seguir nessa boleia, antes de as mesmas entrarem nas narinas ou na boca de uma outra pessoa.
Pesquisadores descobriram uma outra forma de inibir a propagação das partículas do vírus: produtos para a lavagem da boca. Estudos de laboratório demonstram que certos produtos para a lavagem da boca contêm água oxigenada, etanol e outras misturas que virtualmente eliminam as partículas activas do vírus depois de um breve contacto.
Juntamente com os produtos para a lavagem da boca, os pesquisadores testaram uma solução de 1% de champô para bebés, que os cirurgiões geralmente usam para lavar os seios paranasais antes de realizar uma operação. Na maior parte dos casos, os produtos de lavagem da boca e o champô de bebé diluído mataram 99,9% das partículas do vírus depois de um contacto de 30 segundos ou mais.
“Enquanto esperamos que seja desenvolvida uma vacina, os métodos para reduzir a transmissão são necessários,” disse Craig Meyers, prestigiado professor de Microbiologia e Imunologia, na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Pensilvânia, nos Estados Unidos. “Os produtos que testamos estão sempre à disposição e, muitas vezes, já fazem parte da rotina diária das pessoas.”
Os pesquisadores alertam que o produto de lavagem da boca é um remendo, não uma cura. Pode proteger as pessoas em lugares onde as máscaras e o distanciamento social não são práticos como, por exemplo, ir ao dentista. Não está claro por quanto tempo o efeito dura, alertou Meyers.
Na Alemanha, os pesquisadores que estão a trabalhar num estudo semelhante disseram que é preciso mais tempo para ver como o tratamento funciona em pessoas com infecções activas da COVID-19. Eles já começaram a recrutar pacientes para esse estudo.