EQUIPA DA ADF
A empreendedora queniana, Catherine Wanjoya, assistia às notícias numa tarde quando viu muita sujidade que precisava de limpeza: toneladas de lixo hospitalar da COVID-19 estão a encher os aterros já sobrecarregados em África.
“Alguém tinha recolhido algumas máscaras utilizadas, tinha-as lavado e estava a vendê-las,” disse ela, recordando-se de uma reportagem numa entrevista com a BBC. “Quando deitamos as nossas máscaras utilizadas e outro EPI (equipamento de protecção individual) de uma forma que não é responsável, acabam sendo manuseados por outras pessoas. Essas pessoas podem ficar infectadas, infectar os seus familiares e a propagação ainda continuar.
“Vimos um problema que precisávamos de resolver.”
A gestão do lixo hospitalar extra causado pela pandemia tornou-se um problema para todo o continente.
Antes da COVID-19, África produzia uma média aproximada de 282.000 toneladas de lixo hospitalar anualmente, de acordo com um relatório de gestão de resíduos de 2021 publicado pela Sage, uma revista online de pesquisas.
Durante a pandemia, muitos países africanos registaram um aumento significativo de lixo hospitalar, alguns deles chegando até cinco vezes mais.
O problema recentemente despertou uma resposta por parte dos Escritórios Regionais para África da Organização Mundial de Saúde (OMS).
“A OMS está envolvida em esforços multissectoriais para causar mudanças nos sistemas de gestão de resíduos em África,” técnico principal da OMS, Claude Mangobo, disse num comunicado. “É um processo importante estarmos comprometidos com a saúde do continente e da sua população.”
Os serviços de internamento de pacientes da COVID-19 produzem cerca de 2,5 kg de resíduos por dia, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC).
Aproximadamente 353 milhões de máscaras faciais de uso único são descartadas diariamente na África Subsaariana, cerca de 10,5 bilhões por mês, de acordo com um estudo ganês, publicado na edição de Janeiro de 2022, da revista internacional, Environmental Challenges.
“É absolutamente vital fornecer o EPI correcto para os profissionais de saúde,” disse o director-executivo do Programa de Emergências de Saúde da OMS, Dr. Michael Ryan, num comunicado de Fevereiro de 2022. “Mas também é de vital importância garantir que possam ser utilizados de forma segura sem causar um impacto sobre o meio ambiente.”
Para fazer a monitoria contínua da gestão de resíduos, a OMS irá administrar um questionário online trimestralmente.
O Africa CDC publicou os protocolos de gestão de resíduos em Janeiro de 2022, mas outros estudos continuam a destacar o problema.
Uma recente avaliação da OMS de 10 países africanos demonstrou que apenas quatro tiveram uma classificação elevada na gestão de resíduos da COVID-19, que inclui o manuseamento de seringas usadas, o armazenamento e a remoção de recipientes de resíduos, o registo de ferimentos causados por agulhas e a gestão de áreas de armazenamento de resíduos.
Em Fevereiro, um relatório da OMS sobre a gestão de resíduos de prestação de cuidados de saúde a nível global durante a pandemia concluiu que 60% de instalações de prestação de cuidados de saúde dos países menos desenvolvidos não são “equipadas para manusear os resíduos existentes, muito menos os resíduos adicionais da COVID-19.”
Entre as recomendações da OMS encontram-se incineradores e aterros sanitários bem concebidos.
“Medidas como queimar o lixo numa cova isolada ou enterrar de forma segura no recinto do hospital são preferíveis em relação a deitar de forma indiscriminada ou pior incendiar os resíduos num tambor ou num lugar aberto, causando emissões tóxicas,” afirmou a OMS.
No Quénia, a solução de Wanjoya foi de reequipar a sua empresa, Genesis Care, que anteriormente estava especializada no descarte de produtos sanitários. Ela adaptou os pequenos incineradores da sua empresa para também incinerarem máscaras e luvas.
A Genesis Care, que trabalha com pequenas clínicas que não têm recursos para adquirir grandes incineradores médicos, agora constrói pequenos incineradores que podem incinerar até 80 máscaras por dia e incineradores grandes que podem manusear 20 kg de resíduos de EPI por dia.
Ela espera entrar em parceria com o governo queniano para garantir que as clínicas possam incinerar os resíduos hospitalares e evitar o uso de aterros.
“Se o fizermos [incinerar EPI] na fonte, eles nem sequer chegarão até estas pessoas que os utilizam e revendem para pessoas que nem sequer suspeitam,” disse Wanjoya. “Quando se trata destas máscaras que nós apenas deitamos fora, somos capazes de cuidar deste rapaz ou desta rapariga que recolhem lixo para tentar obter algo valioso para vender e alimentar as suas famílias.
“Para mim, tudo tem a ver com o impacto — garantir que marcamos a diferença na vida de alguém.”