EQUIPA DA ADF
Aquela que já foi conhecida como um campo de morte para os elefantes de África, a Tanzânia já viu a sua população de elefantes crescer substancialmente nos últimos anos graças, em parte, à melhor protecção contra a caca furtiva e às restrições da venda ilegal de marfim.
Maurus Msuha, director da fauna bravia no Ministério dos Recursos Naturais e Turismo, disse ao grupo ambiental Oxpeckers Internacional que a militarização das operações de combate à caca furtiva e a criação de outros sistemas para confrontar a caca furtiva impulsionaram a mudança.
“Sendo assim, estamos bem na protecção da vida selvagem,” disse Msuha.
Estimativas recentes da população de elefantes da Tanzânia demonstram que aumentou em aproximadamente 40% para mais de 60.000 animais nos últimos cinco anos. O Instituto de Pesquisa de Fauna Bravia da Tanzânia realiza pesquisas aéreas dos maiores animais daquele país para monitorar as mudanças nas populações.
O recente sucesso na expansão das manadas de elefantes da Tanzânia encontra-se em contraste claro com o período entre 2009 e 2014. Os grupos de conservação afirmaram que naqueles anos a caça furtiva ocorria numa “escala industrial.”
Durante aquele período, os relatórios do governo demonstram que a população de elefantes diminuiu em 60%, que são cerca de 60.000 animais.
Em 2014, o governo criou a Autoridade de Gestão da Fauna Bravia da Tanzânia para impulsionar os esforços de combate à caça furtiva. As equipas da autoridade fazem patrulha nas e ao redor das reservas da fauna bravia da Tanzânia e gerem os esforços de interdição no Aeroporto Internacional Julius Nyerere e no porto de Dar-es-Salam.
De acordo com uma revisão de processos judiciais da Oxpeckers e do InfoNile, apreensões de produtos ilegais de origem animal, na Tanzânia, atingiram o pico em 2015 quando as autoridades interceptaram mais de 1.100 partes de animais. Desde essa altura, a caça furtiva e o tráfico de produtos de origem animal reduziram drasticamente. Em 2021, o governo registou 69 apreensões. Até agora, este ano, o número é de 22.
Francis Konde, director interino do Parque Nacional de Katavi, na zona ocidental de Tanzânia, disse que, nos últimos anos, as equipas de combate à caça furtiva seguiram uma abordagem mais agressiva contra os infractores.
“Na maior parte das vezes, prendemo-los e trazemo-los à justiça para que a lei seja cumprida,” disse Konde ao Oxpeckers. “Mas apelamos a população para parar com actos desta natureza, uma vez que estamos bem preparados, e qualquer um que entrar no parque para realizar actos criminosos será preso e levado ao tribunal.”
Na sua investigação, o Oxpeckers e o InfoNile registaram aproximadamente 400 apreensões, confiscações, casos de tribunal e condenações por tráfico de marfim e outras partes de animais nos últimos cinco anos. Os dados são publicados online como parte do projecto #WildEye East Africa daquele grupo.
Em 2015, as medidas repressivas da Tanzânia contra a caça furtiva capturaram uma das mais famosas traficantes daquele país, a cidadã de nacionalidade chinesa, Yang Fenglan, também conhecida como a Rainha do Marfim.
Em 2019, Fenglan e dois tanzanianos foram condenados a 15 anos de prisão por contrabandearem mais de 850 presas de elefantes avaliadas em aproximadamente 6,5 milhões de dólares para fora do país. Tiveram dois anos adicionais por violarem a Lei de Protecção da Fauna Bravia da Tanzânia.
Eles interpuseram um recurso, que perderam em 2020, e continuam na prisão.
A apreensão de Fenglan foi um lembrete do papel que os cartéis internacionais desempenham no tráfico de produtos da fauna bravia de África. Estas operações podem ser difíceis de eliminar mesmo quando os membros são apanhados e condenados à prisão, de acordo com Didi Wamukoya, directora do programa de combate ao tráfico de produtos da fauna bravia da African Wildlife Foundation.
“É difícil identificar e acabar com as redes de tráfico dada a natureza transnacional das suas operações e da fluidez das suas operações,” Wamukoya disse a Oxpeckers.
Enquanto as agências de lei se centram num tipo de tráfico – marfim, por exemplo – os cartéis podem mudar rapidamente para passar a traficar outros materiais como madeira ilegal ou armas, disse Wamukoya.
Estudos recentes demonstram que a abordagem da Tanzânia para a caça furtiva e para o tráfico de marfim está a resultar.
Entre 1998 e 2014, testes de DNA demonstraram que 87 toneladas métricas de marfim confiscadas em todo o mundo podem ser rastreados de volta para a Tanzânia, fazendo com que seja a principal fonte de marfim do continente. De 2015 a 2020, o marfim traficado da Tanzânia baixou para menos de 5 toneladas métricas, de acordo com a Agência de Investigação Ambiental de Londres.
No Parque Nacional de Katavi, o director interino Konde disse que o governo deve uma parte do seu sucesso ao envolvimento dos seus cidadãos nos esforços de conservação.
“Os cidadãos estão completamente envolvidos nas actividades de protecção e nós recebemos deles informação sobre os caçadores furtivos,” disse Konde ao Oxpeckers. “Isso mostra que eles também estão interessados em actividades de conservação de recursos naturais para o benefício de todos.”